Produzido pela Dogubomb e publicado pela Raw Fury – uma das grandes responsáveis por dar visibilidade a pérolas indies – Blue Prince chega como uma surpresa refrescante dentro de um gênero já saturado: o dos roguelites. Mas, ao invés de apostar na ação frenética ou em combates difíceis, o jogo se destaca por oferecer uma proposta bem diferente: uma combinação de exploração meticulosa e puzzles inteligentes, tudo isso com uma camada narrativa intrigante que recompensa a curiosidade do jogador.
A premissa: mistério, herança e um quarto impossível
Você joga como Simon, que logo de início recebe uma carta de seu tio-avô recém-falecido. Nela, é informado que herdou uma mansão excêntrica chamada Mt. Holly, composta por 45 quartos… e um enigma: encontrar o lendário 46º quarto. Se conseguir, toda a herança será sua.
A proposta parece simples, mas a mansão tem vida própria — literalmente. A cada novo dia dentro do jogo, o layout da casa se reinventa. As salas mudam, os caminhos se perdem e somos nós, jogadores, que decidimos quais portas serão abertas e que tipo de quarto aparecerá atrás de cada uma. É como montar um quebra-cabeça cujas peças mudam de forma a cada tentativa.

Gameplay: estratégia, tentativa e erro
Ao adentrar a mansão, o jogo apresenta algumas mecânicas essenciais:
- Cada sala tem um número específico de passos permitidos.
- O jogador pode usar até três itens (chaves, jóias ou moedas), coletados durante a exploração, para desbloquear salas ou caminhos.
- Você não pode passar a noite na mansão. O ciclo reinicia todo dia, e o mapa também.
Cada sala tem uma cor distinta que determina seu efeito: algumas oferecem mais passos, outras concedem itens permanentes, enquanto certas salas impõem penalidades que duram o dia inteiro. Existem também salas especiais que avançam o enredo — seja com cutscenes, diálogos, ou itens-chave.
O jogo tem um forte componente de repetição: nem todo caminho leva ao progresso. Em muitos momentos, você vai se ver em um beco sem saída, forçado a recomeçar no dia seguinte. Esse ciclo constante de tentativa e erro é a essência do roguelite aqui — e também o que pode afastar jogadores mais impacientes.

Puzzles: simples, mas bem inseridos
Os quebra-cabeças de Blue Prince não são feitos para fritar o cérebro, mas para fluir junto com a exploração. Eles envolvem desde cofres com senhas até enigmas ambientais, e, curiosamente, muitas soluções permanecem fixas ao longo do jogo. Isso pode parecer uma limitação, mas na prática torna a progressão menos frustrante e mais focada na descoberta.
O jogo também te encoraja a anotar pistas e informações manualmente, já que não existe um sistema interno de registro de cartas ou dicas. Isso pode parecer antiquado, mas contribui para a imersão e sensação de “investigação” — embora seja um ponto negativo para quem prefere uma experiência mais guiada.

Além da mansão: uma exploração que se expande
O jogo não se limita ao interior da mansão. Em determinados momentos, ao desbloquear certos quartos, é possível acessar áreas externas. Esses espaços abrem novas possibilidades e aumentam significativamente a complexidade (e o fascínio) da exploração. O mundo de Blue Prince cresce aos poucos — e, quando você menos espera, está investigando muito além do que o início sugeria.
A ambientação é um dos grandes trunfos do jogo. Cada sala é única, repleta de detalhes que reforçam a sensação de mistério e isolamento. Há uma atmosfera constante de vazio, como se algo estivesse sempre à espreita, mesmo sem jamais se revelar. A trilha sonora é discreta, quase inexistente em boa parte do tempo, mas se manifesta nos momentos certos, reforçando descobertas e momentos-chave da narrativa.
Conclusão: um jogo brilhante — mas não para todos
Blue Prince é uma joia rara, um roguelite que foge do lugar-comum e aposta na paciência, no raciocínio e na curiosidade do jogador. É uma experiência meticulosa e lenta, que recompensa quem gosta de anotar pistas, fazer experimentações e se perder em teorias.
Por outro lado, a repetição pode ser desgastante, e a ausência de um sistema interno de registro das descobertas exige dedicação adicional — ainda mais considerando que o jogo está inteiramente em inglês. Para quem não domina o idioma, isso pode ser um bloqueio real.
Ainda assim, para os fãs de exploração, puzzles e mistério, Blue Prince é altamente recomendável, encontrar o quarto 46 pode ser o objetivo principal, mas a verdadeira riqueza está no que se encontra no caminho até ele, dentro da mansão Mt Holly.
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