Crítica | Moana 2 é uma continuação que se perde no mar
Disney/Reprodução

Crítica | Moana 2 é uma continuação que se perde no mar

No vasto oceano de continuações que Hollywood tem navegado nos últimos anos, Moana 2 é um reflexo claro de como a busca por lucro e a repetição de fórmulas consagradas podem prejudicar a magia original de uma história.

A nova aventura de Moana chega com o peso das expectativas altas. No entanto, ao invés de expandir o encantador universo polinésio da heroína Moana, o filme se perde em águas rasas, sem conseguir recuperar a emoção e originalidade que fizeram do seu antecessor um sucesso arrebatador.

O primeiro filme foi uma excelente, com uma animação deslumbrante que se mesclava com uma narrativa épica e universal. A protagonista, se tornava um ícone de coragem e autodescoberta, navegando em mares desconhecidos para salvar seu povo.

A história tinha a força da mitologia e a beleza da natureza, evocando um sentimento de aventura que se tornava ainda mais visceral pela excelente trilha sonora de Lin-Manuel Miranda. A crítica e o público abraçaram a mensagem de superação pessoal e liberdade. Era difícil imaginar que o estúdio ousaria seguir adiante com uma sequência, especialmente considerando o desafio de manter a qualidade da obra original.

Crítica | Moana 2 é uma continuação que se perde no mar
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No entanto, com a mudança de estratégia da Disney, que depois de demitir Bob Chapek e sob a liderança de Bob Iger decidiu transformar o projeto em um filme para os cinemas em vez de uma série para o Disney+, a expectativa parecia ser de algo grandioso.

Mas, como se observa no resultado final, essa mudança de rumo acabou por enfraquecer a proposta. Moana 2 não faz jus à experiência cinematográfica do original, soando mais como um esforço calculado de prolongar uma franquia de sucesso, mas sem o mesmo toque de inovação.

A lenda no fim da linha

Esse sentimento de repetição poderia ser perdoado se Moana 2 não fosse prejudicado pela sua estrutura narrativa. O planejamento original do enredo, dividido em episódios de série, transparece na introdução forçada de Maui e nas sequências de exposição desajeitadas. Tudo é conduzido por um sentimento de urgência, que empurra a história para o próximo bloco de eventos, conectando-os para tentar — sem sucesso — formar um todo homogêneo.

Por si, essa abordagem forçada poderia servir à escrita mitológica da sequência, um pouco como os obstáculos que se colocam no caminho de Ulisses em “A Odisseia”. O primeiro Moana era propositalmente mais enxuto, impulsionado pela página em branco — ou melhor, azul — desse oceano no qual a jornada da personagem se desenhava.

Com esse modelo claramente campbelliano, Clements e Musker — roteiristas do primeiro Moana — estavam conscientes dos passos obrigatórios da jornada heroica, e tiravam disso uma emoção que não tentava fugir de sua evidência. Ao contrário, os realizadores extraíam uma universalidade e um senso épico ligados ao medo profundo da protagonista perder seus entes queridos, seu mundo, e se perder ao longo de sua jornada.

Infelizmente, sua sequência parece desconfortável com esse formato, sem conseguir se desvencilhar dele. A não ser por algumas piadas meta um pouco mais presentes, o filme de David G. Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller segue seus eventos dramáticos como um caixa de supermercado escaneando códigos de barras. Basta observar o final do segundo ato para perceber isso, onde a derrota temporária dos heróis é resolvida em uma rápida canção motivacional.

É até bonito, mas…

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Visualmente, o filme ainda encanta. As paisagens são deslumbrantes, a água brilha e os céus se abrem de forma majestosa, mas a estética não é suficiente para salvar a história. Em vez de um novo desafio existencial para Moana, a trama se baseia em um clichê sem originalidade: um deus maligno e uma ilha submersa ameaçando o equilíbrio do mundo.

A jornada da protagonista, que no primeiro filme era uma busca intensa de autodescoberta, agora parece mais uma desculpa para prolongar a história, sem a mesma profundidade e emoção. O maior erro de Moana 2 é sua falta de uma estrutura narrativa sólida. Ao ser pensada originalmente como uma série, o filme peca pela falta de fluidez, com transições apressadas e um ritmo que não permite a construção necessária de tensão dramática.

A presença de Maui, o carismático semideus do primeiro filme, também se sente forçada. Sua inclusão, longe de ser uma continuidade natural, parece mais uma tentativa de agradar aos fãs e garantir o retorno de um personagem querido, mas seu papel não é bem desenvolvido, e a história se arrasta sem trazer novidades.

A narrativa segue por um caminho já traçado, com os roteiristas tentando encaixar elementos do filme anterior, como o frango Hei Hei, na esperança de garantir algumas risadas. Mas até esses momentos acabam soando repetitivos, sem a mesma energia que caracterizou o primeiro filme.

Canta, mas não encanta

A música, outro ponto alto do original, também decepciona. O talento de Miranda não está presente, e as novas canções falham em capturar a mesma magia. Embora os números musicais ainda tenham alguma energia, eles não deixam a mesma marca. O que antes era uma parte essencial da identidade do filme, agora se perde em melodias sem brilho, sem a capacidade de emocionar ou de se fixar na memória do público.

O filme, no fundo, reflete a ironia da indústria: uma história que se propõe a explorar a ideia de se perder para encontrar algo novo, mas que, ao mesmo tempo, acaba se afundando em uma estrutura previsível e segura. Moana 2 não é ousado, nem inovador. Ao contrário, se revela como um produto que visa garantir retorno financeiro, e não uma nova experiência cinematográfica. Parece que a Disney se conformou em entregar uma continuação segura, com o mínimo de esforço criativo necessário, na tentativa de agradar a um público já estabelecido.

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O que se percebe, então, é que Moana 2 falha em capturar o espírito aventureiro e transformador do primeiro filme. Em vez de expandir o mundo de Moana, a sequência acaba por encolher, ficando à deriva em um mar de convenções, com um vilão fraco, músicas desinteressantes e uma trama sem a força necessária para emocionar ou surpreender. Como muitas continuações, ela prova que, às vezes, o melhor é deixar as histórias existirem de forma única, sem a necessidade de forçar novos capítulos em uma narrativa que já havia sido fechada.

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