A temporada 2 de Invencível teve o seu último episódio lançado na quinta-feira (4) e trouxe consigo reflexões sobre violência, eugenia e redenção e até mesmo um crossover com o universo da Marvel e da DC.
Mas antes do assunto continuar, é melhor acompanharmos essa trama do início, né? Então vamos para uma breve recapitulação:
Invencível: uma visão subversiva do super-herói
Lançado no ano passado, a série disponível no Prime Video surgiu com a proposta de apresentar ao público uma outra visão dos super-heróis. Agora, não há mais um modelo de virtudes a que devemos seguir, como o Capitão América, mas seres que usam seus poderes para satisfazerem seus desejos e, muitas vezes, preconceitos.
Esse movimento, que começou em 2016 com o filme do anti-herói Deadpool, estendeu-se com o sucesso de The Boys, da própria Prime Video. Em Invencível, porém, há todo um processo até que você entenda a intenção da série.
Nos primeiros episódios, somos apresentados à vida de Mark. Ele é filho de um dos maiores super-heróis de seu universo, o Omni-Man, um super-herói clássico: ele é forte, tem senso de justiça, vive para proteger sua família, enfim… É um estereótipo. Enquanto isso, a mãe de Mark é uma mulher sem super poderes e, assim como ela, Mark também não tem nenhum.
Então, quando Mark, finalmente, percebe estar desenvolvendo seus poderes, nós somos levados a acompanhar um laço emocionante que ele compartilha com seu pai. Tudo na série nos leva a imaginar que eles possuem um relacionamento perfeito, e é nesse momento em que você se sente enganado.
A máscara de virtude do Omni-Man cai quando descobrimos que ele foi o responsável pelo assassinato dos Guardiões, um grupo de super-heróis que, em muitos momentos, ele lutou ao lado. Assim, a primeira temporada nos leva a acompanhar Mark, o desenvolvimento de seus poderes e seu relacionamento nada comum com seu pai que, na verdade, é de outro planeta e quer dominar a Terra.
Temporada 2 de Invencível: o desenvolvimento de um discurso eugenista – e sua queda
Não é difícil concluir que Invencível quer comunicar algo aos seus telespectadores. Com a criação de um universo diverso, o Império Viltrumita é uma representação de nossos colonizadores e seu darwnismo social.
O povo Viltrumita construiu um discurso em que o mais fraco deve servir a quem lhe é superior. Essa superioridade, porém, existe a partir de um conceito eugenista, em que a força é o determinante que define a hierarquia dos povos. E isso, é óbvio, é um determinante conveniente para quem possui essa força.
O Império Viltrumita, como todo império eugenista, trabalha com um nacionalismo radical. Suas características passam por um processo de louvor quase religioso. Além disso, a crença de que existe, objetivamente, um povo superior, leva os viltrumitas a fazerem uma espécie de limpeza étnica no universo. O que é curioso, visto que até a miscigenação é justificada, desde que o seu fim último esteja na conquista de outros povos.
Os miscigenados, como é o caso de Mark, são mais fracos. Isso reforça o ponto dos viltrumitas de que outros planetas são, de certa forma, defeituosos. Mas é complicado falarmos sobre defeitos, visto que a “fraqueza” só se torna uma inferioridade para quem observa a humanidade como um experimento científico, em que existem modelos perfeitos e desejáveis.
A retórica da salvação dos povos
Junto com a temporada 2 de Invencível, conhecemos Anissa, uma viltrumita que chega à Terra para convencer Mark de seguir com a missão de seu pai e preparar os terráqueos para a dominação Viltrumita.
Durante a discussão, Anissa inicia um discurso forte: os próprios seres humanos destroem seu próprio planeta e a si mesmos. Eles são corruptos e não valorizam seu meio ambiente. O Império Viltrumita, então, é a solução para seus problemas. Com a sua dominação, os seres humanos não teriam que se preocupar com a falta de recursos que eles próprios causaram e nem com um poder corrupto.
Esse tipo de discurso é muito perigoso, pois é capaz de justificar qualquer coisa. É por meio dele que justificamos a pena capital, e é por meio dele que justificamos a exploração de outras terras para levar a “civilização” aos povos.
Invencível não é o primeiro a brincar com esse tipo de situação. Nós já vimos isso em outros lugares: a questão moral em Death Note e o genocídio justificado em Attack on Titan. Mas, enquanto esses dois levam o espectador a refletir sobre a “justiça com as próprias mãos”, Invencível aborda uma temática muito mais racial (e crítica) sobre imperialismo.
Contudo, essa retórica de salvação dos povos é falsa e mascara um objetivo cruel de limpeza étnica e dominação dos povos. Para um Império nacionalista, não há virtude alguma na ajuda que oferecem. O benefício próprio é a única coisa que eles conhecem. Por outro lado, a série apresenta aos seus telespectadores a particularidade de outros povos, com qualidades inexistentes no povo viltrumita.
A redenção em Invencível
Em Thraxa, por exemplo, aprendemos sobre um ponto de vista que se opõe ao dos viltrumitas. Os habitantes de Thraxa trabalham em conjunto tendo em vista o bem comum e lidam com a efemeridade da vida de forma inusual, mas admirável. É exatamente nesse momento em que o vilão, Omni Man, começa a sua história de redenção.
Na série, porém, eu acredito que esse processo de redenção deixou a desejar. No final da primeira temporada, temos um Omni Man com sangue nos olhos, um Omni Man que abandona a sua família tendo em vista o ideal de seu povo. Enquanto isso, a temporada 2 de Invencível nos apresenta um Omni Man sensibilizado por Thraxa e que, de alguma forma, aprendeu com a empatia desse povo.
Redenções não são impossíveis. Acredito, aliás, que Omni Man deixou a Terra já sensibilizado, intensificando esse processo em Thraxa. Contudo, validar a redenção do antigo vilão é uma questão de verossimilhança e, comigo, ela falhou um pouco. Provavelmente porque eu não tive tempo suficiente com o Omni Man, acompanhando a sua história em Thraxa. A radicalidade de suas ideias também contribuem para que eu me sinta assim, mas é uma impressão que pode passar com o tempo.
De qualquer forma, Invencível é uma série muito boa e que nos carrega em sua história, sentindo suas angústias, felicidade e ansiedades. Para quem não leu os quadrinhos, o que será que as próximas temporadas guardam para nós?
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