Catto em 'Caminhos Selvagens'
Ivi Maiga Bugrimenko / Divulgação.

Crítica | Catto transforma desilusões em um épico dramático em ‘Caminhos Selvagens’

Após conquistar novos públicos com uma interpretação arrebatadora do repertório de Gal Costa em “Belezas São Coisas Acessas Por Dentro” (2023), Catto dá um novo passo em sua carreira com o lançamento de “Caminhos Selvagens”. Seu sexto álbum e o primeiro inteiramente autoral é uma espécie de renascimento da cantora das cinzas de suas próprias dores e desilusões amorosas.

Ao longo de 8 faixas, a artista gaúcha promove uma catarse com drama e paixão ao expor suas vulnerabilidades em canções intensas, traduzidas em um rock com tons orquestrais, referências pop e melodias tocantes. Aqui, Catto não só atinge um novo nível de maturidade como compositora, mas também como interprete, com vocais deslumbrantes que traduzem uma enxurrada de sentimentos com muita sensibilidade.

A produção afiada da própria Catto, ao lado de Fabio Pinczowski e Jojô Augusto, é um fator essencial que ajuda a contar as histórias de “Caminhos Selvagens”. Em uma jornada de amor, solidão, fragilidade e redenção, é impossível não se conectar com a honestidade e a transparência na qual a artista canta as suas próprias experiências, sem esconder os altos e baixos de quem se entrega ao amor sem pudores.

“Eu Não Aprendi a Perdoar” abre o disco com uma introdução cinematográfica que vai crescendo e ganhando peso ao longo da canção que traz a tona ressentimentos ainda latentes. “Eu Te Amo”, primeiro single divulgado, tem ecos de Marina Lima com uma melodia marcante, um refrão forte e uma letra rasgada que conquista logo de cara.

Em “Solidão É Uma Festa” a cantora expõe toda a sua entrega a um amor conflituoso que a consome e deixa explícito o quanto o quanto suas composições revelam sobre si mesma: “Todas as canções me denunciam / Se repetem sem igual / Como vou viver se ainda sou louca por você / Boy perigoso e mau.” “Para Yuri Todos os Meus Beijos” é um apanhado de memórias ainda do período em que ela morava em Porto Alegre, cidade em que cresceu.

A faixa-título se destaca pela produção orquestral grandiosa, que soa suja em alguns momentos e caminha para um final sublime, e a letra densa com uma melodia impactante composta em parceria com César Lacerda. “Madrigal” é outro grande momento do disco que soa como trilha sonora de um grande épico romântico.

“1001 Noites Is Over” é o início do arco de redenção do disco, com uma reflexão e um questionamento sobre a busca do amor, mesmo com todos os riscos que ele traz: “Pra que será sofrer se amar é por um triz? / Pra que será sofrer de amar?” E ainda traz versos que são repetidos como um mantra: “Eu só quero arrasar e ser feliz / Eu só quero arrasar e ser feliz / Amanhã”. “Leite derramado encerra com a aceitação das dores e das feridas que essa busca trouxe.

Catto se reinventa como artista em “Caminhos Selvagens”, um álbum confessional, intenso e visceral que a faz brilhar ainda mais na composição e na interpretação e mantém sua carreira em um bom movimento criativo após o sucesso como interprete. Contando passagens da sua vida de uma maneira muito honesta, poética e impactante, a cantora apresenta um repertório poderoso que emociona de imediato e tende a ganhar ainda mais camadas com o tempo.

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