Lords of The Fallen
Lords of The Fallen

Review | Lords of the Fallen: combate e diversão em dois mundos

Dois mundos, uma lâmpada e um sonho!

Em 2014, o estúdio alemão Deck13 lançou o primeiro Lords of the Fallen, que, à época, recebeu críticas bastante divididas. Ainda que nem todas as análises tenham sido favoráveis, qualquer review de Lords of the Fallen daquele período reconhecia sua tentativa ousada de estabelecer um novo caminho dentro do nascente gênero Soulslike — especialmente em uma época em que títulos como Dark Souls 3 e Bloodborne sequer haviam sido concebidos. Sua ousadia foi notável: em meio a um cenário ainda indefinido, arriscou-se a explorar territórios sombrios e desconhecidos.

Desde então, a promessa de uma continuação enfrentou uma série de percalços. O projeto passou por um conturbado ciclo de desenvolvimento, marcado pelo afastamento dos criadores originais e pela posterior desistência de um segundo estúdio, que abandonou o trabalho após apenas um ano de envolvimento. O avanço parecia cada vez mais distante, como um castelo em ruínas soterrado pelo próprio peso das expectativas.

Diante desse impasse, a editora CI Games optou por assumir o controle da situação. Em um movimento decisivo, fundou o estúdio interno Hexworks, visando reimaginar a franquia desde suas fundações. Assim nasceu uma nova proposta: não uma simples continuação, mas uma reinicialização completa.

Anunciado em 2022, o novo título carrega o mesmo nome do original — Lords of the Fallen. Uma escolha carregada de simbolismo, que sugere tanto um retorno às origens quanto um rompimento com os erros do passado. É como se o jogo renascesse das próprias cinzas, trajando um manto mais sombrio, empunhando novas ideias, mas mantendo viva a essência que outrora o colocou no mapa.

Confira minha review de Lords of The Fallen e saiba os motivos que me fizeram adorar cada canto destes dois mundos.

Uma jornada sombria recomeça

Desde seus primeiros momentos, Lords of the Fallen mergulha o jogador em um universo repleto de sombras, sacrifícios e promessas não cumpridas. A introdução cinematográfica, intensa e pulsante, estabelece o tom com maestria: um cavaleiro paladino sem nome é brutalmente empalado por uma criatura demoníaca montada em um dragão de três cabeças. Antes de tombar, ele lança uma estranha lâmpada — que, por um capricho do destino, escolhe você como seu novo portador.

Este reinício ocorre mil anos após os eventos do título original. Adyr, o deus demoníaco, retorna em busca de domínio. Cabe ao jogador, na pele de um Dark Crusader — um Portador da Lâmpada — atravessar as ruínas amaldiçoadas de Mournstead e encerrar sua ameaça de uma vez por todas.

Classes, combate e herança soulslike

O jogo oferece dez classes iniciais distintas, indo desde o feroz Lobo de Guerra de Udirangr até o místico Pastor de Orius, sem esquecer da opção mais punitiva e desafiadora, a classe Condenado, voltada aos jogadores mais obstinados.

Com um sistema de combate nitidamente inspirado pela série Souls, Lords of the Fallen adota uma abordagem que valoriza o controle da resistência. Golpes leves e pesados, esquivas precisas, chutes e aparos compõem a base de seu sistema ofensivo.

A familiaridade se estende à terminologia: Souls dão lugar ao Vigor, as clássicas fogueiras são substituídas por Vestígios, e os frascos de cura recebem o nome de Sanguinarix. A progressão segue a estrutura tradicional dos RPGs de ação, permitindo ao jogador aprimorar atributos como Força, Vitalidade e Resistência.

Entretanto, apesar da presença de sistemas de postura e aparo, sua implementação parece incompleta. Aparar exige precisão milimétrica e, mesmo com escudo, pode levar múltiplas tentativas para quebrar a postura de inimigos mais robustos — o que contrasta com a resposta imediata vista em Dark Souls e se aproxima mais do estilo reativo de Sekiro.

Magia, alcance e três escolas arcanas

Para os que preferem manter distância do combate corpo a corpo, o jogo apresenta um arsenal de longo alcance com arcos, bestas e um sistema mágico robusto dividido em três escolas: Rhogar (fogo e destruição), Radiant (magia sagrada) e Umbral (artes negras). Cada escola exige catalisadores específicos, e o uso de projéteis especiais e ferramentas como granadas expande ainda mais as opções táticas.

O Sistema de dois mundos: Axiom e Umbral

O diferencial mais marcante do título está na Lâmpada Umbral, uma relíquia que permite alternar entre dois planos: Axiom, o mundo dos vivos, e Umbral, o reino dos mortos. Inspirado por clássicos como Legacy of Kain: Soul Reaver, esse sistema transforma a exploração em um quebra-cabeça multidimensional. Muitos segredos só são revelados no reino sombrio, forçando o jogador a navegar entre dimensões para desbloquear atalhos e encontrar tesouros ocultos.

