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Especial | A maldição dos filmes: produções marcadas por tragédias nos bastidores

Entre acidentes fatais e coincidências sombrias, o que explica as tragédias que assombram certas produções de Hollywood?

Alguns filmes parecem carregar uma aura sombria. Não apenas pelo enredo que apresentam nas telas, mas pelos bastidores marcados por tragédias, acidentes e mortes inesperadas. São produções que, ao longo dos anos, ganharam um status quase místico — não por suas bilheteiras ou prêmios, mas pelas histórias assustadoras que deixaram fora do roteiro.

É difícil ignorar a sensação de que certas obras foram, de alguma forma, “amaldiçoadas”. Será apenas coincidência? Ou existe algo mais nos bastidores do que conseguimos ver?

O Exorcista (1973): quando o terror saiu da tela

Clássico absoluto do horror, O Exorcista já assustava pelo que mostrava nas telas — mas os relatos de bastidores ampliaram ainda mais o temor. Um incêndio misterioso atrasou as filmagens, acidentes estranhos aconteceram no set, e membros da equipe morreram durante ou logo após a produção, incluindo Jack MacGowran e Vasiliki Maliaros, que interpretavam personagens que também morriam no filme.

A atriz Linda Blair, intérprete da jovem possuída, sofreu lesões graves nas costas durante as gravações e passou a ser perseguida pela imprensa e pelo público. A sensação era de que o mal retratado em cena havia atravessado a ficção.

O Corvo (1994): a morte que parou o set

O caso mais marcante talvez seja o de O Corvo. Durante as filmagens, o ator Brandon Lee, filho de Bruce Lee, foi morto em cena ao ser atingido por um projétil real disparado de uma arma que deveria conter munição de festim. O erro técnico custou sua vida e interrompeu uma carreira promissora.

A tragédia ecoou o mistério envolvendo a própria morte de Bruce Lee, alimentando teorias sobre uma “maldição” da família. O Corvo foi finalizado com efeitos visuais e dublês, e transformou Brandon em uma figura quase mítica — um ícone do cinema interrompido tragicamente.

Poltergeist (1982–1988): a trilogia marcada por mortes

A trilogia Poltergeist ficou conhecida tanto pelos fenômenos paranormais em cena quanto pelos eventos trágicos que assombraram seu elenco. A atriz mirim Heather O’Rourke, protagonista da saga, morreu subitamente aos 12 anos, antes do lançamento do terceiro filme, vítima de uma infecção intestinal mal diagnosticada. Já Dominique Dunne, que interpretava sua irmã mais velha, foi assassinada por um ex-namorado pouco após o lançamento do primeiro filme.

Outros membros do elenco também morreram em circunstâncias incomuns ao longo dos anos, alimentando a ideia de que algo sombrio rondava a produção. A utilização de esqueletos reais em cenas do primeiro filme apenas intensificou os rumores de que Poltergeist foi, de fato, amaldiçoado.

O Bebê de Rosemary (1968): paranoia dentro e fora das telas

O Bebê de Rosemary, dirigido por Roman Polanski, se tornou um dos filmes mais icônicos sobre paranoia e ocultismo. Mas os eventos fora das telas tornaram tudo ainda mais perturbador. Pouco tempo após o lançamento, Sharon Tate, esposa de Polanski, grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada pela seita comandada por Charles Manson.

A associação entre o filme — que aborda cultos satânicos, controle feminino e manipulação — e a tragédia real foi imediata. A aura de mistério e terror em torno da produção cresceu, consolidando seu lugar no imaginário coletivo como uma obra cercada por forças além do controle humano.

Rust (2021): a tragédia real que abalou Hollywood

Nenhum caso recente teve tanto impacto quanto o de Rust, faroeste independente estrelado e produzido por Alec Baldwin. Durante as gravações, a diretora de fotografia Halyna Hutchins foi morta após Baldwin disparar uma arma cenográfica que, supostamente, deveria estar descarregada. O acidente chocou a indústria e levantou sérias questões sobre os protocolos de segurança em sets — especialmente os de baixo orçamento.

Investigações apontaram falhas graves na supervisão de armas e na conduta da equipe, e Baldwin chegou a ser indiciado criminalmente (em diferentes momentos, o processo foi arquivado e reaberto). O filme, mesmo finalizado, carrega um peso que nenhuma estratégia de marketing conseguirá apagar.

The Walking Dead: produções derivadas e mais tragédias

A franquia The Walking Dead também foi marcada por fatalidades. Em 2017, durante as gravações da série principal, o dublê John Bernecker morreu após cair de uma varanda em um salto que deveria ter sido controlado. Em 2022, durante as filmagens do spin-off Tales of the Walking Dead, um técnico sofreu um acidente elétrico e teve sequelas permanentes.

