Clair Obscur: Expedition 33 review

Review | Clair Obscur: Expedition 33 — A reinvenção da arte em um gênero clássico

Em 2024, a Microsoft realizou mais um evento do Xbox repleto de anúncios para todos os gostos. Mas entre tantos trailers e promessas, um título específico se destacou pela sua identidade visual e proposta de gameplay: Clair Obscur: Expedition 33. Esse é o primeiro jogo da Sandfall Interactive — um estúdio novato, formado por ex-desenvolvedores da Ubisoft — e publicado pela Kepler Interactive. Acredite, ele não apenas impressiona: tem facilmente o potencial de indicação ao prêmio de Jogo do Ano.

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Uma estreia que já chegou chamando atenção

Logo de cara, Expedition 33 deu o que falar. Não só por ser uma nova IP — o que já é raro e digno de nota — mas por apresentar visuais absurdamente belos, mérito da Unreal Engine 5. No entanto, o que realmente capturou o olhar mais atento foi a jogabilidade: a Sandfall não seguiu o caminho batido dos RPGs de ação, mas resolveu apostar nos RPGs de turno, um gênero ainda considerado de nicho no ocidente, mas com sólida tradição no Japão.

E a aposta veio em boa hora. O sucesso massivo de Baldur’s Gate 3 em 2023 (também um RPG de turno) mostra que o público está pronto — e ávido — por mais experiências do tipo. A Sandfall percebeu essa brecha e entregou um título que homenageia a velha guarda enquanto inova em pontos cruciais.

Um enredo que mistura arte e tragédia

Expedition 33 é ambientado em um mundo inspirado na “Belle Époque” francesa — mas com um toque de fantasia sombria. A cada ano, uma entidade misteriosa conhecida como “O Artífice” pinta um novo número em seu monólito colossal. Esse número indica a nova expectativa máxima de vida: todos que têm idade acima dele simplesmente… morrem. A estética? Impecável. O simbolismo? Brutal. A consequência? Uma humanidade que vive com a morte desenhada no horizonte.

Para tentar deter esse ciclo fatal, surge a Expedição, um grupo encarregado de investigar o fenômeno e buscar respostas — ou uma salvação. É aí que entra a “Expedição 33”, que assume o protagonismo logo após o término melancólico da Expedição 34. A abertura do jogo, inclusive, já escancara a carga dramática da trama, com cenas onde vidas se desfazem literalmente em pétalas ao vento.

Turnos, parries e pulos: uma nova dinâmica para um velho estilo

Se você torce o nariz para RPGs por turno, talvez valha a pena dar uma segunda chance aqui. Expedition 33 subverte a fórmula tradicional ao incluir elementos de ação em tempo real dentro dos turnos: esquivas, pulos, parries e contra-ataques são todos executáveis enquanto o inimigo ataca. Isso transforma a clássica lógica do “bate e espera” em algo muito mais interativo e intenso — quase um híbrido de Persona, Metaphor: ReFantazio e Dark Souls.

Os turnos continuam lá, com comandos clássicos como atacar, usar habilidades, itens ou fugir. Mas o fato de o jogador poder influenciar ativamente o resultado do turno inimigo adiciona uma camada estratégica poderosa. O jogo também equilibra bem a dificuldade: mesmo no modo mais fácil (focado na narrativa), as batalhas continuam exigindo atenção e tempo de reação.

Após o primeiro ato, o jogo se abre em um sistema de ilhas, cada uma com suas próprias características: algumas abrigam itens únicos, outras são quase arenas com desafios estilo gincana, e há também ilhas inteiras dedicadas à exploração tradicional — com vendedores, inimigos e segredos escondidos.

A variedade impressiona e quebra a linearidade sem depender de um mundo aberto inchado. É um exemplo de como design bem pensado pode fazer muito com menos.

Arte que inspira e emociona

Visualmente, Expedition 33 é uma obra de arte em movimento. A Unreal Engine 5 brilha aqui — e não só por sua capacidade técnica, mas pela direção de arte que explora estilos como Art Déco e Impressionismo, com referências diretas a pintores como Renoir. Cada ambiente é uma pintura viva, do gélido ao inóspito, passando por florestas e ruínas que parecem saídas de um sonho surrealista.

E a trilha sonora acompanha esse nível. A OST vai do sutil ao épico, misturando rock com música clássica, em composições que não apenas acompanham o momento, mas o amplificam. Dá pra ouvir no repeat indo trabalhar.

As atuações também merecem destaque. Tanto o áudio original em francês quanto a dublagem em inglês contam com vozes de peso como Charlie Cox, Jennifer English e Ben Starr, que entregam performances marcantes e emocionalmente carregadas.

Até a mais bela pintura pode conter falhas

Como todo jogo lançado na Unreal Engine 5, alguns problemas técnicos aparecem. Há pequenos bugs de navegação, personagens “engasgando” durante a corrida e alguns crashes ocasionais. A movimentação durante a exploração poderia ser mais fluida, e há momentos em que os comandos falham por um instante. Mas nada disso compromete seriamente a experiência.

A boa notícia é que o estúdio já se comprometeu com um patch de correção para o lançamento, o que mostra comprometimento e pode resolver grande parte desses percalços iniciais.

Clair Obscur: Expedition 33 vale a pena?

Clair Obscur: Expedition 33 é uma lufada de ar fresco em um mercado saturado de fórmulas repetidas. Ele mistura coragem criativa com execução técnica, trazendo à tona um RPG por turnos que não apenas homenageia o passado, mas propõe uma nova visão de futuro para o gênero.

Com direção de arte espetacular, narrativa densa e gameplay inovador, este é, sem dúvida, um dos jogos mais interessantes do ano — e candidato forte ao pódio do GOTY. Se você gosta de jogos que ousam, que emocionam e que desafiam tanto sua mente quanto seus reflexos, dê uma chance a Expedition 33. Ele pode muito bem ser a pintura mais impressionante de 2025.

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