Os 10 melhores discos internacionais de 2025
Colagem: Conecta Geek

Os 10 melhores discos internacionais de 2025

O ano de 2025 trouxe uma safra diversa e ousada de álbuns internacionais, atravessando gêneros, culturas e linguagens musicais. Em nossa avaliação, baseada em mais de 80 discos analisados pela equipe do Conecta Geek, o destaque vai para artistas que desafiaram fronteiras sonoras: do pop com experimentações etéreas de FKA Twigs e SPELLLING, até os nomes latinos que conquistaram tanto popularidade quanto inovação, como Bad Bunny e o projeto experimental Candelabro.

Antes de apresentar o ranking oficial, vale mencionar algumas menções honrosas que também brilharam neste ano: “PAPOTA”, de Ca7riel & Paco Amoroso; “West End Girl”, de Lily Allen; “moisturizer”, do Wet Leg; e “Forever Howlong”, do Black Country, New Road. Cada um desses trabalhos trouxe contribuições que marcaram ao cenário musical de 2025.

10 – Debí Tirar Más FotosBad Bunny

Capa de Debí Tirar Mais Fótos.
Capa de Debí Tirar Mais Fótos, novo álbum de Bad Bunny. Foto: divulgação.

Mesmo para quem não acompanha de perto a trajetória de Bad Bunny, “Debí Tirar Más Fotos” se impôs como um disco inevitável de 2025. Longe de repetir fórmulas que saturaram o reggaeton nos últimos anos, o artista porto-riquenho aposta em arranjos mais arejados, melodias mais sensíveis e um senso pop que dialoga com introspecção e memória afetiva sem perder alcance comercial. O resultado é um álbum que soa acessível sem ser automático, popular sem ser genérico – e que confirma a capacidade de Bad Bunny de escapar dos próprios vícios do gênero que ajudou a dominar.

9 – EUSEXUA – FKA Twigs

Crítica | FKA Twigs transforma o corpo e a alma em 'Eusexua'
FKA Twigs/Divulgação

EUSEXUA marcou um retorno bem-vindo de FKA Twigs à música depois de incursões no cinema que, no mínimo, dividiram opiniões, e já em janeiro se apresentava como o primeiro grande lançamento de 2025. Havia a expectativa de que o disco ocupasse o espaço deixado por “brat”, de Charli XCX, mas o “pop esquisitinho” de Twigs nunca chegou perto do impacto cultural daquele fenômeno – e nem parecia querer. Ainda assim, o álbum ganha força na delicadeza das texturas, na sensualidade e no controle estético que a cantora exerce sobre cada detalhe, reafirmando seu talento para transformar estranheza em identidade pop e justificando plenamente o entusiasmo em vê-la, novamente, no centro da conversa musical.

8 – Live Laugh Love – Earl Sweatshirt

Divulgação

Em “Live Laugh Love”, Earl Sweatshirt reafirma por que segue sendo um dos nomes mais singulares do rap contemporâneo, equilibrando introspecção, humor e uma produção que soa propositalmente torta. O disco conquista pela fluidez entre faixas curtas, beats enevoados e versos que parecem mais pensados do que declamados, criando um clima quase meditativo que recompensa a escuta atenta. Um dos momentos mais curiosos – e eficazes – está em “Heavy Metal Aka Ejecto Seato!”, que incorpora a clássica vinheta brasileira “Brasil Sil Sil”, da Copa de 1970, como um detalhe inesperado que amplia o alcance cultural do álbum. É justamente nessa capacidade de transformar referências dispersas em algo coeso e pessoal que Live Laugh Love se destaca e explica por que é tão fácil se afeiçoar ao disco.

7 – Ego Death at a Bachelorette Party – Hayley Williams

Divulgação

“Ego Death at a Bachelorette Party” soa como um projeto íntimo e orgânico de Hayley Williams (vocalista do Paramore), daqueles que crescem com o ouvinte – especialmente para quem acompanhou o processo desde o início, quando as músicas surgiram dispersamente no site da artista, antes mesmo de qualquer anúncio oficial. O disco ganha força na franqueza emocional, nos arranjos despretensiosos e na sensação de diário aberto, em que pequenas ideias se transformam em canções completas sem perder espontaneidade. É justamente essa construção fora do padrão industrial, somada à voz sempre expressiva de Hayley, que faz o álbum funcionar tão bem e explica o apego imediato.

6 – Bleeds – Wednesday

Os 10 melhores discos internacionais de 2025
Divulgação

Bleeds” consolida o Wednesday no ponto mais alto de sua discografia – e isso vindo de alguém que, sendo sincero, não acompanhava a banda com tanta atenção até aqui. O disco acerta ao equilibrar o lado mais “indie fofo”, quase caseiro, com construções musicais mais encorpadas, cheias de ruído, guitarras ásperas e crescendos que dão peso emocional às canções. Há uma sensação constante de tensão entre delicadeza e barulho, melodia e distorção, que torna a escuta envolvente e recompensadora. É justamente essa combinação bem resolvida que faz de Bleeds não só o trabalho mais consistente do grupo, mas também o mais prazeroso de ouvir. “Pick Up That Knife” talvez seja a música que melhor resume esse disco.

