Estamos, definitivamente, descendo a ladeira. O quarto episódio da 2ª temporada de Ruptura, “Vale da Aflição”, confirmou os pensamentos que registrei na crítica do terceiro episódio. Estamos descendo uma ladeira ainda mais íngreme do que imaginei, num carro sem freios. Isso soa um pouco assustador, mas só se não avaliarmos todas as perspectivas. No caso de Ruptura, essa descida é bem animadora, principalmente quando começamos a receber respostas para as ideias mirabolantes que rondam nossos pensamentos.
O texto a seguir contém spoilers do episódio “Vale da Aflição” de Ruptura. Siga por sua conta e risco!
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Mergulhando em novos horizontes
“Vale da Aflição” trouxe uma mudança de ambiente tanto para nós quanto para os innies. Embora estejamos acostumados a associar retiros a lugares de paz e pausa da correria do dia a dia, a Lumon tem uma definição um pouco diferente. Mark, Dylan, Irving e Helly são levados ao retiro mais inusitado que poderíamos imaginar: uma floresta nevada.
Assustados e perdidos, eles são recepcionados por um Milchick-vídeo, que explica que o grupo recebeu o que tanto desejava: a oportunidade de conhecer o mundo externo, numa espécie de retiro corporativo chamado ORTBO (Outdoor Retreat Team Building Occurrence). Mas, claro, não seria um “presente” da Lumon sem algumas surpresas, né? Pelo que parece, pouco antes de falecer, Kier escreveu seu último “mandamento”, chamado de 4º Apêndice, onde relata o novo humor com o qual teve que lidar.
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Para descobrir o conteúdo desse último mandamento, a equipe embarca numa espécie de caça ao tesouro pela floresta, orientados por uma versão cômica — de tão esquisita — de si mesmos.
Acabou por aí? Claro que não. Após encontrarem o 4º Apêndice, que conta a história excêntrica de Kier e seu gêmeo Dieter, eles descobrem um mapa que os leva ao misterioso Vale da Aflição. Lá, são recepcionados por um Milchick de carne e osso, empolgado com o retiro que, segundo ele, foi “cuidadosamente” preparado.
Pula a fogueira, iá iá
Embora o retiro tenha o objetivo de fortalecer a equipe, parece que essa é a última coisa que está acontecendo ali. Os sentimentos e as desconfianças estão à flor da pele, principalmente para Irving, que já não parece confiar na Helly e demonstra uma paciência quase nula diante da “calma” de Mark.
Agora mais instalados e abastecidos, os refinadores têm direito a uma noite de contos à beira da fogueira, aparentemente inofensiva. Se antes já estavam perplexos com a leitura inicial do 4º Apêndice, a continuação da história, narrada por Milchick e embalada pela trilha produzida pela Srta. Huang, deixou todos ainda mais atônitos. Até que Helly quebra o gelo com uma sequência de gargalhadas diante da história absurda que acaba de ouvir. Nesse momento, acredito que Irving teve a confirmação de suas suspeitas.
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A noite termina com um Milchick furioso, um Dylan ainda mais coadjuvante do que protagonista, um Irving magoado por não ser defendido pelos “amigos” e Mark e Helly se pegando após um dia cansativo, inusitado e estranho.
O pós-sexo de Mark e Helly traz a primeira manifestação dos efeitos da reintegração, ocorrida no final do episódio anterior, e que aparentemente será mais explorada no próximo. Mesmo tendo apreço por Irving, ninguém se deu ao trabalho de ir atrás dele quando saiu floresta adentro, no meio da noite, fazendo-o adormecer sobre uma pedra, num frio congelante.
Manipulação sutil, impacto brutal
A manipulação nem sempre exige correntes visíveis. Às vezes, ela se esconde em rotinas, contratos silenciosos e memórias fragmentadas. Desde a primeira temporada, Ruptura nos mostra como a manipulação pode se transformar numa prisão delicadamente construída. Isso fica evidente neste episódio, quando somos transportados para o pesadelo de Irving: a sala de trabalho da Lumon, no meio da floresta, onde ele reencontra Burt — a pessoa que trouxe um pouco de leveza à sua rotina e que lhe foi tirada abruptamente.
Além de Burt, o pesadelo traz uma figura perturbadora da história de Kier: uma mulher de metade da altura de uma mulher comum, vestida de noiva, com uma aparência assustadora.
Após o pesadelo, Irving surge ainda mais convicto de que Helly é uma impostora, ou melhor, uma Eagan. E aqui, amigos, nossa teoria foi confirmada. Após muita euforia, Irving tenta provar seu ponto afogando a “impostora” na cachoeira do Vale da Aflição, até que Milchick dá a ordem para desativar o bloqueio “Glasgow“ e encerrar a situação.
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Atuação digna de Emmy
Preciso fazer uma breve pausa para elogiar a atuação de John Turturro neste episódio. A profundidade que ele entregou a um Irving fragilizado, mas consciente de seus atos e, em certos momentos, muito mais lúcido que os demais, foi fantástica. Especialmente para mim, que estava acostumada a vê-lo em papéis de ação ou comédia, que exigiam personagens mais leves e descontraídos. Definitivamente, uma performance digna de Emmy!
Ecos de um pensamento
“Vale da Aflição” foi uma entrega profunda de Ruptura. Até aqui, percebemos como a série evoluiu na forma de oferecer respostas e esclarecer mistérios. Não vou negar: o episódio me trouxe alguns pensamentos mais superficiais, como “Será que a ruptura funciona fora do andar deles?” ou “Eles realmente estavam no mundo externo, ou foi tudo uma simulação de realidade virtual?”.
Outros pensamentos, porém, foram mais profundos — especialmente a ansiedade em ver as memórias do innie e do outtie de Mark se fundindo. Mal posso esperar para descobrir o impacto disso em sua mente já naturalmente desajeitada. Mas, claro, só saberemos nos próximos episódios.
Leia as críticas dos episódios anteriores:
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