Dark Horse cancela contrato com Neil Gaiman após acusações de abuso sexual
Paula Lobo/Getty Images

Dark Horse cancela contrato com Neil Gaiman após acusações de abuso sexual

A editora Dark Horse Comics anunciou na última sexta-feira (24) a suspensão de seu contrato com o escritor Neil Gaiman, conhecido por obras como “Sandman” e “Deuses Americanos”, após a publicação de novas acusações de abuso sexual contra o autor. O movimento também resultou no cancelamento da adaptação em quadrinhos da obra “Anansi Boys”, que vinha sendo publicada pela editora. A decisão foi tomada em resposta a uma reportagem da New York Magazine, que revelou alegações de abuso feitas por várias mulheres, incluindo relatos de violência sexual e uso de acordos de confidencialidade para silenciar as vítimas.

Este não é o único impacto das acusações sobre o escritor. Em decorrência das denúncias, outras produções baseadas nas obras de Gaiman foram suspensas ou sofreram alterações significativas. Entre os projetos afetados estão a adaptação de “O Livro do Cemitério” pela Disney e a série “Good Omens” da Prime Video, que está em sua terceira temporada. Enquanto a Disney anunciou a paralisação temporária da produção do filme, a Amazon considerou desligar Gaiman da função de showrunner da série.

Outras produções paralisadas

A série “Anansi Boys”, uma adaptação do romance homônimo de Gaiman, já estava em produção para a televisão, mas sua versão em quadrinhos, lançada pela Dark Horse, foi cancelada em função das alegações. O movimento da editora se deu após o aumento da repercussão das acusações contra o escritor. No entanto, a adaptação televisiva da série, que conta com Whoopi Goldberg no elenco, segue em andamento e tem estreia prevista para 2025 no Prime Video.

Além disso, a série “Garotos Detetives Mortos”, baseada na obra do autor, também foi cancelada pela Netflix com apenas uma temporada, em resposta às acusações de assédio sexual. Outro grande projeto impactado foi a adaptação de O Livro do Cemitério, que estava em fase de pré-produção com a Disney. A companhia anunciou uma pausa na produção do filme, sob a alegação de que a situação envolvendo Gaiman será reavaliada internamente. O diretor Marc Forster, que estava à frente do projeto, ainda não se manifestou oficialmente.

Por sua vez, a Amazon decidiu congelar a produção da terceira temporada de Good Omens, uma série baseada no livro escrito por Gaiman e Terry Pratchett, após as alegações de abuso sexual. A produção estava sendo comandada por Gaiman, que também exercia a função de roteirista e produtor da série. O autor, no entanto, se ofereceu para se afastar do cargo de showrunner e deixar a condução da série a cargo da plataforma de streaming, embora o processo ainda esteja em avaliação.

Resposta de Neil Gaiman às acusações

Após a divulgação das acusações, Neil Gaiman se pronunciou publicamente em defesa de sua conduta. Em seu blog pessoal, o autor negou as acusações de abuso e afirmou que se envolveu apenas em “encontros consensuais”. Ele também reconheceu que, em alguns casos, poderia ter sido mais sensível às necessidades emocionais das mulheres com quem esteve envolvido, afirmando: “Ao ler esta última coleção de relatos, há momentos que reconheço pela metade e momentos que não.”

Gaiman reiterou que as alegações de abuso são infundadas, mas demonstrou estar ciente de que suas atitudes passadas poderiam ter causado sofrimento. Ele não apresentou uma admissão de culpa, mas mostrou arrependimento por falhas no comportamento interpessoal e afirmou que tais comportamentos não foram intencionais. Por enquanto, ele tem se mantido em silêncio sobre detalhes específicos do caso.

Entenda o caso

O caso envolvendo Neil Gaiman ganhou destaque a partir de uma reportagem publicada na New York Magazine, que detalha alegações de abuso feitas por diversas mulheres. Scarlett Pavlovich, de 23 anos, foi uma das vítimas a falar publicamente sobre o que aconteceu em sua relação com o autor. Segundo ela, Gaiman teria a agredido sexualmente em fevereiro de 2022, quando ela trabalhou como babá de seu filho, em uma residência na Nova Zelândia. Pavlovich relatou que o encontro aconteceu de forma inesperada e que ela foi levada a uma situação de abuso dentro da casa do escritor. Gaiman, por sua vez, alegou que o que ocorreu foi consensual, explicando que o relacionamento de três semanas que se seguiu àquele momento foi baseado no consentimento mútuo.

Kendra Stout, outra mulher que se uniu ao grupo de vítimas, contou sua história sobre um relacionamento com Gaiman que começou quando ela tinha 18 anos e o conheceu em uma sessão de autógrafos, em 2003. Quando completou 20 anos, ela iniciou um romance com o escritor, que estava na casa dos 40. Stout revelou ter se submetido a práticas sexuais que, segundo ela, foram dolorosas e forçadas, sem que ela desejasse ou gostasse do que acontecia.

Por fim, a terceira mulher a se manifestar, Caroline Wallner, compartilhou sua experiência de viver na propriedade de Gaiman até 2017, com seu marido e três filhas. Ela relatou uma situação de abuso emocional e físico que teria ocorrido durante o período em que esteve envolvida com o autor.

Essas e outras mulheres se uniram para formar um grupo de apoio, compartilhando suas experiências e se solidarizando com as dificuldades que enfrentaram ao lidar com os abusos sofridos. Embora Gaiman tenha negado veementemente as acusações de abuso, as vítimas seguem compartilhando suas histórias e exigindo uma resposta da comunidade artística e do público.

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