O fã da DC acaba de ganhar uma nova série animada para a coleção. Desta vez, longe de figuras carimbadas como Mulher-Maravilha, Superman e Batman, as estrelas são seres monstruosos pouco conhecidos do grande público. Comando das Criaturas (Creature Commandos, no original) é uma série animada original da Max, criada por James Gunn (trilogia “Guardiões da Galáxia” e “Esquadrão Suicida”), que marca o início do novo DCU.
Em 2022, James Gunn e o produtor Peter Safran (que também produziu Comando das Criaturas) receberam a liderança dos Estúdios DC inaugurando uma nova fase no Universo Cinematográfico da DC, chamado DCU. Comando das Criaturas é oficialmente o início deste novo ciclo, que se divide em capítulos, sendo o primeiro deles chamado de “Deuses e Monstros” com um conjunto de dez projetos, entre filmes e séries, conectados entre si.
Se a decisão de começar o novo DCU com uma animação distanciou-se do universo Marvel com seus filmes live-action já icônicos, o roteiro não é assim tão criativo. Comando das Criaturas lembra muito Guardiões da Galáxia com seus protagonistas sendo personagens obscuros que se veem obrigados a unir forças em prol de uma missão.
A série parte do final de Esquadrão Suicida (2021), e agora Amanda Waller (Viola Davis de A Mulher Rei no original; Márcia Morelli na dublagem) não pode mais utilizar prisioneiros humanos em missões perigosas, mas como a proibição não se entende a monstros, caberá a um grupo deles salvar a princesa do Pokolistão da feiticeira Circe (Anya Chalotra, de The Witcher; Rita Ávila), tradicional vilã da Mulher-Maravilha, e seu exército de homens frustrados com o sexo oposto.
Pokolistão é um lugar empobrecido, mas com um belo castelo que abriga seus governantes, os quais têm sotaque russo, além de cavaleiros medievais voadores, prostitutas falando francês e também (por que não?), o berço do monstro de Frankenstein, que na série chama-se Eric, e sua noiva. O país também já existia no universo da DC (sobretudo nas histórias do super-homem), porém existe pouca preocupação em se manter fiel às origens, e como a descrição do lugar sugere, a série caminha para uma bagunça que a princípio até diverte, mas acaba aborrecendo com o tempo.
Noiva (Indira Varma; Márcia Coutinho), Nina Mazursky (Zoë Chao; Luísa Viotti), Dr. Fosfóro (Alan Tudyk; Léo Rabelo) Doninha e Robô Recruta (Sean Gunn; Matheus Perissé) sob o comando de Rick Flag Sr. (Frank Grillo; Hércules Franco), pai do Rick Flag Jr. – morto no longa do Esquadrão Suicida -, se veem às voltas com a defesa da princesa Ilana Rostovic (Maria Bakalova; Thati Carvalho), que pode não ser tão inocente quanto parece, enquanto em episódio atrás de episódio, relembram seus passados.
Todos eles, sem exceção, sofreram tragédias terríveis antes de estarem ali, tão terríveis que no fim, você nem se emociona mais, e só fica imaginando o próximo clichê a riscar da lista (figura paterna/amante cruelmente assassinada? check; criancinhas inocentes morrendo num grande mal entendido? check; família dizimada? check; bullying pesado? check; amigos massacrados? check!).
O enredo é tão puxado para o melodrama forçado e formulaico que até Eric (David Harbour, de Stranger Things; Milton Parisi) que serve de antagonista para a Noiva (ele é apresentado como seu stalker em uma montagem ótima de perseguição através das décadas) ganha sua própria história triste, mas como tudo nesta série não gera muito impacto; já sabíamos que ele era um cara mal, e no final de seu flashback, temos certeza. Sério, nada sobre o desfecho desse episódio faz algum sentido.
Infelizmente, a animação falha em estabelecer uma trama interessante: o mistério envolvendo a princesa tarada e Circe não prende o interesse nem mesmo com todas as reviravoltas, sem falar que a bruxa só participa de uma luta, um desperdício da personagem já que a princesa é muito menos carismática como vilã principal.
A narrativa também tenta emocionar com momentos tristes, porém estes não são tristes por por conta de uma construção de personagem mais profunda, mas porque apelam para o drama fácil, e ao final de sete episódios ainda não há nenhuma identificação com aquelas criaturas ou um conhecimento de sua personalidade além de suas histórias de origem genéricas e os poucos momentos em que interagem entre si.
Aliás, era de se imaginar que o grupo se uniria pela missão e proximidade forçadas, mas a única amizade de fato ali gira em torno de Nina, com a Noiva e o Robô Recruta, e considerando como tudo acabou, ficamos ainda mais carentes de fato de uma conexão de grupo ali, e não uma coleção de indivíduos excêntricos.
Até mesmo a comédia funciona somente em momentos pontuais, como quando descobrimos que o plano de fundo do celular de uma velha é nada menos que um Zac Efron realista seminu, mas no geral é boba, parecendo que foi feita por um adolescente descobrindo um mundo de violência e sexo (nossa, que adulto!) pela primeira vez e perdendo a mão.
É uma pena, pois a animação é boa, com um design de personagem interessante que combina certa seriedade com besteirol, misturando-se muito bem com os cenários mais realistas com toques fantasiosos. O ponto alto da produção são as cenas de luta frenéticas embaladas por uma excelente trilha sonora de músicas alto-astral que contrasta muito bem com o excesso de tripas e sangue na tela.
No final das contas, a reconstrução do Robô Recruta é algo a se comemorar após a sucessão interminável de mortes e tragédias. E ah, o Batman aparece por meio segundo no episódio do caveirinha… O morcegão merecia mais? Com certeza, mas pelo menos em sua rápida aparição ele continua tão épico como sempre.
Em resumo, como série, Comando das Criaturas é uma excelente playlist.
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