No último domingo (27), foi ao ar o terceiro episódio da segunda temporada de The Last of Us. “O Caminho” tem a dura missão de manter o nível dramático do episódio anterior, transparecendo o luto vivido por Ellie (Bella Ramsey) pós-perda de Joel (Pedro Pascal) e toda a comunidade de Jackson após a invasão de infectados que ceifou uma parte dos habitantes.
Lidando com o luto
Seria impossível começar a análise do episódio sem mencionar o quão o mesmo se dedicou em nos passar o peso do luto mesmo com o passar de alguns meses. A cena de Ellie retornando pra casa e encontrando tudo conforme Joel deixou antes de partir é de cortar o coração e aqui temos mais um show de atuação de Bella Ramsey, que ainda consegue transparecer também a “nova fase” de Ellie ao escolher a pistola de seu falecido “pai adotivo” ao marcante relógio como item que levará em sua jornada a partir daqui.
Mais à frente somos impactados também pela cena em que a protagonista se despede no túmulo de Joel (foto de capa desta crítica) em uma cena que pode ser classificada como uma verdadeira obra de arte e facilmente emocionar quem já passou pela perda de um ente querido.

No decorrer do episódio o vazio se intensifica e é muito bem ambientado também pela falta completa da presença de Pedro Pascal na pele de Joel, visto que seu rosto não aparece nem mesmo no início, quando seu irmão se despede e limpa suas feridas. Isso, inclusive, pode justificar a ausência de uma importante conversa que há entre Ellie e Joel no game original logo após a festa réveillon que, até o momento, foi cortada. Eu esperava vê-la ser adaptada como flashback em “O Caminho“, mas quem sabe isso ocorra nos próximos episódios (eu espero).
Olho por olho… E cada um por si no apocalipse
Também acompanhamos a busca de Ellie por ajuda na missão de ir atrás dos assassinos de Joel. Contar com a ajuda de Jackson parecia certo, visto que ele era um membro importante para a comunidade. No entanto, o conselho precisa ouvir os habitantes, ainda receosos pelas perdas no último episódio, e Ellie traça um discurso para pedir ajuda, o que acaba sendo em vão.
Tanto a terapeuta Gail (Catherine O’Hara) – cujo a participação foi ainda mais interessante neste episódio – quanto Neil Druckman nas cenas de bastidores deixaram claro que Ellie estava mentindo em seu discurso. No entanto, consigo ver verdade nas falas escritas pela jovem, que se convence de cada palavra antes de ser decepcionada pela comunidade e voltar a endurecer seu coração quanto ao senso de união, que nunca fez parte de sua vida.
Por fim, a única ajuda vem de quem menos se espera: Seth (Robert John Burke) ainda não convence Ellie – e talvez nem a nós – que de fato deixou o preconceito de lado, mas isto não significa que ele não goste da jovem e sinta a morte de Joel. Isso transparece bem a complexidade da mente humana e nos ensina a não colocar pessoas em “caixas”, por mais que algumas pareçam merecer.

The Last of Us ainda comete erros conhecidos
A escolha de desacelerar e desenvolver com mais calma a transição das ações de Ellie é totalmente compreensível, mas assim como na primeira temporada The Last of Us erra em trazer calmaria demais em um apocalipse, o que pode soar muito desinteressante para quem busca ao menos um pouco de ação a cada episódio. Episódios sem a presença de sequer um infectado me irritam bastante, devo confessar, por mais que eu entenda que eles não são a maior ameaça deste universo.
Ao meu ver, da segunda metade de “O Caminho” em diante o ritmo poderia ser acelerado e alguns poucos infectados seriam ferramentas perfeitas para isso. Afinal, fica impossível acreditar, mesmo em um mundo pós-apocalíptico já avançado em questão de tempo, que Ellie e Dina (Isabela Merced) tenham atravessado quilômetros a cavalo sem enfrentar nenhum perigo real, ou ao menos isso não nos foi mostrado, o que seria um erro ainda maior.

Um romance que pode se desenvolver melhor na TV
Uma das maiores diferenças entre o material original e a série da HBO está na forma como o romance de Ellie e Dina se desenvolve. No jogo as coisas são mais rápidas porque precisam ser, já que não dá pra tirar muiti tempo de gameplay para detalhar o crescimento de uma relação tão profunda, mesmo que ela se inicie com o empurrãozinho da natureza adolescente.
Ao meu ver essa foi uma escolha acertada, visto que trata-se de uma adaptação da história de The Last of Us para um meio de comunicação diferente e, ao contrário do que muitos apontam para diminuir a série, não se pode simplesmente copiar a história original e achar que tudo seria crível. Os produtores parecem preferir abordar o romance de forma mais sensível e está tudo bem. Cada mídia necessita de um ritmo para nos fazer acreditar em relações humanas e um bom romance adolescente pode fazer bem a qualquer história na TV, se for bem construído.

Ellie está mesmo pronta para o desafio?
Falando em adolescência, aqui vou tocar em um tópico delicado: ainda não vejo Ellie preparada para lidar com os desafios que estão por vir. Não fui tão longe no jogo original, então não sei se devo esperar por mais alguns timeskips, mas os três meses de recuperação da jovem não me convenceram que ela esteja pronta para enfrentar um exército e vê-la ainda com a mente de uma adolescente despreparada para a luta (e muitas vezes chata) pode incomodar muito e fazer falta, principalmente na inegável comparação com o jogo, onde Ellie se transforma em uma verdadeira máquina de matar. Nos resta apenas esperar para ver como Craig Mazin e Neil Druckmann pretendem nos convencer.

The Last of Us retorna no próximo domingo (04/05) para o seu quarto episódio que, ao menos pelas prévias disponibilizadas até então, promete trazer de volta a tensão e, principalmente, os infectados ao epicentro da trama.
Confira as outras críticas da temporada:
- The Last of Us 2×1: Dias Futuros é monótono, mas cumpre o seu papel
- The Last of Us – 2×2: O peso da morte e do caos
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