Review | Digimon Story: Time Stranger – Uma história cheia de evoluções na franquia

Digimon Story: Time Stranger chega para dar continuidade a uma das subséries de RPGs mais queridas e bem-sucedidas da franquia de monstros digitais. Desenvolvido pela Media. Vision (responsável por outros jogos de Digmon Story, e pela franquia “Wild Arms”) e publicado pela Bandai Namco, o título estabelece-se como o mais novo capítulo dentro do universo Digimon Story, que tem ganhado cada vez mais notoriedade entre os fãs de JRPGs.

No Brasil, apesar de ser uma marca que ressoa profundamente no coração dos antigos fãs do anime “Digimon Adventure”, a vertente em videogames sempre foi um nicho. Contudo, é justamente neste espaço mais dedicado que a série Story prospera. Longe de depender da popularidade da era de ouro do anime, a qualidade intrínseca e as narrativas envolventes de jogos como o aclamado antecessor, “Digimon Story: Cyber Sleuth”, sustentam o apelo.

A série Digimon Story tem uma posição curiosa: é tanto um spin-off quanto uma linha principal de desenvolvimento, refletindo as origens da franquia nos “bichinhos virtuais” (Tamagotchis). É neste formato de RPG focado em grindingdigievolução e enredos repletos de mistério que o investimento atual da Bandai Namco tem se concentrado. Time Stranger promete manter e elevar o padrão, apresentando uma nova aventura que testa os limites do tempo e do espaço digital.

Digimon Story: Time Stranger foi enviado pela Bandai Namco para esse review

Um momento no tempo

Aqui seguimos a jornada de uma dupla de agentes da organização secreta chamada de ADAMAS – que por sua vez investiga vários eventos estranhos que acontecem no mundo, entre eles tem terremotos, explosões, bichos estranhos aparecendo em lugares etc.

O jogador tem a liberdade de escolher entre um rapaz chamado de Dan Yuki que tem um visual sensacional que é totalmente puxado de Joe Shimamura do clássico “Cyborg 009”.

Qualquer semelhança, não é mera coincidência!

E você pode também, escolher a sua irmã adotiva Kanan Yuki, que foi a minha escolha para protagonista, mas meio que me bateu um arrependimento aqui, pois além do design de Dan ser sensacional, se você escolhe ele ou ela de protagonista, um deles vai virar o seu operador de suporte durante o jogo todo, o que faz dele ser um personagem mais ativo que o personagem que controlamos, que é o clássico protagonista silencioso.

Pois bem, eles estão investigando uma dessas doideras que estão acontecendo na cidade, e se deparam com um Digimon em Shinjuku, e aqui temos a primeira parte do jogo (que se me recordo bem, a DEMO do jogo cobre inteira) onde ela termina com nós presenciando um embate de dois Digimons colossais que acabam destruindo a cidade inteira ala a explosão clássica que temos no começo de Akira, e quando tudo está perdido, o nosso protagonista acorda em um lugar estranho, e após algum alvoroço com a Digimon Minervamon uma entidade misteriosa e uma espécie de ovo sagrado, somos enviados 8 anos no passado antes desse desastre que acabamos de presenciar.

Aqui então é que o jogo começa a se desenrolar de verdade, nós voltamos no passado e procuramos por Inori Misono – uma colegial bastante parceira que estava conosco durante a explosão no futuro, encontramos ela no passado e explicamos a situação para ela, sua amiga Hiroko Sagisaka e seu pai Kosuke Misono que por um acaso é um detetive particular.

Outro personagem que é introduzido mais tardiamente é Aegiomon e ele por si é um personagem bastante curioso, pois como ele é um Digimon que está conosco fisicamente e andando pelas ruas de Tóquio, ele precisa esconder suas particularidades de Digimon e por sorte ele não é um Digimon que parece um dinossauro ou outro tipo de bicho, então ele consegue se esconder como um humano.

Sua história explora bastante o tipo de preconceito e medo que as pessoas sentem do desconhecido, mesmo esse ajudando e sendo bastante amigável, uma parte muito boa da história é quando entramos finalmente no Digimundo, que tem um aspecto bastante peculiar com engrenagens do tempo, e Aegiomon por sua vez, se sente livre e em casa, já que esse é o seu lar, e ele é bem-vindo aqui.

Os Digimons inclusive são bem mais tolerantes com humanos que os próprios japoneses, o que é bastante triste.

A história de Time Stranger é bastante boa, é um enredo que prende de forma certa e tem um bom pacing, apesar de sempre estar remoendo vários e vários assuntos que em certo momento fica bastante repetitivo, mas a história tem uma boa progressão e mexe em bastantes assuntos pertinentes, e ainda por cima tem um mistério instigante que vai prender você por algumas (boas) horas.

