Maníaco do Parque - Prime Video
Maníaco do Parque - Prime Video

Crítica | Maníaco do Parque, na verdade, é uma história sobre mulheres e jornalismo brasileiro

O recente lançamento do Prime Video tem sido muito comentado entre os telespectadores. Maníaco do Parque é um filme que mostra a história do intrigante caso que assolou e assustou o estado de São Paulo em 1998. Diferente de outras produções, o foco desse longa não é retratar o psicopata em questão, e sim o cenário por trás.

Ao abordar o contexto em que a história foi inserida, existem aspectos que fogem do tema true crime. Dentre eles, a verossimilhança dos fatos, uma vez que alguns pontos do filme não são a história verdadeira. Entender a verdadeira proposta do novo longa é a chave para compreender quão inteligente e astuta é a narrativa dirigida por Maurício Eça a partir do notável roteiro de L.G. Bayão.

A ideia da trama é dar espaço para as histórias que não foram ouvidas nesse processo. Colocar o protagonismo nas vítimas, que muitas vezes são deixadas de lado ao falar desse caso. Para isso, a protagonista da trama é a jornalista Elena, interpretada por Giovanna Grigio (“Perdida”). No enredo ela é a responsável por encontrar as principais informações que desmascaram o responsável pela morte de algumas mulheres no Parque do Estado, em São Paulo. 

Afinal, qual é a história do Maníaco do Parque?

Francisco de Assis Pereira ficou conhecido por seduzir e assassinar jovens mulheres, na maioria dos casos ele chamava atenção delas com promessas falsas de trabalho como modelos. O serial killer abordava suas vítimas na região sudoeste de São Paulo, oferecendo supostas oportunidades de carreira e ensaios fotográficos, ganhando a confiança das mulheres, geralmente entre 18 e 25 anos, para levá-las até o Parque do Estado.

Ele foi responsável por pelo menos onze mortes, com algumas vítimas sobreviventes que contribuíram para a investigação policial e identificação do agressor. Com as provas obtidas, a polícia de São Paulo o prendeu e, posteriormente, ele confessou os crimes. A mídia intensificou a cobertura, causando grande comoção no Brasil e impactando profundamente o debate público sobre segurança das mulheres e prevenção de crimes.

Condenado a mais de 200 anos de prisão, Francisco cumpre sua pena em regime fechado e é lembrado como um dos criminosos mais cruéis do país, marcando uma época de intenso medo na cidade de São Paulo. O caso também foi muito discutido em termos de como a mídia cobre crimes hediondos e a segurança pública no Brasil.

Em teoria, o assassino será solto em 2028, quando cumprirá sua pena de 30 anos segundo o regime brasileiro. Tal fato também amedronta a população, uma vez que as informações sugerem que não houve mudanças efetivas em sua personalidade.

Como o filme usa da ficção para complementar o caso do Maníaco?

A jornalista Elena passa por uma série de conflitos ao descobrir esse caso enquanto procura visibilidade no local em que trabalha. Tal história, criada apenas para o longa, mostra o cenário jornalístico no Brasil, principalmente nos anos 90. Isso porque ela sofre para conseguir ter uma posição de fato na pauta e ter suas matérias publicadas no jornal.

Além disso, ao descobrir mais sobre Francisco, Elena percebe a importância de dar voz às vítimas e diminuir o palco do assassino. Isso faz com que ela mude a forma da investigação da trama, e, no filme, ela se torna responsável por descobrir as pistas antes mesmo da polícia e sem ajuda de uma equipe, apenas com o seu colega de trabalho.

Essa perspectiva é muito boa, desde que fique claro as condições ficcionais dela. Isso torna o filme mais forte, no entanto, mais propício a criação de confusões e fake news sobre o real andamento do caso.

Um ponto de atenção que deveria ser colocado durante a trama é levantar que o caso real não possuiu esse desenvolvimento. Nos aspectos de verossimilhança, há muitos pontos positivos, como uma reportagem verdadeira do Jornal Nacional e algumas informações exatas dos laudos das vítimas reais.

A produção é uma aula de jornalismo investigativo e aborda muito bem o cenário brasileiro ao expor as dores que as mulheres sofrem, sejam elas vítimas ou as responsáveis pela sede de justiça no universo feminino. Com certeza o roteiro e a nova abordagem são o ponto alto da produção.

Personagem do "Maníaco do Parque", com roupas sóbrias, dentro de um ambiente com uma parede descuidada, um pouco amarronzada pelo tempo, com uma expressão séria.
Filme Maníaco do Parque – Prime VIdeo

Ainda assim, “Maníaco do Parque” é um filme que falha em um aspecto crucial: atuação. Os atores não parecem estar bem entrosados e isso torna a dinâmica da apresentação dos fatos muito simples, superficial e algumas vezes até incoerente com a potência dos acontecimentos.

O intérprete do assassino, Silvero Pereira, é um excelente ator e em alguns momentos transpassa bem o que se espera do serial killer. Porém, olhar para a obra como um todo é enxergar que há muitas fraquezas em sua performance, tornando o famigerado e famoso criminoso simples demais. Tal situação é reforçada por um elenco secundário simples, que juntos não constroem uma boa atuação na trama.

O filme do Prime Video apresenta uma boa trilha sonora, uma fotografia fiel aos estigmas brasileiros, como televisões ligadas a todo momento, declarando a cultura através de jornais, programas e notícias. As roupas e cenários também são um destaque para a construção dessa estrutura nacional. Por fim, “Maníaco do Parque” é um filme que vale a pena ser assistido e refletido, mesmo com suas ressalvas, que o tornam mais fraco diante de outras produções.

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