Crítica | Invencível 3x8: poder, sacrifício e expectativas frustradas
Amazon MGM Studios/Divulgação

Crítica | Invencível – 3×8: poder, sacrifício e expectativas frustradas

Quando o 8º e último episódio eda 3ª temporada de Invencível começou, eu já sabia que estava prestes a testemunhar algo grandioso. Afinal, estamos falando de uma série que não tem medo de explorar os limites do que significa ser um super-herói, misturando violência visceral com dilemas morais. E, de certa forma, o episódio entregou. Mas também deixou aquela sensação de que poderia ter ido além, especialmente quando o assunto é animação. Vamos falar sobre isso, mas antes, preciso contextualizar o que torna essa batalha entre Mark e Conquista tão especial.

Desde o início da temporada, Conquista foi construído como uma ameaça iminente. Ele não é apenas mais um Viltrumita; ele é a personificação da destruição, um guerreiro que não está interessado em conquistar, mas em aniquilar. Quando ele finalmente aparece, é como se o próprio conceito de poder tivesse tomado forma. E aqui entra uma comparação inevitável para qualquer fã de quadrinhos e animes: Conquista me fez lembrar daqueles vilões clássicos de “Dragon Ball Z” (DBZ), como Freeza ou Cell. Não apenas pela força bruta, mas pela maneira como ele parece estar sempre um passo à frente, como se estivesse brincando com seus oponentes.

E é aí que a batalha começa. Mark, nosso herói, enfrenta Conquista em um confronto que destrói cidades inteiras. É uma luta que lembra muito os embates épicos do própria anime criado Akira Toriyama, onde cada golpe parece capaz de destruir um planeta. Mas, enquanto em DBZ a animação frequentemente eleva essas cenas com efeitos visuais impressionantes e uma fluidez que faz você sentir o impacto de cada soco, em Invencível a animação parece um pouco… contida. Não que seja ruim – longe disso –, mas fica aquém do que poderíamos esperar para uma batalha dessa magnitude.

Ainda assim, o roteiro consegue compensar algumas dessas limitações. A luta não é apenas sobre quem é mais forte; é sobre o crescimento de Mark. Há momentos que ecoam diretamente o confronto entre ele e Nolan, seu pai, no final da 1ª temporada. Lembram daquela cena em que Nolan esmagou Mark no chão, mostrando a ele o quão pequeno e despreparado ele era? Pois bem, agora é Mark quem faz isso com Conquista. É um momento poderoso, que mostra o quanto ele evoluiu, não apenas em termos de força, mas também de determinação. Ele não é mais o garoto que acreditava que poderia salvar a todos sem sujar as mãos.

E então entra Eve, ou Eve Atômica, como muitos a conhecem. Ela acorda de um coma e entra na batalha, mesmo ferida e com poderes limitados. Aqui, a série introduz uma das suas alegorias mais interessantes: os bloqueios mentais que limitam os poderes de Eve. Esses bloqueios, colocados nela ainda no útero, só são quebrados quando ela está à beira da morte. É uma metáfora brilhante sobre como muitas vezes nós mesmos colocamos limites no que podemos alcançar, seja por medo, dúvida ou controle externo. Quando Eve finalmente libera seu verdadeiro poder, tornando-se uma entidade quase divina, é um momento de catarse. Mas, novamente, a animação não consegue capturar toda a grandiosidade que esse momento merecia.

A derrota de Conquista é, sem dúvida, um dos pontos altos do episódio. Mark, impulsionado pela quase morte de Eve, consegue finalmente superar o Viltrumita. É uma vitória que vem com um custo, pois Mark percebe que nem sempre pode salvar a todos e que algumas ameaças precisam ser eliminadas. Essa evolução do personagem é crucial. Ele não é mais o herói idealista que acreditava que poderia vencer sem manchar suas mãos. Agora, ele entende que o poder verdadeiro exige sacrifícios.

E aqui eu preciso fazer uma pausa para falar sobre a referência a “The Walking Dead”. Jeffrey Dean Morgan, que dubla o antagonista, interpretou Negan na série de zumbis, onde ele matou o personagem de Steven Yeun, que dá voz a Mark. Ver esses dois personagens se enfrentando novamente, mesmo que em um contexto completamente diferente, é uma camada extra de significado que só enriquece a experiência para os fãs de ambas as séries.

Mas, voltando à animação, é impossível não sentir que Invencível poderia ter ido além. Animes como “Attack on Titan” ou “Demon Slayer” elevam a animação durante cenas de ação para criar uma experiência visceral, algo que Invencível ainda não consegue fazer de forma consistente. As cenas de batalha são bem coreografadas, mas falta aquela dinâmica que faz você sentir o impacto de cada golpe. É uma pena, porque a narrativa merece uma apresentação visual à altura.

No final, o episódio deixa o público ansioso pelo que está por vir. Com ameaças como os Sequids, Battle Beast e os Técnicos ainda em jogo, a 4ª temporada promete ser ainda mais intensa. E, quem sabe, talvez a animação finalmente alcance o nível da narrativa. Afinal, como Mark nos mostrou, o potencial para evoluir está sempre presente.

Enquanto isso, fico aqui, como fã de quadrinhos e de Invencível, refletindo sobre o que essa série representa. Ela não é apenas uma história sobre super-heróis; é uma exploração profunda do que significa ter poder e como ele pode corromper, transformar e, às vezes, redimir. E, mesmo com suas falhas, Invencível continua sendo uma das séries mais ousadas e emocionantes da atualidade. Agora, é só esperar para ver até onde Mark e sua equipe podem ir – e torcer para que a animação acompanhe esse voo.

Todos os episódios das 3 temporadas de Invencível estão disponíveis, exclusivamente, no Prime Video.

Leia sobre os episódios anteriores:

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.