Popload Festival 2025 | St. Vincent rouba a cena, Laufey surpreende e Norah Jones reafirma sua relevância
Colage: Conecta Geek

Popload Festival 2025 | St. Vincent rouba a cena, Laufey surpreende e Norah Jones reafirma sua relevância

Depois de três anos de espera, o Popload Festival voltou com tudo! O Conecta Geek esteve lá, no sábado (31) do primeiro ao último show, para registrar cada momento desse dia repleto de música, diversidade e energia no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Com um line-up que equilibrou grandes nomes internacionais e talentos nacionais em ascensão, com um show atrás do outro fez jus ao lema: “você ir pela música”.

Uma das coisas mais chamativas de todo o festival foi a pontualidade das apresentações. Para quem costuma frequentar grandes eventos sabe que é bastante comum ter atrasos entre uma apresentação e outra, ainda mais quando há estruturas e troca de instrumentos muito discrepantes entre um artista para outro. Aí que a organização foi perspicaz em criar o um palco secundário, menor, chamado Poploading, que contou uma estrutura menor e shows mais curtos, com cerca de 25 minutos cada. Com isso, além de praticamente manter um ritmo de um show atrás do outro, ainda faz com que algum problema técnico pudesse ser resolvido enquanto as atenções estavam voltadas para outro palco.

Exclusive Os Cabides abre o Palco Heineken

O festival começou com a Exclusive Os Cabides, banda emergente de Santa Catarina que trouxe seu rock alternativo, com pitadas de psicodelia e muito deboche, para um público que chegou logo cedo. Com uma grande presença de adolescentes — que, posteriormente, descobri que estavam chegando cedo para segurar um lugar na grande para ver a Laufey de perto — que se divertiram, ainda que timidamente, com o grupo cantando canções sobre lagartixas tomando banho em caixas d’água ou luminárias de lava. O repertório dos músicos usou como base no ótimo disco “Coisas Estranhas” e pincelando uma e outra do primeiro trabalho deles.

Tássia Reis

Em seguida, Tássia Reis subiu ao palco para apresentar as faixas do aclamado “Topo da Minha Cabeça”, lançado ano passado. Com letras afiadas e batidas pulsantes, a rapper paulista provou que o hip-hop nacional está em ótimas mãos. Com uma banda versátil, que mudava de estrutura sobretudo quando havia a troca da guitarra por um violão.

Tássia ia do rap para soul fazendo uma transição muito orgânica entre os sons, tão boa que quando vinha um samba a gente nem notava. Apostando mais na força das canções do que das performances, a cantora passou sua mensagem, e a maior prova disso foi ar ao meu redor pessoas se sentidos tocadas enquanto ouvia “Se Avexe Não” pela primeira vez.

The Lemon Twigs faz show inofensivo

Confesso que tudo que ouvi da banda americana The Lemon Twigs não me agradou muito. Uma sensação parecida que tive quando conheci o Greta Van Fleet — sim, aquela banda que parece Led Zeppelin. No caso dos Lemon Twigs, eles soam como uma banda de tributo de muitos grupos e movimentos dos anos 60, sobretudo do rock britânico, que viveu a transição do Iê-Iê-Iê para a psicodelia. Ainda que suas músicas sejam autorais, dá a impressão de algo que já ouvimos em um disco lançado entre 1964 e 1968.

Dito isso, o grupo, vestido como se realmente estivessem num festival contracultural dos anos 60, apresentaram um show muito correto, com execuções muito parecidas com as versões de estúdio, com destaque para a sincronia entre as vozes, lembrando bons momentos dos caras do The Kinks. Com destaque para “I Wanna Prove to You” que num início de tarde num parque, caiu como uma luva.

Voltando ao ponto de parecer uma banda de transição dos movimentos do rock britânico, isso acontece no palco. Em determinado momento eles trocam de instrumentos e um dos baixistas assume as teclas, dando um ar diferente e, por mais que não tenha sido meu show preferido, eles, definitivamente, entregam algo para alguém que quer um som mais confortável, principalmente se curtir um rock britânico sessentista.

Terno Rei + Samuel Rosa provam que o alternativo pode ser pop

Um dos momentos mais emocionantes do dia foi quando o Terno Rei recebeu Samuel Rosa, vocalista do Skank, para um set especial. Juntos, tocaram músicas do novo álbum “Nenhuma Estrela” e reviveram clássicos como “Resposta” e “Balada do Amor Inabalável”, em uma apresentação que arrancou aplausos e cantorias da plateia.

Essa apresentação que nasceu lá em 2021, quando a Balaclava Records juntou a banda com o artista numa linda session, provou que o rock alternativo, por vezes, bastante bucólico e cheio de guitarras com efeitos, podem sim dialogar com rock mais popular de Rosa. Acredito, inclusive, que um show estendido dessa parceria poderia render uma turnê grandiosa.

Kim Gordon e o rock político

A ex-Sonic Youth Kim Gordon chegou com tudo no Palco Heineken. Vestindo um moletom com a frase “Golfo do México” (em crítica as políticas imigratórias do governo Donald Trump nos Estados Unidos), ela comandou um show barulhento e cheio de atitude, com faixas experimentais de seus discos solo.

