Terrifier 3 marca o retorno de Art, o palhaço, para as telonas, um dos vilões mais carismáticos do cinema de terror atual, que conquistou seu público pela mistura entre violência gráfica e humor sombrio. Neste terceiro filme, o criador Damien Leone busca expandir o universo do personagem, tentando equilibrar sua essência gore com elementos que possam atrair um público mais amplo. No entanto, apesar dos méritos de produção e mais uma excelente atuação de David Howard Thornton, o filme falha ao se perder em uma trama enfadonha, impactando negativamente no ritmo e carisma que a franquia ganhou, justamente por ser composta por de filmes de baixíssimo orçamento.
O Carisma de Art
O grande trunfo de Terrifier 3 — e da franquia em si — está, sem dúvida, em Art, interpretado de maneira entusiasmante por David Howard Thornton. O personagem mantém o mesmo charme bizarro e a presença inquietante que o tornaram um ícone do horror independente. A atuação de Thornton, com expressões faciais exageradas e uma habilidade única de misturar humor e sadismo, traz uma energia que sustenta as cenas de violência extrema, e, por vezes, até suaviza o grotesco com um toque de humor sombrio. Art é o tipo de vilão que permanece fascinante de assistir, mantendo o público intrigado e desconfortável em igual medida.
O carisma de Art, no entanto, não é suficiente para compensar alguns problemas narrativos e técnicos que prejudicam o filme como um todo.
A decisão de dar mais profundidade ao personagem é interessante, mas a tentativa de construir uma mitologia em torno de Art e de sua rival, Sienna, acaba sendo mal executada e tira o foco do que realmente importa: o horror direto e visceral.
Só Deus sabe como tá a mente do palhaço
Apesar do esforço em tornar a trama mais densa, Terrifier 3 tropeça ao inserir uma narrativa que tenta se levar a sério demais. As cenas que envolvem Sienna, interpretada por Lauren Lavera, são longas e muitas vezes repetitivas, interrompendo o ritmo do filme com diálogos expositivos que tentam contextualizar o vilão e a história. Ao longo do filme, vemos Sienna em uma luta interna contra o trauma que Art causou em sua vida, mas a tentativa de transformá-la em uma “Laurie Strode” do universo de Terrifier falha, especialmente pela falta de carisma e intensidade na atuação de Lavera.
O roteiro insiste em explorar as repercussões psicológicas de Sienna, o que poderia ser interessante se fosse bem construído, mas que acaba soando forçado e enfadonho. Além disso, o uso da personagem Victoria, parceira de Art, para inserir elementos de mitologia parece um tanto desajeitado e acaba criando uma sensação de confusão para o público, que nunca tem uma explicação clara sobre a verdadeira natureza de Art.
Impacto visual
Apesar dos problemas narrativos, Terrifier 3 impressiona em sua produção visual e efeitos práticos, que continuam sendo um ponto alto da franquia. As cenas de violência, mesmo em sua brutalidade, são tecnicamente bem executadas e utilizam maquiagem e efeitos práticos para criar momentos chocantes que farão a alegria dos fãs de horror gore. Destaco aqui uma morte envolvendo ratos.
As sequências de assassinato são elaboradas, com detalhes visuais que evidenciam o compromisso de Leone em entregar cenas impactantes. O design de produção também acerta ao ambientar o filme durante o Natal, o que oferece uma ambientação irônica e permite ao personagem Art explorar seu lado cômico e perturbador, ao adotar um traje de Papai Noel para “espalhar sua alegria” de maneira macabra.
Além disso, a cinematografia do longa traz um ar sombrio e sujo que complementa a atmosfera perturbadora do filme. A direção de Leone funciona bem nas cenas focadas em Art, onde ele sabe explorar o potencial cômico e sádico do personagem, misturando humor visual com violência extrema. O uso de sombras e a composição de cenas aumentam a tensão, especialmente nas cenas de confronto entre Art e suas vítimas.
Doces ou travessuras?
Terrifier 3 é um filme de altos e baixos. Enquanto acerta ao dar mais espaço para Art brilhar com seu carisma bizarro, peca ao tentar inserir uma mitologia chata e bem cafona — espada mágica? Quadrinhos? — que não condiz com o tom da franquia.
Assim como seu antecessor, o filme se torna excessivamente longo, com uma narrativa que parece se estender além do necessário, prejudicando o ritmo e cansando o público. A duração de mais de duas horas, somada às cenas de diálogo expositivo e o foco em um drama psicológico que não convence, acabam desviando a atenção do público do verdadeiro atrativo da franquia.
Para os fãs de horror visceral e do Art, Terrifier 3 ainda oferece momentos divertidos e cenas viscerais de violência que mantêm o espírito dos filmes anteriores. Porém, para quem esperava um desenvolvimento coeso e um equilíbrio entre violência e narrativa, o filme deixa a desejar. No fim, o longa prova que nem sempre uma franquia de horror precisa de uma história densa e mitologia própria para conquistar o público; às vezes, o simples e o direto são mais eficazes.
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