Crítica | Pinguim 1×7 – um vilão em processo de desconstrução? É claro que não!
Max/Reprodução

Crítica | Pinguim 1×7 – um vilão em processo de desconstrução? É claro que não!

O sétimo episódio de Pinguim, intitulado “Manda Chuva”, representa um ponto de inflexão na narrativa da série, afastando-se da centralidade de Oz e expandindo as relações entre as personagens femininas. Com um tom mais sombrio e introspectivo, o episódio destaca a manipulação e as tensões entre Sofia, Frances e Oz, oferecendo uma reflexão sobre os papéis de gênero em histórias de poder. A série perece ter chegado atrasado no bonde de vilões desconstruídos, mas felizmente, ela não foi covarde.

Ao mesmo tempo, a série faz uma crítica velada ao uso de mulheres como ferramentas de motivação para os heróis masculinos, flertando com o conceito de women in refrigerators — uma expressão que descreve como as mulheres, em muitas histórias de quadrinhos, são usadas como catalisadores emocionais para o desenvolvimento dos personagens masculinos. Em Pinguim, no entanto, as mulheres começam a tomar as rédeas da narrativa, desafiando a construção tradicional de poder.

A interação entre Sofia (Cristin Milioti) e Frances (Deirdre O’Connell), que atinge seu clímax no episódio, é o grande destaque da trama. Ambas as personagens, manipuladas ao longo de suas vidas por figuras masculinas poderosas, encontram-se em uma posição de confronto direto, que é tanto físico quanto psicológico. A direção de Kevin Bray e o roteiro de Vladimir Cvetko aproveitam ao máximo a tensão entre essas duas figuras femininas, não apenas em termos de conflito, mas também como uma forma de questionar o sistema patriarcal que as oprime.

A estética do episódio é crucial nesse sentido, o ambiente, quase sempre sombrio e carregado, é um reflexo do peso emocional que as mulheres carregam. O uso de iluminação dramática, com contrastes fortes entre luz e sombra, não só estabelece um tom de tensão constante, mas também sugere o caráter conflitante das personagens, que oscilam entre a fraqueza e a força, o amor e a traição.

Além disso, o figurino das personagens também é um reflexo da transformação que elas estão vivenciando. Sofia, por exemplo, em sua jornada de autoproteção e subversão de seu destino, é frequentemente vista com roupas que mesclam sofisticação e poder, muitas vezes em tons escuros, como se sua própria identidade fosse uma construção à parte de sua linhagem e de sua relação com a violência.

O figurino de Frances, por outro lado, segue um padrão mais clássico e discreto, simbolizando sua posição de vítima, mas também de resistência. As roupas de Frances revelam a mulher que tenta se adaptar ao mundo à sua volta, enquanto o estilo de Sofia comunica a força e a autonomia que ela busca, mesmo que, como seus vestuários sugerem, ela ainda esteja presa a um ciclo de violência que remonta ao seu pai, Carmine Falcone.

O contraste entre os figurinos de ambas destaca não apenas suas diferenças de personalidade, mas também a dinâmica de poder em jogo. Já no flashback Oz, depois de deixar seus irmãos morrerem, veste uma camisa roxa, como uma representação da maldade, uma vez que detalhes em roxo sempre aparecem no personagem quando ele “invoca” sua personalidade de Pinguim.

Reforçando os pontos acima, Pinguim continua a ser uma série que não hesita em explorar aspectos visuais e sonoros em prol da narrativa. A trilha sonora, composta por melodias discretas e uma tonalidade constante de suspense, intensifica as cenas de confronto, especialmente nas interações entre Sofia e Frances.

A música, muitas vezes minimalista, ajuda a construir um clima de tensão e ansiedade, sem jamais se tornar excessiva ou melodramática. Ao contrário, a série prefere a sutileza na construção do suspense, permitindo que os atores se destaquem por meio do subtexto e das expressões faciais, ao invés de depender de grandes momentos musicais ou de efeitos sonoros exagerados.

Quando se trata de personagens, a atuação de Deirdre O’Connell como Frances Cobb é, sem dúvida, um dos pontos altos do episódio. Após vários episódios sendo subutilizada, O’Connell finalmente tem a oportunidade de mostrar sua capacidade dramática em um confronto poderoso com Sofia.

A atriz imprime em Frances uma vulnerabilidade palpável, mas também uma força interna que emerge à medida que o episódio avança. A cena entre as duas mulheres, em que ambas se desafiam e se reconhecem mutuamente como reflexos das escolhas que fizeram ao longo de suas vidas, é um dos momentos mais eletrizantes da série até agora. O conflito entre elas se torna quase uma metáfora da luta de mulheres para se libertarem das sombras de figuras masculinas dominantes. O’Connell, com uma performance cheia de nuances, dá à sua personagem uma profundidade rara em uma série como Pinguim, que, muitas vezes, prioriza os arcos masculinos em detrimento das personagens femininas.

Crítica | Pinguim 1×7 – um vilão em processo de desconstrução? É claro que não!
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Clancy Brown, como Salvatore Maroni, também tem um espaço para brilhar neste episódio, embora de forma mais breve. A cena em que ele se confronta com Oz é um dos momentos mais viscerais do episódio, e Brown faz o melhor uso possível de seu tempo em cena. Sua presença imponente contrasta com a fragilidade emocional de Oz, e a luta física entre os dois, embora intensa, serve mais como um veículo para exibir a diferença de poder entre eles do que um marco narrativo. Essa luta entre os dois personagens masculinos, em um episódio que já tem Sofia como foco, simboliza a desconstrução do poder masculino absoluto, dando espaço para que as personagens femininas tomem o centro do palco.

Em termos de narrativa, o episódio também se aprofunda no passado de Oz, apresentando flashbacks que tentam explicar sua natureza cruel desde a infância. No entanto, esses flashbacks acabam sendo uma tentativa falha de justificar o comportamento do personagem. O episódio mostra Oz como um “filho do meio” que busca atenção a qualquer custo, mas essa explicação parece simplista diante da complexidade das demais tramas. Mesmo com Colin Farrell entregando uma performance sólida, o personagem de Oz continua sendo o menos interessante da série, e sua história de origem, revelada de forma um tanto insípida, apenas reforça a ideia de que ele é uma vítima de sua própria falta de profundidade.

Crítica | Pinguim 1×7 – um vilão em processo de desconstrução? É claro que não!
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Pinguim termina seu episódio com uma reflexão sobre os papéis de gênero, poder e manipulação, com um foco crescente nas personagens femininas, em particular Sofia e Frances. Enquanto Oz perde espaço como protagonista, as mulheres emergem como as verdadeiras forças motrizes da trama, revelando a falência das estruturas patriarcais e a luta constante por autonomia.

O episódio, serve como um lembrete de que, quando Pinguim foca em suas mulheres, a série se torna mais complexa, interessante e relevante, destacando as dinâmicas de poder que permeiam a narrativa de maneira muito mais eficaz do que qualquer luta ou conflito físico masculino.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.