5 – Private Music – Deftones

Crítica | private music mostra o Deftones em plena troca de pele e reafirma vitalidade após três décadas
Deftones/Divulgação

Em “private music”, o Deftones reafirma a habilidade de atravessar décadas sem soar preso ao próprio passado, equilibrando peso, atmosfera e maturidade em um disco que troca a urgência juvenil por controle e profundidade emocional. As guitarras densas e as camadas etéreas de Frank Delgado (Tecladista/DJ) constroem um álbum coeso, enquanto Chino Moreno (vocalista) entrega talvez sua performance mais segura e expressiva, agora em plena sobriedade, transitando com naturalidade entre o sussurro e o grito. Não é uma reinvenção radical, mas há frescor suficiente para dialogar tanto com fãs antigos quanto com uma geração mais jovem que chegou ao grupo recentemente. É justamente essa combinação de identidade preservada e renovação sutil que faz private music funcionar tão bem – e que me deixa com a certeza de que estarei vendo o Deftones ao vivo no Brasil em 2026.

4 – Getting Killed – Geese

Divulgação

“Getting Killed” foi provavelmente o motivo para muita gente parar para ouvir de verdade o Geese. Ele é um disco que soa como um resgate moderno do espírito do krautrock, com suas repetições hipnóticas, grooves motores e sensação constante de movimento. Provavelmente o principal lançamento de rock de 2025 – ao lado do novo trabalho do Wet Leg –, o álbum se destaca pela forma como alia experimentação e energia imediata, sem perder apelo. Os vocais ganham protagonismo, mais expressivos e seguros, guiando canções que parecem sempre à beira do colapso, mas nunca perdem o controle.

3 – Portrait of My Heart – SPELLLING

Crítica | SPELLING pinta seu coração com novas cores em 'Portrait of My Heart'

SPELLING/Divulgação

Apesar de não repetir o impacto quase mítico de “The Turning Wheel” – que considero, sem exagero, uma das maiores obras-primas da história da música –, “Portrait of My Heart” confirma por que SPELLLING é, hoje, minha cantora favorita em atividade. O disco troca o barroco cósmico pelo peso do rock, com guitarras agressivas, baterias em 4×4 e vocais que alternam fragilidade e fúria sem perder o senso teatral que define Chrystia Cabral. Há imperfeições e excessos, mas eles jogam a favor de uma energia crua e emocionalmente honesta, revelando uma artista que prefere o risco à repetição. Mesmo em transição, SPELLLING soa viva, corajosa e absolutamente singular.

2 – Deseo, Carne y Voluntad, Candelabro

Divulgação

“Deseo, Carne y Voluntad”, segundo álbum do coletivo chileno Candelabro, é um registro impressionante de ambição e densidade musical, que vem ocupando minha escuta constante nas últimas semanas. O disco combina instrumentação rica e inventiva com letras que exploram identidade, fragilidade, opressão e o contexto político do Chile, criando um universo autoral que, sem soar derivativo, evoca a inventividade de bandas como a já citada Black Country, New Road e os bons tempos do Arcade Fire. Cada faixa se desdobra com cuidado, alternando momentos explosivos e contemplativos, e revela uma maturidade sonora e poética em trabalhos contemporâneos. É essa combinação de relevância temática, riqueza musical e coragem artística que torna Deseo, Carne y Voluntad um dos lançamentos mais fascinantes de 2025.

1 – I remember I forget – Yasmine Hamdan

Os 10 melhores discos internacionais de 2025
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Em um ano de grandes lançamentos internacionais, “I Remember, I Forget”, da libanesa Yasmine Hamdan, surge não apenas como o melhor disco de 2025, mas como uma obra de arte isolada em sua própria grandeza. O que justifica o primeiro lugar é a forma magistral como Hamdan esculpe um território sonoro único, fundindo o trip-hop melancólico e atmosférico com a riqueza da tradição musical árabe. Canções como “Shmaali”, baseada em uma tarweeda palestina, e a reinterpretação ousada do clássico “Mor Al Tajanny” em “Mor”, mostram uma artista em diálogo profundo com a história, transformando lamentos codificados e tarab em paisagens sonoras contemporâneas, ansiosas e hipnóticas.

A riqueza temática – que aborda a memória, a perda e a resiliência com letras que ecoam de Beirute a Gaza – é costurada por sua voz inconfundível e por produções imersivas que recompensam cada visita. Nada em 2025 me impressionou tanto pela consistência visionária, pela emoção contida e pela maneira absolutamente singular de contar, através do som, histórias milenares e urgentes. É a coroação de uma soberana sem rival.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.