A recente reportagem publicada pela revista Vulture trouxe à tona novos detalhes sobre as acusações de agressão sexual contra o escritor britânico Neil Gaiman. Conhecido por obras como “Sandman” e “Deuses Americanos”, o autor é agora alvo de relatos de várias mulheres que afirmam ter sido vítimas de abusos ao longo dos últimos 20 anos. A matéria, assinada pela jornalista Lila Shapiro, aprofunda as alegações feitas por mulheres que entraram em contato com Gaiman em diferentes momentos, seja como fãs, seja por meio de relações profissionais, como babás e assistentes pessoais.
O início das acusações
O caso ganhou notoriedade em julho de 2023, quando o podcast britânico Tortoise publicou uma série de entrevistas com mulheres que acusavam Gaiman de comportamentos abusivos e agressões sexuais. Desde então, outros relatos se somaram, criando um quadro mais amplo das alegações. Agora, a reportagem da Vulture oferece uma visão ainda mais detalhada do que aconteceu, com depoimentos de quatro das cinco mulheres que acusam o autor.
Essas mulheres, que têm idades e histórias diferentes, falam sobre situações que, segundo elas, envolvem manipulação e coerção sexual. Gaiman, hoje com 64 anos, teria se aproveitado de sua fama e influência para cometer esses abusos enquanto morava em diferentes países, como Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia.
Vítimas e os relatos
Entre as mulheres que participaram da investigação está Scarlett Pavlovich, que conheceu Gaiman em 2022 enquanto trabalhava como babá do filho do autor na Nova Zelândia. Pavlovich descreve uma agressão sexual logo após seu primeiro encontro com Gaiman, que teria ocorrido em um banheiro da residência do escritor. Em sua versão dos fatos, o escritor afirma que o encontro foi consensual, e que o que ocorreu foi apenas um abraço e momentos de intimidade. No entanto, Pavlovich e outras vítimas negam essa versão, alegando que a situação foi uma agressão.
Kendra Stout, outra das mulheres ouvidas pela jornalista, conta como conheceu Gaiman em 2003, quando era uma jovem de 18 anos, durante uma sessão de autógrafos. Embora tenha iniciado um relacionamento romântico com ele quando completou 20 anos, Stout descreve suas experiências com o autor como sendo de sexo violento e doloroso, algo que ela não desejava nem consentia. A mulher afirma que foi pressionada a se submeter a práticas que a faziam sentir desconforto e dor, sem que houvesse uma comunicação clara sobre consentimento.
Katherine Kendall e outras mulheres também relataram situações semelhantes, sempre em contextos onde, segundo elas, Gaiman não discutia limites de maneira aberta e aceitava apenas o seu desejo de manter o controle da situação. A autora das alegações revelou que muitas dessas experiências ocorreram enquanto o escritor estava acompanhado de sua ex-mulher, Amanda Palmer, que, segundo relatos, teria presenciado algumas das situações ou até mesmo participado de alguns momentos.
Práticas BDSM e a falta de consentimento
Outro ponto crítico destacado na reportagem é o uso de práticas BDSM (Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo), por Gaiman, que as mulheres alegam serem impostas sem o devido consentimento. De acordo com os relatos, o escritor interpretava suas ações como parte de um jogo sexual consentido, mas nunca discutiu explicitamente os limites com as envolvidas. Isso gerou um sentimento de desconforto e violação por parte das vítimas, que não se sentiram em posição de recusar ou expressar seus limites de maneira segura.
Uma das mulheres mencionadas na reportagem, que optou por permanecer anônima, relata que Gaiman não respeitava a ideia de consentimento, muitas vezes manipulando as situações e forçando práticas que, de acordo com ela, não eram desejadas. Além disso, algumas das vítimas revelam que, em situações extremas, chegaram a desenvolver problemas de saúde, como infecções urinárias, que não impediram o escritor de continuar com as exigências.
A reação de Gaiman
Neil Gaiman, por sua vez, nega as acusações e afirma que todas as relações que manteve com as mulheres foram consensuais. Seu advogado se recusou a comentar publicamente sobre os detalhes da investigação e as alegações, embora tenha reafirmado que o escritor nunca forçou nenhuma das mulheres a fazer algo contra sua vontade.
Além disso, a defesa de Gaiman destacou que ele considerava as experiências sexuais com essas mulheres dentro do contexto de práticas BDSM, que, segundo ele, envolvem consentimento mútuo. No entanto, as alegações das vítimas vão de encontro a essa defesa, afirmando que nunca houve uma comunicação clara ou um entendimento mútuo sobre os limites dessas práticas.
Impacto das acusações
O impacto das acusações é significativo, não apenas para a imagem pública de Gaiman, mas também para as mulheres envolvidas, que compartilham suas experiências em um esforço para encontrar justiça e apoio. O caso gerou discussões sobre o abuso de poder e a importância do consentimento em qualquer relação, principalmente quando se envolve figuras públicas com grande influência.
Tanto Neil Gaiman quanto Amanda Palmer — ex-esposa do autor — se recusaram a participar da matéria.
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