Os cinco integrantes do The Cure
The Cure lança 'Songs of a Lost World', novo álbum após 16 anos. Foto: divulgação.

Crítica | The Cure recria atmosfera gótica e mantém excelência em Songs of a Lost World

Eis que após um intervalo de 16 anos, o The Cure apresenta um novo álbum de inéditas. E o que fica bem evidente ao ouvir Songs of a Lost World é que poucas bandas atravessam o tempo tão bem quanto o grupo britânico liderado por Robert Smith. A poesia melancólica e a atmosfera gótica que são a marca da banda desde os anos 1980, seguem extremamente atuais e impactantes.

Se no inicio, o The Cure traduzia para sua música a solidão e os conflitos da adolescência com uma sensibilidade impar, em 2024 esse olhar continua aqui, porém mais abrangente e complexo, com novas camadas. Afinal de contas, Smith hoje tem 65 anos de idade e já está bem distante da época em que acreditava que sua carreira iria durar apenas até os 30. O peso do tempo e das transformações do mundo são um ingrediente a mais no universo gótico da banda.

São 8 faixas inéditas e compostas exclusivamente por Robert Smith, a primeira vez que isso acontece desde “The Head on the Door” (1985), o que faz de “Songs of a Lost World” um dos álbuns mais íntimos já lançados pela banda. Aqui a vocação pop de hits como “Boys Don’t Cry” e “Inbetween Days” passa longe. O inglês não se preocupa em estar nas paradas e se volta para seu próprio mundo, como indica o título.

E vale a pena se dispor a entrar nesse mundo. O rock sombrio e poético do The Cure ressoa forte no ouvinte e proporciona momentos de alto teor emocional. Ao mesmo tempo em que a banda recupera elementos da sonoridade explorada nos anos 1980, também há um diálogo bem afinado com o presente e um aspecto teatral nos arranjos e nas interpretações.

Canções do mundo particular de Robert Smith

Capa de Songs of a Lost World
Capa de Songs of a Lost World, novo álbum do The Cure. Foto: divulgação.

A abertura com “Alone”, já da o tom do que será a obra com uma canção que traz uma longa introdução, com mais de 3 minutos e se volta para reflexões sobre a solidão, trazendo ecos do “Disintegration” (1989), um dos álbuns mais celebrados da banda.

“And Nothing Is Forever” encanta ao mesmo tempo em que dilacera com versos sobre o tempo como: “Meu mundo envelheceu / Mas realmente não importa / Se você disser que estaremos juntos”. “A Fragile Thing” remete ao “Pornography” (1982) e descreve a angústia de um possível fim de um relacionamento.

“Warsong” parte para uma sonoridade mais pesada com guitarras carregadas. “I Can Never Say Goodbye”, um dos momentos mais bonitos do álbum, é um grande épico em que Smith versa sobre o luto pela perda do seu irmão. “All I Ever Am” é a faixa que mais remete a um pop rock, porém ainda bem mais sombrio.

“Endsong” encerra o disco com uma descrição tão bela quanto triste sobre envelhecimento e uma sensação de desajuste com o mundo a sua volta: “Estou no escuro/ olhando para a lua cor de sangue/ lembrando as esperanças e sonhos que eu tinha/ e me perguntando o que aconteceu com aquele menino/ e ao mundo que ele chamava de seu/ estou do lado de fora no escuro pensando em como me tornei tão velho”.

“Songs of a Lost World” já chega entrando para o hall das grandes obras do The Cure. Em mais de 40 anos de carreira, Robert Smith não perdeu a capacidade de se conectar com o lado gótico e sombrio de cada um de nós. Não atoa a banda vem renovando o público ao longo dos anos e conquistando novos corações juvenis. Tudo indica que ainda vem mais álbuns pela frente (mais dois segundo Smith). Que venham.

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