Ruptura Adeus, Sra.Selvig
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Crítica | Ruptura  – 2×02: O lobo disfarçado de cordeiro

O sabor da vitória de receber algo tão esperado após um longo período é, sem dúvidas, algo que não tem preço. O episódio desta semana de Ruptura, “Adeus, Sra. Selvig”, foi o alento tão aguardado e pode ser considerado uma nova perspectiva, já que mostrou os acontecimentos ocorridos com os outties desta vez. Certamente, a paciência foi uma grande virtude nesse caso.

O episódio da semana passada, com um ritmo pacato e enigmático, que não trouxe muitas informações e deixou outras tantas pairando no ar, foi sucedido por um novo episódio esclarecedor, confortável e com um ritmo regular. Considero necessária a pausa ocorrida entre “Olá, Sra. Cobel” e “Adeus, Sra. Selvig”, pois este segundo episódio exigiu uma atenção aos detalhes que, talvez, a euforia do tão aguardado retorno da série nos teria feito deixar passar.

Comportamentos inadequados

Logo após o vislumbre dos últimos acontecimentos da primeira temporada, Lumon inicia toda uma movimentação para conter os danos causados pelo Overtime Contingency realizado pela nossa querida equipe. Essa movimentação logo nos revela que toda a informação passada a Mark S. no episódio anterior não passou de enrolação — o que não é uma grande surpresa, já que esse tipo de comportamento é habitual no ramo empresarial; afinal, nenhuma empresa quer demonstrar que está por baixo.

Dito isso, alguns fatos nos foram apresentados: não houve uma rebelião bem-sucedida dos internos que resultasse em mudanças “positivas” na empresa; não se passaram cinco meses — pelas minhas contas, foi no máximo uma semana — desde os acontecimentos frenéticos; Sra. Cobel/Selvig (Patricia Arquette) — ou seria “Cobelvig”? — deu o ar da graça; Helena definitivamente não é a filha favorita do pai; e a chuva de informações recebidas pelos outties deixou alguns deles perdidos, embora tenha feito sentido para outros.

Mantenha seus inimigos perto

Possivelmente inspirada pelo famoso ditado de Michael Corleone em O Poderoso Chefão – Parte II: “Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda”, a Lumon Industries utilizou algumas artimanhas — e abacaxis — ao longo do episódio para tentar manter e afastar — para depois trazer de volta — alguns personagens.

A começar pela Sra. Cobel, que, mesmo após um comportamento devoto à empresa, mas suspeito e contraditório, foi chamada para reintegrar o quadro de funcionários da Lumon. Ela foi promovida ao Conselho Consultivo de Ruptura, um setor supostamente “melhor”, mas que sequer existia, como forma de valorizar sua lealdade e expertise. Após deixar claro que só voltaria como gerente do andar de Ruptura, a Sra. Cobel foi informada de que isso não seria possível, pois o cargo já havia sido ocupado pelo Sr. Milchick, também promovido. Confesso que a cena me lembrou a sensação de imposição das empresas com o usual “ou você aceita a promoção ou será promovido ao mercado de trabalho”. Nesse caso, era importante que ela aceitasse; afinal, quanta informação confidencial ela já não possuía?

Além disso, tivemos as demissões de Dylan e Irving, que, a princípio, foram tristes e necessárias, mas, após três dias, foram repensadas — e recompensadas com um abacaxi — e compreendidas como um equívoco. Nesse momento, percebemos que a permanência de Mark S. é extremamente importante para a Lumon, já que a decisão de reintegração de Dylan, Irving e, claro, Helly foi revertida tão facilmente e rapidamente.

Detalhes nas entrelinhas

Que Mark Scout é um personagem importante em Ruptura, já sabíamos, afinal, ele é praticamente o personagem principal, mas até o momento não tínhamos conhecimento do quão grande era essa importância. Dos funcionários que participaram da “rebelião”, Mark foi o único a não ser demitido; na realidade, foi quase implorado para que ele voltasse.

Foram utilizados aumento de 20% no salário, investigação nas alegações de seu innie e até mesmo seu calcanhar de Aquiles: seus pensamentos sobre sua esposa falecida, Gemma. Como última instância, veio o retorno de seus amigos à equipe.

Todas essas informações levantaram alguns questionamentos sobre aspectos não ditos e até mesmo adormecidos. Mark S. foi mantido apenas para que entendessem melhor o que ele sabia e qual era o plano, já que, dos outties, ele foi o que mais revelou detalhes do ocorrido anterior? Ou ele é, de fato, o experimento da Ruptura? Se não é ele, seria a esposa falecida dele, e sua presença é necessária por questões de afinidade?

E por último — talvez isso seja mais uma teoria da conspiração —, no final de tudo, Ruptura é sobre clonagem. Na temporada anterior, foi apresentada, de relance, uma sala com baby cabras que nunca foi explicada nem citada novamente, sendo, talvez, uma referência à ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso. Essa teoria seria uma tentativa de explicar como Gemma está viva, a necessidade da realização de um refinamento de macrodados e, provavelmente, dar um significado à ruptura.

O mundo real

“Adeus, Sra. Selvig” nos serviu esclarecimentos, teorias e mais perguntas, de forma natural e com um ritmo constante. Por outro lado, nos mostrou cenários que facilmente aconteceriam no “mundo real”, como promoções, benefícios disfarçados e até mesmo a busca frustrante por um emprego após uma demissão inesperada.

Ruptura consegue, com facilidade, alternar entre o foco nas histórias individuais e conjuntas dos personagens e as realidades palpáveis e tangíveis. Arrisco dizer que, se esse fluxo regular for mantido, logo estaremos nos deleitando com um prato cheio — ou seria melhor dizer, com um quebra-cabeça completo?

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