Em um momento em que o debate em torno da criminalização do funk e da cultura negra periférica está em evidência na mídia e ganhando contornos complexos, “MPC (Música Popular Carioca)”, álbum do DJ e produtor musical Tiago da Cal Alves, o Papatinho, cai como uma luva. O projeto vem para resgatar as origens do funk e mostrar o legado que o gênero tem construído ao longo de quase 40 anos.
Para entender o presente e vislumbrar novas perspectivas de futuro, é imprescindível olhar para o passado e é exatamente esse caminho que Papatinho faz ao longo das 11 faixas do disco. O Dj resgata as origens do funk nas periferias do Rio de Janeiro e a sonoridade que marcou o início da sua popularização pelo Brasil nos anos 1990.
As bases do Miami Bass, gênero californiano que deu origem ao funk carioca, voltam a serem as protagonistas da sonoridade que dominou os bailes naquela época, porém se encontrando com os nomes que fazem o funk contemporâneo e elementos que trazem toda a essa atmosfera para o presente. Aqui, o Dj não faz um mero resgate nostálgico, ele resgata a essência inicial do gênero para mostrar a força histórica do seu legado e o quanto tudo ainda soa moderno e vibrante.

A introdução é com “1996”, uma vinheta da icônica produtora Furacão 2000 e que já nos transporta direto para a época referida. A partir daí, Papatinho usa toda poderosa rede de contatos construída ao longo de uma carreira bem sucedida como um dos maiores produtores do funk nos últimos anos, e coloca grandes estrelas do gênero em pé de igualdade com nomes pioneiros que pavimentaram a estrada através dos raps, das melôs, e do funk Melody.
“Bonde dos Estraga Festa” traz a voz potente e inconfundível de MC Carol, encontrando com Major RD e Califfa. “Solta o Pancadão” traz o Dj dividindo os versos com MC Cidinho Generall e Tz da Coronel. Em “Conjuntão de Time” Anitta retorna a suas origens no funk acompanhada por MC Cabelinho, que sai do trap e surpreennde com uma interpretação sexy e envolvente ao lado da estrela. “Meu Vício” transporta Kevin o Chris para a atmosfera do Miami Bass.
Em “Passe a Respeitar”, Papatinho traz ninguém menos do que Fernanda Abreu, íntima e defensora do funk desde os primórdios, para cantar ao lado de Naldo Benny e o rapper BK. Em “Pixadão No Baile” é a vez de L7nnon entrar para a mistura ao lado de Leall.
Mc Marcinho (1977-2023), nome essencial do funk Melody aparece através de um sample em “Hipnotiza”, cantando ao lado de Xamã. Kevin o Chris volta em “Melô do Trenzão” e encontra com MD Chefe.O encerramento é com uma faixa em inglês, “Come Back” que traz a participação de Stevie B, uma das grandes referências do Funk Melody, fazendo alusão ao seu hit “Spring Love (Come Back to Me)”.
Com essa gama de referências e colaborações, Papatinho consegue aponta para o passado para renovar o funk carioca e apontar novas e deliciosas direções para o gênero que ultimamente vem sendo cada vez mais influenciado pelo trap. Aqui o Dj e produtor brinca com a temporalidade e faz elementos característicos de épocas diferentes soarem como uma coisa só, divertida, dançante, empolgante e perene.
“MPC (Música Popular Carioca)” é o título perfeito para um disco que mostra a força do funk como fenômeno cultural. Papatinho faz aqui um grande manifesto sobre relevância histórica do gênero para além das periferias cariocas: é a música pop brasileira altamente criativa, experimental que conquista cada vez mais o mundo e que deve ser reconhecida como tal.
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