A morte em Axiom leva o jogador a Umbral, concedendo uma segunda chance. No entanto, morrer novamente nesse mundo espectral resulta em uma morte definitiva, levando-o de volta ao último Vestígio.

Prolongar sua estadia em Umbral aumenta os riscos: inimigos mais poderosos surgem à medida que um sinistro olho no canto da tela observa o avanço do jogador, simbolizando o próprio fôlego da morte se estreitando ao seu redor. Ainda assim, a recompensa cresce junto ao perigo, já que o multiplicador de Vigor também aumenta.

A Lâmpada: ferramenta, arma e janela para o além

Mesmo fora de Umbral, a lâmpada continua essencial. Com ela, é possível revelar inimigos ocultos, destruir parasitas interdimensionais que regeneram a vida dos inimigos e utilizar a habilidade Soul Flay, arrancando a alma de um inimigo para enfraquecê-lo. Trata-se de um recurso tático engenhoso e visualmente impactante, que aprofunda a complexidade do combate.

Design de níveis e exploração

Primeiramente, Lords of the Fallen se destaca no que diz respeito à construção de mundo. Os mapas são intricados, interconectados e convidam à exploração contínua. Além disso, cada região apresenta um verdadeiro labirinto gótico, repleto de atalhos, armadilhas e passagens ocultas, onde cada nova descoberta parece uma pequena vitória.

Todavia, nem tudo funciona com a mesma elegância. O impulso exagerado ao correr ou esquivar-se pode levar o jogador a quedas involuntárias. Portanto, o mapeamento do botão de coleta ao mesmo comando de salto gera confusão, e a animação obrigatória para recuperar Vigor em áreas de combate intenso pode comprometer a experiência.

Estética, áudio e atmosfera

Graças ao poder do Unreal Engine 5, Lords of the Fallen apresenta um espetáculo visual digno de nota. Com a tecnologia Nanite e o sistema de iluminação global Lumen, Mournstead é retratado com uma beleza sombria que oscila entre o sublime e o opressivo. A arquitetura gótica, os detalhes ambientais e os efeitos de partículas criam uma atmosfera imersiva, ainda que, por vezes, o excesso de efeitos visuais torne difícil discernir o próprio personagem em meio ao caos.

Em termos sonoros, o jogo teve um início atribulado. Um bug grave eliminava quase todos os sons, limitando a ambientação a ruídos ocasionais. Contudo, atualizações subsequentes corrigiram o problema. A trilha sonora — composta por Cris Velasco (God of War, Bloodborne) e Knut Avenstroup Haugen (Conan Exiles) — eleva o clima com composições melancólicas e picos dramáticos, enquanto as atuações vocais adicionam peso emocional e misticismo ao enredo fragmentado.

Multijogador, crossplay e longevidade

A experiência multijogador atende às expectativas dos fãs. O sistema cooperativo permite partidas de dois jogadores, e o modo PvP traz batalhas tensas com recompensas em moedas especiais e Vigor. Jogadores que desejarem evitar invasões podem desativá-las offline ou adquirir itens in-game para proteger-se. Há suporte para crossplay entre PC e consoles, embora ainda não haja compatibilidade entre Xbox e PlayStation.

Em seguida, quanto à duração, o conteúdo oferecido justifica plenamente o preço padrão de jogos AAA. Com cerca de 30 a 40 horas para completar a campanha principal, múltiplos finais e a opção de New Game Plus, o jogo promete facilmente centenas de horas para os mais dedicados.

Considerações técnicas e finais

Finalizo esta minha review de Lords of The Fallen dizendo que, embora o jogo demonstre ambição e apuro técnico em diversas frentes, alguns problemas persistem. Quedas de desempenho, bugs gráficos e ausência de transições suaves em menus afetam a imersão. Em momentos de grande demanda gráfica, o jogo luta para manter 60 quadros por segundo, mesmo no PlayStation 5.

Ainda assim, Lords of the Fallen é um renascimento digno. Ele respeita suas raízes, amplia os limites do gênero e apresenta ideias realmente novas, como o sistema de dois mundos. Mesmo com imperfeições, é uma jornada que instiga, desafia e recompensa — um verdadeiro testamento ao potencial da fantasia sombria interativa. Qualquer review Lords of the Fallen que se preze inevitavelmente se depara com esse equilíbrio entre ousadia criativa e tropeços técnicos, refletindo a dualidade que o próprio jogo encarna.

Obs: Análise realizada com código enviado pela nossa parceira Nuuvem.

Leia também:

Apaixonado por games, filmes, séries, músicas, HQ's e por cachorros. Jogos desafiadores são meus preferidos. Jogo, assisto, ouço, leio e, às vezes, exerço minha profissão de professor.