Superman: A Era Espacial é uma daquelas histórias que, à primeira vista, parece querer abraçar o mundo inteiro. E, de certa forma, ela faz exatamente isso. Escrita por Mark Russell e ilustrada por Mike Allred, esta graphic novel é um exercício de equilíbrio entre o grandioso e o íntimo, entre a nostalgia e a inovação, e entre a esperança e a desesperança. É uma obra que se propõe a reimaginar o Superman em um contexto histórico específico, mas que, no processo, acaba revelando por que o Homem de Aço permanece tão relevante e universal do que nunca.
A história se passa em uma realidade alternativa do multiverso da DC, onde Clark Kent ainda é um jovem em Smallville quando o assassinato de John F. Kennedy abala os Estados Unidos. Esse evento serve como catalisador para Clark finalmente decidir usar seus poderes para o bem, mesmo que sua estreia como super-herói seja um fracasso. A partir daí, acompanhamos sua jornada de autodescoberta, não apenas como Superman, mas como um ser que busca entender seu lugar no mundo. Essa jornada é intercalada com eventos históricos reais, como a Guerra Fria e a corrida armamentista, e com elementos clássicos do Universo DC, como a formação da Liga da Justiça e a ameaça do Antimonitor.
O que torna A Era Espacial fascinante é a maneira como Russell usa o Superman como um espelho para refletir as esperanças e os medos de uma era. A década de 1960 foi um período de otimismo e terror simultâneos: a humanidade alcançou a Lua, mas também esteve à beira da aniquilação nuclear. Clark Kent, nessa história, personifica essa dualidade. Ele é um herói que acredita no potencial humano, mas também enfrenta a realidade de que nem todos os problemas podem ser resolvidos com superpoderes. Essa abordagem resgata um aspecto muitas vezes negligenciado do personagem: sua humanidade. Aqui, Superman não é apenas um salvador cósmico, mas um jornalista, um filho, um amigo e, acima de tudo, um símbolo de perseverança.
A arte de Mike Allred, com cores vibrantes de Laura Allred — sua esposa —, complementa perfeitamente o tom da narrativa. O ilustrador mistura o cartunesco com o surreal, e isso funciona surpreendentemente bem para uma história que oscila entre o épico e o pessoal. Seus traços são cheios de personalidade, com rostos expressivos e figurinos que parecem saídos de uma revista dos anos 1960. Essa estética retrô não apenas evoca a Era de Ouro dos quadrinhos, mas também reforça a ideia de que A Era Espacial é, em essência, uma releitura moderna de mitos antigos. O anacronismo visual do quadrinho uma forma de mostrar que o personagem é relevante em qualquer espaço-tempo.
No entanto, há problemas evidentes na obra. Um dos pontos mais problemáticos é a inclusão de uma trama paralela focada no Batman. Embora o Homem-Morcego seja um personagem icônico, sua presença aqui parece forçada e desconectada do arco principal. Enquanto a história do Superman é uma meditação sobre esperança e responsabilidade, a do Batman parece mais um apêndice, como se fosse uma exigência editorial para atrair fãs do Cruzado Encapuzado. Isso não apenas dilui o foco da narrativa, mas também levanta questões sobre a necessidade de sempre colocar o Batman no centro das atenções, mesmo em uma história que claramente não é sobre ele.
Apesar desse deslize, A Era Espacial brilha quando se concentra em seu protagonista. Russell entende que o cerne do Superman não está em sua força ou em seus poderes, mas em sua compaixão. Em uma cena memorável, Clark conversa com Pariah, um personagem ligado à “Crise nas Infinitas Terras”, sobre a natureza da esperança. Pariah, que testemunhou a destruição de incontáveis realidades, argumenta que algumas catástrofes são inevitáveis. Superman, no entanto, insiste que mesmo diante do inevitável, vale a pena lutar. Esse diálogo encapsula o que torna o personagem tão universal: ele é um farol de otimismo em um mundo muitas vezes sombrio.
Outro aspecto notável é a maneira como a história aborda o jornalismo. Clark Kent, o repórter, é tão importante quanto Superman, o herói. Em uma era de desinformação e polarização, essa dualidade ressoa de forma especialmente poderosa. Russell parece sugerir que a busca pela verdade é, em si, um ato heroico. Essa ideia não apenas enriquece o personagem, mas também o conecta a questões contemporâneas, mostrando que o Superman é tão relevante hoje quanto era nos anos 1960.
Chegando até aqui fica evidente que Superman: A Era Espacial é mais uma dessas obras que celebra o legado do Homem de Aço enquanto o reinventa. Ela nos lembra que, em um mundo cheio de incertezas, a esperança não é uma fraqueza, mas uma força. E é essa mensagem, transmitida com sensibilidade por Russell e belamente ilustrada por Allred, que faz desta graphic novel uma leitura tão gratificante, mas principalmente acessível. Esse é o tipo de gibi que a gente usa para apresentar o personagem para um novo leitor.
A Era Espacial parece dialogar com algo que muitos escritores, seja nos quadrinhos, quanto no cinema, querem reforçar: ele é um herói para todas as eras, um símbolo de que, mesmo nas horas mais escuras, sempre há uma luz no horizonte. No fim das contas, a esperança é o maior superpoder de todos.
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