Qualidade artistica e gráfica excelente para os padrões da franquia

Time Stranger num nível gráfico e técnico é bem numa média boa, ele não entrega nada de grandioso, mas para a franquia Digimon, é um dos maiores avanços que a franquia já presenciou.

Aqui temos não só uma boa qualidade gráfica como também ótimos modelos dos Digimons, e uma boa representação de Tóquio e outros cenários mais fantásticos do Digimundo, que é extremamente cativante.

Apesar disso, algumas animações dos personagens ainda são bem “truncadas” a movimentação não tem muito peso e são um pouco desleixadas, apesar de que vários Digimons têm ataques únicos bastante bem-feitos, com direito a uma cutscene para cada.

Então tem esse meio termo de que apesar do jogo ter uma qualidade bem acima da média, ele ainda não atinge seu potencial total, mas longe de incomodar qualquer um.

O destaque de verdade na parte visual é sem dúvidas na direção de arte excelente do jogo, temos aqui Suzuhito Yasuda fazendo um trabalho incrível e cheio de personalidade, ele para quem não sabe é o artista responsável por Durarara!! Outros jogos do Digimon, e Shin Megami Tensei: Devil Survivor, então ele tem um repertório de uma qualidade bem acima da média.

A equipe responsável pelas animações do jogo também é excelente, a abertura do jogo tem um trabalho incrível de animação feita com fantoches, e a trabalheira que eles tiveram é incrível, vocês podem acompanhar o making off abaixo:

Não posso de deixar de comentar novamente sobre a ambientação, que aqui acerta muito bem.

Digimon World 1 tinha backgrounds incriveis cheios de sucata e um pre-render lindo do PlayStation 1, e aqui, o Digimundo que é organizado por engrenagens também passa uma vibe semelhante, com bastante lugares que remetem a favelas e sucatas espalhadas pelo cenário, para fazer uma estrutura peculiar.

Gameplay com uma dinâmica boa, simples e bastante viciante

Digimon funciona bem como um bom JRPG, aqui a sua party de personagens vai consistir em Dan ou Kanan que comandam os Digimons e os Digimons são preenchidos por slots de até 3 bichos de sua escolha, aqui temos as funções de ataque, golpes especiais ou skills, itens – que por sua vez só podem ser usados uma vez a cada turno dos nossos protagonistas. Também temos defesa, e a possibilidade de trocar nossos Digimons durante a batalha para os reservas com change.

Aqui funciona mais ou menos como funciona séries como Shin Megami Tensei ou Pokémon, onde precisamos explorar os elementos e as fraquezas dos inimigos, um sistema que funciona mais ou menos como um joken-po!

Os atributos são Vacina, Virus e Data, e é naquele esquema clássico onde Vacina vence Virus, Virus vence Data e Data vence Vacina, então o ponto aqui é saber fazer a composição do time e saber trocar os Digimons para explorar essas fraquezas e aumentar o multiplicador de dano dos seus ataques.

O jogo também dá a possibilidade de jogar automaticamente, onde os Digimons atacam da forma que a IA achar melhor, e tem a função de aumentar a velocidade da batalha, para acelerar o processo em batalhas mais repetitivas.

Temos também uma barra que se enche de acordo com o seu desempenho nos ataques que libera um ataque especial chamado de Cross Arts – que o nosso protagonista utiliza, e as Cross Arts onde eles podem causar danos no inimigo, ou atuar como suporte para a sua party.

Imagem: GamerBraves

Tem a função de atacar os Digimons inimigos antes deles atacarem você no mapa, onde se você acerta primeiro, pode tirar uma parcela de inimigos, ou vencer a luta automaticamente, mais ou menos como funciona em Earthbound.

Além das coisas que compõe a ação, temos também a ação fora das lutas, temos aqui as Digi-evoluções, onde por requisitos específicos, podemos evoluir nossos Digimons para formas mais fortes e diversas, e é aqui que o jogo me pega de vez.

Cada Digimon tem uma arvore de evolução diferente, que pode variar o tipo de Digimon que irá sair dessa evolução, o que dá margem para bastante replay e bastante grind, e o número de Digimons é gigantesco que é algo que deixa todo o processo bastante divertido, eu adoro ver o que pode resultar em uma Digievolução, além de evoluir, podemos regredir e tentar um novo resultado.

A cada luta que temos com os Digimons, mas vamos aumentando uma porcentagem de dados, que quando chegarem a 100% nos permite gerar esse Digimon para nosso uso, e ultrapassando 100% temos Digimons mais fortes e com mais habilidades.

