E se pudéssemos ter a experiência de ler HQ’s transportada para os videogames? A tarefa é difícil e diversos títulos já se aventuraram nesta missão. Dustborn, porém, a cumpre com maestria, bebendo claramente de fontes que introduziram conceitos de sucesso anteriormente.
Ao jogar é natural relembrar outros jogos de sucesso com foco em narrativa e com um gráfico cartunesco: os títulos da Teltalle Games e a popular franquia “Bordelands” são exemplos.
No entanto, há muito de original na obra produzida pela Red Thread Games, sendo, inclusive, uma poderosa ferramenta de reflexão e inclusão. No universo de Dustborn, ser diferente – ou até mesmo esquisito – é mais do que normal, é belo.
O jogo estará disponível a partir de 20 de agosto para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X / S, Xbox One e PC.
A narrativa é o foco em Dustborn
A dinâmica de “suas escolhas importam” estão presentes por aqui. Porém, ao menos aparentemente, nossas escolhas definem como a história de cada capítulo será contada, mas não exatamente mudará o rumo da estrada seguida pela narrativa. Porém, não se engane, o game traz reviravoltas que, independente de suas escolhas, tem grande potencial de te surpreender.
Por falar em estrada, Dustborn encanta ao nos levar para um passeio de ônibus por um Estados Unidos utópico, nos ambientando em um interessante universo cartunesco, onde a protagonista Pax possui o poder de ditar o rumo da história.
Com o poder de decidir utilizar ou não as habilidades dos personagens – chamadas de vocals – ditamos como a HQ apresentada ao fim de cada capítulo se desenrolará. Inclusive, é nesta tela que temos acesso à porcentagem de jogadores que seguiram o mesmo caminho.
A princípio, somos apresentados a quatro personagens: Pax, a protagonista, seus amigues Noam e Sai, além de Theo, disposto a ajudar em troca de suporte em sua missão pessoal.
Com o passar da jogatina, diferentemente da narrativa principal em si, você sentirá estar moldando a relação de Pax com esses personagens, sendo crucial estar atento a cada oportunidade de conversar com eles, principalmente antes de seguir com uma decisão.
Os personagens são ricos em diversidade e possuem personalidades interessantes de se explorar. Mais tarde, somos apresentados a mais pessoas – e também um robô – que fazem parte da jornada.
Gameplay divertida, mas repetitiva
Neste ponto, a Red Thread Games tentou claramente inovar, trazendo assim mecânicas únicas durante batalhas com a “Justiça” (uma espécie de polícia presente no game) e outros grupos, como uma gangue de motoqueiros.
Porém, é fácil se perder com tanta informação, além de, por mais que possa trazer diversão incialmente, a gameplay em batalhas torna-se repetitiva e desinteressante com o passar do tempo, principalmente se a curiosidade pelo desenrolar da história seja maior do que o desejo de lutar.
Fora das batalhas, temos mais do mesmo que já conhecemos em títulos do gênero narrativo: devemos caminhar em cenários fechados, interagindo com objetos e personagens, enquanto resolvemos puzzles não muito complexos.
Por fim, o “veredito” referente à gameplay é: se não está disposto a mergulhar em um jogo voltado para a narrativa, sua experiência pode não ser das melhores.
O mundo distópico de Dustborn
Temos aqui um dos pontos mais interessantes em Dustborn. O game ambienta-se em uma realidade paralela, onde John F. Kennedy nunca foi assassinado, a tecnologia alcançou níveis elevados e uma explosão de informações resultou em algumas pessoas com poderes.
Temos, porém, uma ligação clara com a realidade, onde o fato de uma minoria possuir características diferentes da grande maioria resulta em exclusão e até mesmo perseguição.
Os “anomals”, como são chamadas as pessoas dotadas de superpoderes, são perseguidos por uma organização do governo intitulada como “Justiça”, e precisam assim esconderem seus dons ou procurarem comunidades livres para viverem longe de uma verdadeira ditadura.
A brilhante ligação com a música
Os amantes de música – principalmente os que possuem um sonho adormecido de ter uma banda de rock – terão um prato cheio em Dustborn. Aos órfãos do recente “Hi-Fi Rush”, fica aqui o chamado!
Apesar de não introduzir o ritmo em toda a gameplay, o game flerta diretamente com a música, colocando os protagonistas como uma falsa banda em turnê pelos Estados Unidos. Assim, precisamos praticar e criar novas músicas, além de realizar apresentações no maior estilo “Guitar Hero” – com bem menos complexidade, é verdade.
Uma observação interessante: diferentemente da experiência de ler uma história em quadrinhos, aqui podemos não só presenciar movimentos, como também ouvir músicas, o que agrega de forma inteligente ao conceito visual do game.
Poucos bugs, mas diversos problemas
Durante as batalhas e gamplay como um todo, poucos bugs são aparentes, com excessão de algumas irritantes quedas de frames e problemas de iluminação – estes presentes em diversos títulos do gênero “cartunesco”.
No entanto, ao menos na versão disponibilizada para reviews no Xbox, há problemas de desempenho que vão muito além da queda de frames, com o jogo fechando por algumas vezes durante as telas de carregamento, por exemplo. Apesar de irritante, este é um problema que pode facilmente ser resolvido com um patch pós-lançamento oficial.
Dustborn vale a pena?
Dustborn trata-se claramente de um jogo voltado para um nicho específico de jogadores, enquanto traz dinâmicas para atingir públicos diferentes, como os amantes de jogos musicais.
Se você curte jogos de narrativa voltados para escolhas durante diálogos e com alguns puzzles, deverá sentir-se saciado com Dustborn e seu interessante universo.
Questões sociais e sobre saúde mental são abordadas de forma prática, sem rodeios, durante a história, trazendo profundidade e originalidade à obra da Red Thread Games. Ou seja, trata-se de um título perfeito para quem gosta de relaxar e refletir com os videogames
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