Depois de dois álbuns autorais aclamados por público e crítica, Giovani Cidreira parte para o seu primeiro trabalho como interprete. Em Carnaval Eu Chego Lá, o cantor e compositor baiano mergulha na obra do seu conterrâneo, Ederaldo Gentil (1947 – 2012) e faz a reinterpretação de seus sambas com um olhar particular.
Gentil é um dos nomes mais importantes do samba baiano, com uma obra bastante rica, porém pouco celebrada. No seu terceiro álbum, Cidreira resgata uma boa amostra desse legado e ressalta o quanto ele ressoa no mundo de 2024 e em si mesmo. Aqui, o artista abre mão dos sintetizadores e elementos eletrônicos que marcaram “Japanese Food” (2017) e “Nebulosa Baby” (2021) para reverenciar as raízes do samba.
Ao longo de 11 faixas, Giovani Cidreira traz o universo de Ederaldo Gentil para o seu próprio. A forma como o artista usa a voz, que já é uma de suas características mais marcantes ao longo da carreira, para dar um peso e uma intensidade a mais aos sambas, ressalta a força das letras e adiciona tons de melancolia que dão mais camadas de beleza e sentido para o repertório de “Carnaval Eu Chego Lá”.
Sambas no Universo de Giovani Cidreira
O disco abre de forma excelente com “Feira do Rolo”, faixa gravada originalmente por Alcione em 1977 e que aqui ganha uma versão que cruza o samba com o jazz e uma pitada de hip-hop, com a participação de VANDAL. “Baticum” foi transformada em um delicioso samba rock com ecos de Jorge Ben Jor e evocando a ancestralidade africana.
“Identidade” é um dos momentos mais bonitos da obra. Aqui o canto denso de Giovani Cidreira ressalta o quanto a letra se conecta diretamente com temas sociais, como o trabalho, e discussões que estão em alta atualmente: “É o INPS, FGTS / IRSS, o seguro e o PIS / Com trinta de trabalho / Estou aposentado / E com mais de 70 / Eu penso ser feliz”.
“O Samba e Você” é outra interpretação potente que conta com a participação de Céu e um belo piano no arranjo que transporta a canção para lugares diferentes. “O Rei” revive a parceria de Cidreira com Josyara e relembra a atmosfera do álbum conjuntos dos dois, “Estreite” (2020).
“Rose” é outra faixa que ganha novos contornos na versão de Cidreira, ressaltando o contexto envolvendo depressão e saúde mental da letra. Além disso, a música conta com os vocais de Alice Caymmi e a flauta de seu pai, Danilo Caymmi. “A Saudade Me Mata” encerra o disco com a interpretação mais introspectiva, mas não menos impactante.
Em Carnaval Eu Chego Lá, Giovani Cidreira se destaca como interprete, fazendo uma releitura instigante, inquieta, sensível e bastante pessoal da obra de Ederaldo Gentil. Com as bases fincadas no samba, mas com experimentações interessantes, além do canto de peso, o repertório do sambista baiano ganha novas camadas aqui e novas pontes com o presente.
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