Outro ponto a se atentar é os pontos que ganhamos para preenhcer a Agent Skills, que tem várias Branchs únicas de melhorias para cada tipo de personalidade que os Digimons vão adquirindo durante o jogo, e durante o jogo setamos a personalidade a partir de conversas e perguntas que temos com eles, onde podemos mudar completamente o caráter e o perfil deles.

É muito boa as perguntas que eles fazem, dá uma personalidade a mais a eles, mas as perguntas e respostas são basicamente as mesmas para todos.

A exploração na cidade e nas dungeons é bastante ok, não temos dungeons extremamente bem elaboradas, que é bem padronizado para um JRPG, mas não é um ponto ruim, e um diferencial é que os inimigos aparecem no mapa.

Uma feature muito bacana no jogo é a gente conseguir montar em alguns Digimons específicos, não são todos que tem a opção, mas a grande maioria tem. Nem é algo que muda tanto o gameplay (apesar de ganharmos mais velocidade no caminhar) mas é o tipo de besteira que faz uma diferença especial no jogo, e é muito legal ficar montado no ombro do Leomon.

Temos também o In Between Theater, um lugar misterioso que o passado e o futuro colidem, lá podemos falar com figuras estranhas como Mirei Mikagura e por ela podemos acessar o Digifarm que é uma espécie de campo de treinamento para Digimons onde eles podem treinar seus atributos ou mudar a personalidade deles, além de ganharem XP como os Digimons que estão guardados.

E além disso temos também side-quests que dão recompensas bastante agradáveis para melhorar no nosso progresso, e as vezes tem algumas histórinhas que valem a pena de acompanhar.

No mais, toda a parte de jogabilidade, o jogo é bastante coeso com o gênero e apesar de não ter nada de particularmente inovador, ele joga seguro e joga bem com os seus sistemas, o menu do jogo é muito bonito e dinâmico que deixa as batalhas mais interessantes, e toda a mecânica de Digimons é o verdadeiro diferencial do jogo.

A parte trilha sonora do jogo dispensa comentários, a trilha original é composta por Masafumi Takada entre outros nomes como Jun Fukuda, Tomoaki Oga, e etc, e eles fazem um trabalho muito bom e que casa bastante com a atmosfera do jogo.

As trilhas sonoras das cidades são os destaques aqui, possuem bastante energia e nos envolvem com o ambiente.

Temos também DLCs com várias músicas da série, de jogos até os animes, e infelizmente se quisermos ouvir um Brave Heart durante as batalhas, precisamos desembolsar uma graninha para ter esse privilégio.

A dublagem do jogo em japonês tem um padrão muito bom. Já em inglês, bem, é um tanto ruim, mas bastante engraçada e bem “pateta” já que os Digimons sempre anunciam seus ataques especiais daquele jeito que as vezes só fica legal em japonês mesmo, mas ainda assim tem um certo charme.

O jogo veio com localização em PT-BR, mas sem dublagem, porém completamente legendado e bem localizado, ponto positivo para a Bandai Namco.

Considerações finais

Time Stranger pega pessoas de diferentes “tribos” seja pelo pessoal da nostalgia, seja pelo pessoal que gosta de jogos como Pokémon, ou seja no pessoal que gosta de um bom JRPG. Time Stranger é um título muito bom que nem precisaria dessa carga inteira para abrir os olhos de muitos jogadores.

Um dos melhores JRPGs do ano com toda certeza, e que não pode passar despercebido pelos fãs da franquia. Ele coloca uma evolução significativa em toda a área técnica e seu visual é bastante charmoso e atualizado, os modelos dos Digimons estão muito bem atualizados com mais cores e mais detalhes que dão uma vida nova a eles, além de todo o primor na parte artística que compõe uma atmosfera excelente.

Comparação dos modelos de Cyber Sleuth (esquerda) com Time Stranger (direita)

Time Stranger teve um auê bastante significativo ainda fora do Japão, e foi bem recebido em geral, e isso pode marcar um futuro bem promissor da franquia, que se continuar nesse eixo, podemos ver títulos ainda melhores e mais progressores na franquia.

Foi um dos meus jogos favoritos do ano, e eu estava a um longo tempo sem jogar um jogo do Digimon, então foi uma surpresa e tanto, e ele é de longe um dos melhores jogos que a franquia já teve.

Outras reviews:

Escritor Freelancer. Tenho como paixão primária em videogames e principalmente no gênero JRPGs, mas também sou fascinado por filmes e animações.