O Estranho (2023)
Captura de tela: "O Estranho" - Embaúba Filmes

Crítica | O Estranho: quando as raízes resistem às mudanças do solo

Após ser exibido em 2021 no Festival de Berlim, o longa-metragem nacional O Estranho, dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, fará enfim sua estreia em diversos cinemas do Brasil a partir da próxima quinta-feira, 20 de junho. O Conecta Geek recebeu a oportunidade de assistir antecipadamente e avaliar a obra que enriquece o cenário do cinema nacional.

Repleta de representatividade, a trama nos leva a uma profunda viagem entre o presente e o passado, situada nas idas e vindas do Aeroporto de Guarulhos, localizado próximo de um rico território indígena. Aqueles que passam e os que permanecem nesse lugar nos levam a viajar em uma narrativa ambientada nas memórias e experiências pessoais de funcionários e moradores locais.

Trailer de “O Estranho”

Reflexão é a chave de O Estranho

Com uma essência misteriosa e uma forma própria de contar sua história, Flora Dias e Juruna Mallon nos envolvem na curiosidade e, principalmente, na reflexão proposta pelo enredo: o quanto as mudanças afetam um local e as pessoas que nele habitam? No entanto, a obra também nos mostra que as raízes culturais são poderosas e não podem ser abandonadas com o passar e o efeito do tempo.

Rapidamente, a personagem principal Alê,(Larissa Siqueira) uma funcionária que trabalha há muito tempo carregando as esteiras do Aeroporto de Guarulhos com as malas despachadas pelos viajantes, nos cativa com seu mistério e também nos aproxima com sua simplicidade.

Além então de ser responsável por nos levar a uma interessante busca às raízes locais, Alê também nos traz um romance a pouco iniciado com sua até então colega depiladora, interpretada por Patrícia Saravy. A dupla entrega química e nos faz querer saber mais sobre a história do romance, mas este não parece ser o foco por aqui.

O Estranho (2023)
Captura de tela: “O Estranho” – Embaúba Filmes

O elenco, inclusive, pode facilmente ser apontado como o ponto mais alto de O Estranho, dando oportunidades a talentos já lapidados como as atrizes que nos instigam com o casal principal e os jovens promissores que fazem excelentes participações e nos trazem, mesmo que indiretamente, parte das reflexões necessárias para sermos de fato pegos pela trama.

A obra brilha e peca em sua excentricidade

Como citado anteriormente, o longa-metragem busca passar sua informação de maneira pouco habitual, nos trazendo ao lugar de reflexão desde seus primeiros minutos. Em uma proposital transição entre o silêncio da floresta e o caos do aeroporto, O Estranho parece priorizar o som ambiente aos diálogos em muitas ocasiões. Ao mesmo tempo que a sensação sonora de distância em meio a ângulos fixos nos levem a sentir ambientados nas locações, também podem levar ao incômodo – o que parece ser um dos principais objetivos do filme, novamente em busca da reflexão.

O teor cultural, porém, é um destaque extremamente positivo. Uma verdadeira ode à cultura indígena, o longa também traz uma importante e real ambientação às religiões de matrizes africanas, fazendo da diversidade seu encantador carro-chefe. Ainda assim, em meio à beleza dos detalhes e da simplicidade de cada cena, alguns takes demoram tempo suficiente para desagradar os mais ansiosos e a falta de profundidade em pontos importantes do enredo podem nos trazer mais dúvidas do que interesse.

O Estranho (2023)
Captura de tela: “O Estranho” – Embaúba Filmes

Por fim, O Estranho alcança com sucesso o objetivo de nos aproximar das raízes culturais do Brasil e nos fazer refletir sobre os danos causados nas mudanças repentinas e drásticas em nossas terras, mas deixa um pouco a desejar na falta de profundidade em alguns temas e, principalmente, em seus personagens. O filme deve ser prestigiado pelos cinéfilos mais reflexivos e atentos às questões técnicas do cinema, mas talvez não seja a melhor escolha para o público geral, justamente quem mais possui a carência de refletir sobre os importantes pontos levantados pela obra.

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Colaborador do Conecta Geek desde 2024, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minhas maiores paixões à minha vocação através da produção de conteúdo. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o o universo geek, o automobilismo e os esportes em geral, principalmente o futebol. Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Colunista, Editor-chefe e Líder da editoria de Esportes nos portais R7 Lorena e iG In Magazine.