São ocorrências que levantam uma pergunta difícil: quantas dessas tragédias poderiam ter sido evitadas?

Black Panther: Wakanda Forever (2022): luto dentro e fora das telas

Diferente das produções marcadas por acidentes no set, Wakanda Forever foi assombrado por uma perda pessoal e simbólica: a morte do ator Chadwick Boseman em 2020, vítima de câncer. Sua ausência forçou a reformulação completa do roteiro, e o filme virou uma espécie de tributo coletivo, tanto dentro quanto fora da narrativa.

As gravações também enfrentaram turbulências, incluindo atrasos, lesões da atriz Letitia Wright e controvérsias envolvendo seus posicionamentos antivacina — o que causou atrito com parte da equipe e do público.

Don’t Worry Darling (2022): tensão nos bastidores virou assunto maior que o filme

Embora sem tragédias físicas, Don’t Worry Darling, dirigido por Olivia Wilde, virou uma tempestade midiática por conta dos bastidores caóticos. Trocas de elenco, desentendimentos entre atores, polêmicas sobre a demissão de Shia LaBeouf, rivalidade entre Wilde e Florence Pugh, e até rumores sobre “cusparadas” no tapete vermelho (alô, Harry Styles) fizeram com que a atenção do público se voltasse mais para os escândalos fora da tela do que para o filme em si.

Não foi uma maldição no sentido clássico — mas provou que nem toda produção sobrevive ao próprio hype.

 A Freira 2 (2023) e relatos sobrenaturais no set

Durante as gravações de A Freira 2, membros da equipe relataram sons inexplicáveis, quedas de luzes e sensações de “presença” nas locações — muitas delas em locais históricos e considerados “assombrados” na Europa. A produção usou esses relatos em sua campanha de divulgação, alimentando a ideia de que o terror estava presente também fora das câmeras.

Se é marketing ou medo genuíno, nunca saberemos — mas funcionou para vender o clima do filme.

Invocação do Mal: A Ordem do Demônio (2021): quando o set parece possuído

Terceiro filme da franquia Invocação do Mal, baseado mais uma vez em um caso real investigado por Ed e Lorraine Warren, foi palco de eventos estranhos. Durante as filmagens, atores e equipe relataram problemas técnicos recorrentes, sons sem origem aparente e um clima “pesado” no set. A protagonista Vera Farmiga chegou a contar em entrevistas que evitava levar roteiros para casa, pois dizia sentir “presenças” após ler as falas do demônio retratado no filme.

Hereditário (2018): o terror psicológico não ficou só na tela

Apesar de não ter tragédias registradas durante a produção, Hereditário é frequentemente citado por membros da equipe como uma experiência emocionalmente perturbadora. A atriz Toni Collette afirmou que mergulhar tão profundamente em uma personagem tomada pela dor e o luto foi “mentalmente exaustivo”, e que ficou meses sem assistir ao próprio desempenho. Já o diretor Ari Aster teve crises de ansiedade durante as gravações.

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Foto: reprodução/plano critico

Midsommar (2019): desconforto real sob o sol escandinavo

Gravado na Hungria em pleno verão, Midsommar trouxe desafios físicos e emocionais extremos ao elenco. Florence Pugh, protagonista do filme, revelou que teve crises de pânico e que a experiência foi tão intensa emocionalmente que, ao terminar as filmagens, chorou compulsivamente por horas. O isolamento do elenco e o conteúdo psicológico pesado aumentaram ainda mais a sensação de “imersão forçada”.

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (2022): entre o cômico e o estranho

Mesmo sendo um filme com tom mais leve, O Exorcismo da Minha Melhor Amiga não escapou do clima bizarro que ronda o terror. A equipe relatou interferência constante nos rádios de comunicação com vozes e ruídos, além de problemas com equipamentos que só ocorriam em cenas envolvendo possessão. O diretor atribuiu tudo a “coincidência”, mas parte do elenco não ficou tão convencido assim.

Talk to Me (Fale Comigo) (2023): energia pesada e rituais reais

O sucesso australiano Talk to Me, que gira em torno de um objeto que permite contato com os mortos, teve bastidores intensos. Os diretores gêmeos Danny e Michael Philippou revelaram que fizeram diversas pesquisas sobre ocultismo e espiritismo para deixar o filme mais realista — e que, durante a produção, houve episódios de insônia generalizada e crises emocionais entre os envolvidos. A protagonista Sophie Wilde disse em entrevista que o “clima do set era sombrio e carregado”.

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Jornalista e formada em Cinema, apaixonada por cultura asiática e por contar histórias. Provavelmente já assisti tanto aos filmes do Adam Sandler que poderia atuar em qaulquer um sem precisar de roteiro.