Ruptura 2x05
Divulgação: Apple TV+

Crítica | Ruptura  – 2×05: ‘Cavalo de Troia’ nos lembra que confiar pode ser um erro

Em algum momento da vida, já ouvimos o termo “Cavalo de Troia”, seguido da clássica história em que os gregos, no meio de uma longa guerra, presentearam os troianos com um gigantesco cavalo de madeira, supostamente como sinal de rendição. Ao aceitarem o presente e levá-lo para dentro da cidade, os troianos foram surpreendidos por soldados gregos escondidos em seu interior, o que resultou na queda de Troia.

Atualmente, o termo é utilizado — de maneira genial, aliás — para ilustrar situações cotidianas, desde relações interpessoais que nos surpreendem com atitudes inesperadas, até os malwares que invadem nossos dispositivos por meio de um e-mail aparentemente inofensivo, nos convidando a clicar para resgatar um prêmio que jamais existiu.

A série Ruptura trouxe essa premissa para o mundo corporativo em seu quinto episódio da 2ª temporada, apropriadamente intitulado “Cavalo de Troia”. O nome reflete as estratégias e situações criadas anteriormente pela Lumon, que pareciam ser apenas grandes segredos, sem representar um perigo real na visão dos personagens — afinal, claro, a empresa nunca nos enganou. No entanto, o episódio revela que esses segredos são muito mais arriscados e agressivos do que qualquer um poderia imaginar. Esse encaixe narrativo foi de uma engenhosidade sem tamanho.

Quando a esmola é demais…

A cada episódio que finalizo de Ruptura, é possível ouvir, quase que imediatamente, as engrenagens girando na minha cabeça, tentando assimilar e organizar toda as informações apresentadas, além de conectar os acontecimentos com tudo o que já foi mostrado. E com este episódio, não foi diferente. A quantidade de pontos a serem discutidos é satisfatória, especialmente para um capítulo que passou num piscar de olhos.

A ideia do “presente de grego” permeia todo o episódio. Começa com Helena, que, mesmo após ter sido quase afogada no episódio anterior, insiste em continuar sua infiltração. E arrisco dizer que não era apenas para obter informações, mas também por um desejo pessoal. Com a proibição do conselho, Helly retorna completamente perdida nos acontecimentos e com uma taxa de rejeição considerável — afinal, Irving não está mais por perto para ajudar a distinguir se é Helly ou Helena quem está no comando.

Falando em Irving, apesar de seu innie ter sido exonerado, seu outtie tem um propósito muito maior do que imaginávamos. Outra ligação misteriosa acontece, desta vez interrompida pelo outtie de Burt, que nos proporciona um momento comovente entre os dois e, mais importante, uma revelação crucial: Burt não se aposentou, ele foi demitido.

Uma despedida nada convencional

Dylan teve um papel mais ativo neste episódio. Suas dúvidas e provocações levaram Irving a ganhar um funeral. Sim, um funeral — não apenas uma despedida. Apesar de soar mórbido, foi até cômico ver uma gigantesca cabeça de melancia representando Irving, que mais tarde foi devorada por seus amigos. A cena rendeu um momento crucial: no episódio anterior, ao se despedir de Dylan, Irving disse “aguente firme” (Hang in there). Alguns fãs teorizavam que essa frase poderia ser uma pista. E estavam certos. Durante o funeral, Dylan encontra um quadro com essa mesma frase e, ao fazer a conexão, descobre uma anotação deixada por Irving, indicando como encontrar o corredor assustador que tanto intrigou seu outtie.

É interessante quando séries de mistério não se perdem em suas próprias pistas. Já estou tão acostumada com produções que lançam ganchos e teorias sem resolvê-los depois, que ver um roteiro meticulosamente amarrado chega a ser quase estarrecedor.

… O santo desconfia

As suspeitas não se limitam mais apenas à equipe do RMD. Em “Cavalo de Troia”, vemos o primeiro feedback de Milchick como gerente do andar. Pouco antes da avaliação, em uma conversa com Natalie, ele a questiona sobre os quadros recebidos anteriormente. Claramente desconfortável, Milchick parece buscar algum tipo de conforto em Natalie sobre sua reação ao receber as pinturas, já que os dois compartilham preocupações semelhantes. Isso mostra que, mesmo ocupando uma posição de liderança, ele não concorda com todos os métodos que a Lumon usa para doutrinar seus funcionários segundo os ensinamentos de Kier.

Ainda sobre Milchick, ele protagonizou momentos intrigantes neste episódio. Um deles aconteceu pouco antes do feedback, quando organizava o funeral de Irving e teve um pequeno desentendimento com a Srta. Huang. A fala de Huang foi assustadora ao afirmar que os innies não devem ser considerados como pessoas reais — simplesmente porque não são. Essa personagem ainda é um mistério para mim, e sua verdadeira função dentro da Lumon permanece nebulosa.

O peso das memórias

Neste episódio, Mark pareceu mais apático que o normal. Tudo bem, preciso dar um desconto por conta de Helly — ele confiou cegamente nela e acabou sendo surpreendido com um verdadeiro “Cavalo de Troia”. Além disso, ele passou por um processo de reintegração e pode estar tentando assimilar suas memórias. Mas o que me intriga é o fato de que ele não demonstrou nenhuma tristeza com a saída de Irving, sendo que, no primeiro episódio, estava tão determinado a reunir todos novamente.

Sabemos que Mark está quase finalizando o projeto Cold Harbor — o episódio começa com 81% de progresso e termina com 85% —, então é possível que essa mudança de humor esteja diretamente ligada ao que ele descobriu.

O desfecho do episódio nos presenteia com uma sequência poderosa: vemos o outtie de Mark sendo lentamente introduzido ao mundo da Lumon, enquanto suas memórias da Srta. Casey começam a emergir de maneira sútil, mas impactante. A Dra. Reghabi já havia alertado que a reintegração é um processo gradual, o que praticamente responde minha expectativa de que os efeitos seriam imediatos.

Há um ditado popular que diz: “Nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que realmente é.” E “Cavalo de Troia” veio para nos lembrar exatamente disso.

Leia as críticas dos episódios anteriores: