Se você é fã de O Senhor dos Anéis, com certeza já percebeu que o mundo criado por J.R.R. Tolkien nunca sai de moda. Recentemente, um novo filme de animação chegou para tentar explorar ainda mais esse universo, chamado O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim. Dirigido por Kenji Kamiyama, o longa promete revisitar uma parte menos conhecida da Terra-Média, mas será que realmente há algo novo a ser contado ou é só mais uma volta ao mesmo lugar, embalado em nostalgia?
O filme se passa durante a construção da fortaleza de Helm, famosa pela batalha épica mostrada em “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”. No entanto, a principal protagonista não é Helm, mas sua filha Hera, uma personagem que mal aparece nos livros e que foi criada para dar uma nova perspectiva à história. Embora a ideia de expandir o universo de Tolkien pareça, à primeira vista, interessante, a execução acaba trazendo mais do mesmo, como se fosse uma extensão da trilogia de Peter Jackson. Os cenários e o clima são tão familiares que, por um momento, você pode até esquecer que está assistindo a uma animação e não a um filme live-action.
No campo técnico, a animação usa a tecnologia de Unreal Engine, com captura de movimento para criar uma sensação de realismo. Isso gera resultados impressionantes, especialmente nas cenas de ação. Porém, o que deveria ser um avanço visual acaba se tornando um reflexo do já conhecido. A sensação que fica é a de que estamos apenas assistindo a uma versão 3D de algo que já vimos antes, sem realmente trazer algo novo ou ousado. A abordagem estética segue de perto os designs e o estilo de direção de arte de Jackson, o que, para muitos, pode ser uma viagem agradável pela memória. Mas, para quem esperava algo mais criativo, o filme deixa a desejar.
Essa impressão de repetição não é apenas visual. O enredo segue os mesmos caminhos já trilhados nas adaptações anteriores. Hera, a filha de Helm, acaba se tornando a heroína da história, com um arco que remete diretamente à trajetória de Eowyn, a valente mulher de Rohan. Fréaláf, o guerreiro que se destaca ao seu lado, é praticamente uma versão de Éomer, com a mesma bravura e o mesmo papel na luta contra os inimigos. Em vez de trazer algo realmente novo para os fãs da obra, o filme recicla ideias e personagens que já estavam lá, quase como se fosse um eco distante da trilogia original.
E é aí que mora o problema central de A Guerra dos Rohirrim: a obra parece estar mais preocupada em agradar aos fãs e garantir a nostalgia do que em criar algo realmente novo dentro desse rico universo. O fan service está em toda parte. Temos referências a Mûmakil, criaturas icônicas de O Senhor dos Anéis, e até um camêo vocal de Christopher Lee, que, embora emocionante para os mais saudosistas, parece mais uma tentativa de garantir a aprovação dos fãs do que uma contribuição relevante à trama.
Se a intenção era dar um presente aos fãs, a escolha de trazer de volta Alan Lee e John Howe para recriar o estilo visual dos filmes de Jackson parece mais uma maneira de garantir que a familiaridade se sobreponha à originalidade. Os cenários são quase idênticos aos vistos em As Duas Torres, convertidos para o formato 3D com a ajuda do Unreal Engine, e as animações seguem os mesmos padrões de captura de movimento. O resultado, do ponto de vista técnico, é bom, mas não há inovação. Em vez de expandir o mundo de Tolkien, o filme parece se fechar dentro dos limites já conhecidos, repetindo a fórmula que fez tanto sucesso no passado.
A música de Stephen Gallagher, responsável pela edição musical dos filmes de “O Hobbit”, segue o mesmo caminho. Ela recicla o tema de Rohan de Howard Shore, sem conseguir trazer a mesma grandiosidade ou a mesma emoção. É uma tentativa de capturar a alma da trilha sonora original, mas sem alcançar sua essência. O resultado é uma música sem personalidade própria, que serve apenas para lembrar aos espectadores das melodias épicas que já ouviram antes.
Com isso, A Guerra dos Rohirrim acaba se tornando um filme que, ao invés de homenagear Tolkien, acaba apenas reafirmando o legado de Jackson e suas adaptações cinematográficas. É como se a obra estivesse presa na tentativa de repetir o sucesso da trilogia original, sem arriscar nada novo ou ousado. E isso é uma pena, pois Tolkien sempre foi um autor que desafiou as convenções e abriu novos caminhos, e ver sua obra sendo limitada a uma sequência de fan services é, no mínimo, decepcionante.
Não se pode negar que o filme tem seu valor. Para os fãs que não se cansam de revisitar a Terra-Média, ele é um prato cheio de referências e momentos nostálgicos. Mas para quem esperava uma abordagem mais criativa e ousada, a sensação é de frustração. O filme se acomoda em sua zona de conforto, sem ousar explorar novas possibilidades, seja em termos de narrativa ou de linguagem visual.
Em termos de roteiro, a história de Hera, apesar de ter um certo potencial, acaba se perdendo em clichês e em soluções previsíveis. A personagem é interessante por sua complexidade emocional e pelos dilemas que enfrenta, mas sua jornada é muito semelhante a de outras heroínas da Terra-Média, o que tira um pouco da originalidade da proposta. O mesmo acontece com o desenvolvimento de outros personagens, como Fréaláf, que acaba sendo uma versão rasa de Éomer, sem a profundidade que a trama poderia explorar.
Por fim, A Guerra dos Rohirrim é um filme que divide opiniões. Para os fãs fervorosos de Tolkien, é mais uma oportunidade de reviver o universo criado pelo autor, mas para aqueles que buscam inovação e frescor, o filme acaba sendo uma decepção. Ele é como um eco distante da trilogia original, uma tentativa de capturar a magia de algo que já foi vivido e experimentado por muitos. E, infelizmente, quando nos deparamos com um filme que parece mais um presente para os fãs do que uma obra cinematográfica de valor próprio, o risco de cairmos na armadilha da nostalgia é grande demais.
Leia outras críticas:
Deixe uma resposta