Com uma banda toda formada por mulheres, Gordon fez um show curto e até por isso quase não interagiu com o público, mas isso não impediu que uma grande parte do público a chamando de mãe — inclusive quem vos escreve — entre uma canção e outra. Boa parte do repertório do show foi baseado no seu último disco, “The Collective”, lançado no ano passado. Mas, diferente da barulheira eletrônica do disco solo, que flerta até com o trap, a apresentação ao vivo teve um ar mais punk, não menos barulhento, mas os sintetizadores não ofuscaram as guitarras cheias de pedais ligados ao mesmo tempo.

Se citei que o show dos caras do Lemon Twigs foi inofensivo, o som da Kim, fez quase o inverso, desagradando principalmente, os fãs da supracitada Laufey, que nessa hora da tarde já ocupavam um espaço considerável nas proximidades do palco principal. E não, isso nem de longe é uma crítica. Errado seria a Kim entregar um som que agradasse todo mundo. Showzaço!

Laufey encanta em sua estreia no Brasil

Laufey foi uma das grandes surpresas do Popload Festival 2025, não só por ser a única artista do line-up que eu não conhecia, mas também pelo impacto que causou. Enquanto acompanhava todos os outros nomes da programação, ela era uma incógnita para mim — e me surpreendi ao ver o tanto de fãs jovens que lotaram a pista, cantando cada música em coro, como se fossem hits pop.

O mais curioso é que seu jazz “moderno”, embora bem executado e charmoso, não traz nada realmente revolucionário; é uma releitura elegante de influências clássicas, com toques de bossa nova e erudito, mas sem grandes rupturas. E, ainda assim, funcionou perfeitamente com um público que, em teoria, não combina com seu som.

Seu show provou que o público está aberto a sons diferentes. Laufey não reinventou o jazz, mas soube embrulhá-lo de um jeito atraente para uma geração acostumada a batidas eletrônicas e refrões repetitivos. Foi impressionante ver tantos jovens vibrando com arranjos sofisticados, algo raro em festivais mainstream, com tanta classe e carisma que conquista até quem nunca ouviu falar de Chet Baker ou Tom Jobim.

St. Vincent faz show curto e catártico

St. Vincent sempre esteve no meu radar, mas de forma periférica — nunca fui fã declarado nem tenho um álbum preferido dela. No entanto, é inegável: seu show no Popload Festival 2025 foi o melhor do evento. A energia de “All Born Screaming” ao vivo, especialmente em faixas como “Broken Man” e “Big Time Nothing”, transformou a apresentação em algo visceral. Destaque para a presença magnética de Annie Clark, que desceu do palco e interagiu com a plateia de um modo quase ritualístico.

A banda estava impecável, com um detalhe especial: Charlotte Kemp Muhl (do The Ghost of a Saber Tooth Tiger, projeto que já comentei aqui) comandando o baixo com estilo e precisão. Sua química com St. Vincent acrescentou uma camada a mais de groove às músicas, especialmente nos momentos mais experimentais. O visual do show, cheio de referências quase teatrais, remetia a David Byrne , mas o que realmente impressionou foi a coesão do grupo — tudo soava orgânico, mesmo nas passagens mais calculadas.

Se houve algo a criticar, foi o som um pouco baixo para um show tão enérgico — um set daqueles pedia volume no limite, algo que deixou a desejar. Além disso, a duração foi curta: como penúltima atração do palco principal, St. Vincent merecia pelo menos 1h30 de apresentação. Mesmo assim, foi impossível não sair impactado pela força daquela performance — um raro caso em que o hype não só se justificou, como foi superado.

Norah Jones encerra com clássicos e participação especial

Norah Jones encantou o público no Popload Festival com um show repleto de clássicos de sua carreira, como “Come Away With Me” e “Don’t Know Why” — a clássica música do “Mulheres Apaixonadas” —, apresentados com arranjos renovados que destacaram sua evolução artística. Sua voz suave e a atmosfera intimista criaram uma conexão especial com a plateia, reforçando por que ela permanece uma das maiores referências da música contemporânea.

O momento mais marcante foi o dueto com Laufey — a artista mais citada nesse texto —, que trouxe um toque de frescor ao espetáculo. A jovem cantora, complementou perfeitamente o estilo de Jones, resultando em uma performance emocionante e cheia de sintonia. Laufey não escondeu a admiração pela veterana, chamando a colaboração de “uma honra”.

Como o show de encerramento, o festival celebrou não só a trajetória de Norah Jones, mas também a influência que ela exerce sobre novas gerações de músicos. A noite foi uma prova de que sua música transcende tempo, unindo fãs de diferentes idades em torno de canções atemporais e performances impecáveis. Um verdadeiro encontro entre passado e presente.

Enquanto isso, o Palco Poploading deu uma prévia grandes talentos da música brasileira. Yago Oproprio misturou rap e R&B, Maria Beraldo e Jadsa mostraram por que são duas das vozes mais originais do momento, e nomes como a fritação debochada da galera do Vera Fischer Era ClubberMoor MotherSupervão e Stefanie completaram a programação com muita diversidade.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.