As Dusk Falls

Review | As Dusk Falls é um jogo de narrativa com escolhas envolvendo vidas e destinos que se cruzam

Com o passar dos anos, jogos vieram buscando um pensar maior por parte do jogador. Fazê-lo refletir, indagar, questionar e estar diante de impasses e dilemas morais. Em narrativas preocupadas com a interação do jogador e bem próximas de uma produção cinematográficas, ações e escolhas podem trazer sacrifícios e consequências, colocando nossos sentimentos à flor da pele.

Como exemplo, podemos citar duas empresas que são bem prolíficas nesse tipo de jogo. A Telltale Games que colocou diante de nós a interação com o notório universo de The Walking Dead e a Quantic Dream que nos fez interpretar papéis distintos como detetive (Heavy Rain) ou mesmo uma andróide (Detroit: Become Human).

Vidas que se cruzam (CUIDADO, SPOILER)

Após perder o emprego, Vince decide se mudar com sua família para o Arizona. No meio do caminho, seu carro quebra e ele se vê obrigado a pedir ajuda num hotel de beira de estrada. Ao mesmo tempo, Jay Holt e seus dois irmãos desejam arrombar uma casa atrás de uma grande soma de dinheiro dentro de um cofre. Por azar, essa é a residência do obstinado xerife Dante.

Acontece que nem tudo sai como planejado, os irmãos são perseguidos pela polícia e acabam parando no posto onde Vince se encontra. Sem meios de fugir e cercados, os irmãos são obrigados a manter a família de Vince como refém, trazendo uma série de eventos que vão muito além do que eles imaginavam.

(FIM DO SPOILER)

As Dusk Falls

Características do jogo

Incluir o jogador dentro de papéis variados diante de escolhas que tomam o rumo da narrativa. È com essa ideia que a desenvolvedora inglesa Interior/Night criou As Dusk Falls, seu primeiro jogo no currículo. O jogo apresenta 2 livros, cada um contendo 3 capítulos. Sando que a narrativa é dividida em 2 planos espaço-temporais, alternando entre passado (com flashbacks importantes dos personagens) e presente.  

Num jogo que fica difícil classificar papéis concretos de mocinhos e vilões, o importante é trazer ao jogador a oportunidade de vivenciar personagens distintos, entregar uma narrativa criada sobre perspectivas e pontos de vista diversos.

Na primeira jogada, recomenda-se não olhar guias ou vídeos, para a experiência soar mais intensa e repleta de surpresas. Após fechar o jogo, surge a opção do sistema de Árvore da História. Não só para adquirir troféus/conquistas, é aqui que podemos dar replay em algumas cenas optando por outras escolhas e/ou tomar outros caminhos que mudam a narrativa, o destino de alguns personagens e finais.

As Dusk Falls

Jogabilidade e gráficos

E mais uma vez, estamos diante dos famosos QTE’s (Quick Time Events). Aqui eles não são tão complicados. Em outras cenas, temos a opção de escolher entre pontos de interesse para procurar por objetos ou mesmo se esconder de algum perigo (mas existe um tempo limitado para executar a ação). Lembrem-se, esse é um jogo onde a narrativa conta mais, então, não há tanta novidade para quem já jogou vários títulos desse gênero.  

Os gráficos lembram bastante a arte de uma graphic novel. Mesmo que os personagens sejam renderizados digitalmente, muitas vezes a imagem é estática, lembrando exatamente uma página ilustrada de uma revista em quadrinhos ou uma pintura com sutilezas. Nos momentos de perseguição e de muita ação (e não são poucos), a junção de uma perspectiva 2D com o 3D em constantes frames faz a diferença deixando que o jogador crie sua própria cena na cabeça.

O ponto positivo é que essa técnica faz a gente se concentrar mais na leitura da legenda e se atentar a detalhes, em contrapartida, há quem possa julgar um estilo meio conservador ou datado para os tempos atuais onde expressões faciais parecem pesar mais na balança.

Certos caprichos da empresa

Para a criação de As Dusk Falls, a desenvolvedora se preocupou bastante com o jogador. E estamos falando de todo tipo de jogador. No menu, temos a opção de alterar idiomas, aumentar o tempo de duração dos QTE’s e das escolhas, mudar tamanho e cores das legendas. Para acompanhar bem a história e para quem não domina o inglês, o jogo tem dublagem e legenda em português, muito bem feitas por sinal.

Em certo capítulo, o jogo nos avisa sobre uma cena de suicídio que vai ocorrer. Para o jogador mais sensível, essa parte pode chocar e até deixá-lo sem ânimo para seguir adiante. Logo, o jogo dá a opção de dar skip na cena ou não. A Interior/Night é mais uma daquelas empresas preocupadas com um mundo onde todos possam jogar.

As Dusk Falls

Resumo geral

As Dusk Falls não recria o gênero, entretanto se torna mais uma boa opção para quem gosta de jogos que exploram a narrativa de escolhas e com poder cinematográfico. Mesmo contendo algumas similaridades com outras narrativas como Life Is Strange 2 (vidas que se cruzam e o julgamento errado do caráter das pessoas), é um jogo digno de nos fazer pensar em tudo que envolve nossas vidas: família, relacionamentos, humanidade, compaixão, ódio, perdas, coincidências, perdão e remorso. O pensar mais do que jogar, a lição de que videogames são mais do que brinquedos infantis.

Mesmo que você termine o jogo, basta entrar na Árvore da História para ver o tanto de lacunas que ainda restam. Cenas que mudam conforme as ações que tomamos. Sim, elas não foram feitas à toa, estão ali para que nossa exploração narrativa continue, criando distintas possibilidades que essa magia chamada vida, aqui em forma de jogo, proporciona. O jogo foi lançado para Xbox Series X/S. Xbox One, PC, PS4 (versão testada) e PS5.

O ConectaGeek agradece de coração a chave do jogo cedida gentilmente pela Interior/Night.

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