SNK vs. Capcom: SVC Chaos é um Fighting Game de 2003 desenvolvido pela SNK Playmore e lançado para Arcades, PlayStation 2 (somente no Japão e na Europa) e exclusivo de Xbox nos Estados Unidos – o que faz ser irônico esse relançamento não ter sido lançado para as plataformas da Microsoft, ela foi a única que ficou de fora já que esse relançamento saiu para PS4, Nintendo Switch na Steam na GOG e, tecnicamente também não saiu para o PS5, mas como ele é retro compatível com o PS4, não fica de fora.
O relançamento aconteceu nos dias que rolou a EVO 2024, 20 de julho pra GOG e pra Steam e 22 para o PS4 e Switch, e foi relançado pela Code Mystics, que é responsável pelo relançamento de outros jogos de luta como Garou: Mark of the Wolves, The Last Blade SNK VS. CAPCOM de NEO GEO Pocket, e até mesmo implementar Rollback Netcode no Samurai Shodown de 2019.
Agradecemos a SNK por ter cedido o código de PlayStation 5 para análise!
O que é SVC?
SVC é parte de uma parceria com a Capcom que rendeu ótimos jogos crossovers das duas empresas. A Capcom produziu dois jogos de luta com o nome de Capcom vs SNK (o nome de quem desenvolveu o game vem primeiro) e eles são, de longe, dois dos melhores da época.
O primeiro tem as melhores apresentações visuais que eu já vi em um lutinha, e o segundo é um espetáculo em gameplay e roster de personagens (e foi dirigido pelo lendário Hideaki Itsuno, responsável por Devil May Cry 3 e Dragon’s Dogma). Enfim, são jogos consagrados e celebrados na comunidade de Fighting Games, já SVC Chaos é um pouco diferente.
SVC: Chaos saiu em uma época conturbada com a SNK: ela estava à beira da falência quando foi comprada pela Playmore. Nesse meio tempo, ela licenciou suas IPs para outras empresas como a BreezaSoft, que então entregou o desenvolvimento de uma das principais franquias da SNK: o The King of Fighters, para a Eolith (uma desenvolvedora sul-coreana). Então, tivemos o KoF 2001 e o famoso da garotada, KoF 2002, que tem um sucesso inegável na América Latina, mas passa longe de ter a mesma qualidade dos outros títulos da SNK.
Essa trajetória da SNK é longa (e um pouco engraçada), recomendo ler o artigos a respeito para quem tem curiosidade a respeito.
Enfim, SVC Chaos foi um dos primeiros títulos a serem gerados dessa fusão com a Playmore, o que eu vou dizer agora é puramente suposição, mas imagino que no meio desse turbilhão de coisas que aconteceu com a SNK, SVC também foi afetado, e mesmo com uns baixos dele, o jogo ainda tem um saldo bem positivo.
E qual é a história aqui?
Como todo bom jogo de luta clássico, aqui não temos um modo história ou coisa do tipo. Na verdade, temos o clássico modo Arcade, em que você escolhe um personagem, detona todo o roster, enfrenta chefes (e alguns secretos) e enfim vê o final do personagem com um pouco da sua historinha.
Mas o SVC tem um diferencial bem bacana em comparação a outros jogos de luta. Aqui, no início de toda batalha, os personagens “trocam um papo” com alguns diálogos bem legais, dando um contexto maior para cada um deles.
Pouca coisa faz sentido nesse crossover: o setting dele, e até os personagens escolhidos, são esquisitos. Além disso, temos coisas que tentam explicar o inexplicável, como, por exemplo, o mangá abaixo do jogo (que eu tenho minhas dúvidas se é oficial), que tenta coontextualizar o fato dos personagens estão em uma espécie de purgatório:
Porradaria Clássica
O roster de personagens consta com 36 personagens: 24 deles são do padrão do jogo e outros 12 são personagens escondidos ou chefes do jogo. Aqui podemos selecionar todos segurando o R1. Entre eles temos os mais clássicos, como os World Warriors de Street Fighter; os mais populares da SNK; mas também temos uma pancada de escolhas peculiares no roster.
Aqui temos o Genjuro sendo o representante de Samurai Shodown no lugar do Haohmaru ou da Nakoruru – que geralmente são os escolhidos. Também temos a Tessa, do esquecido mas precioso Red Earth; Zero do Megaman Zero; o ETzinho de tentáculos do Metal Slug, entre outros.
Isso pode afastar algumas pessoas, mas eu acho sensacional o roster em geral. Da mesma forma, eu adoro quando as devs de Fighting saem fora da caixa e escolhem os personagens mais inusitados para fazer parte do elenco – destaque, inclusive, para o Demitri representando os Darkstalkers no lugar da Morrigan, como sempre acontece.
Agora, falando da ação mesmo, a SNK jogou seguro aqui. O gameplay é bem familiar para quem está acostumado a jogar os seus KoFs, 4 botões, soco fraco, forte, chute fraco e forte – um tipo de defesa especial chamado de “Front Grand Step”, que funciona quase como o famoso parry de Street Fighter 3. Nele, você dá um passo à frente do ataque do inimigo e consegue uma oportunidade de contra-atacar.
O jogo também tem uma barrinha que vem dos jogos da Capcom, que aumentam para lvl 1 e lvl 2. Essas barras permitem ao player fazer os Supers e também utilizar modos de defesa especiais ou cancelar movimentos em combos. Nesse sentido, quando a barra enche, o MAX Mode é ativado – o que faz a barra de Special ficar com um timer – e, nesse tempo, você pode utilizar um “secreto” chamado de Exceed, considerando que cada personagem tem, no total, um Exceed.
O estranho visual
O jogo foi desenvolvido para a poderosa (mas cansada) MVSX, então ele utiliza a mesma engine gráfica que todos os outros jogos da SNK utilizam. Assim, apesar dela fazer milagres surpreendentes, como o Garou: Mark of the Wolves ou The Last Blade, quem não sabia desenvolver bem (ou não tinha o tempo para brincar com a engine) saía no prejuízo.
Em comparação ao Capcom vs SNK, SVC Chaos tem um visual abaixo do esperado, principalmente nos cenários. Aqui, muitos deles são visualmente esquisitos e meio escuros. Além disso, o jogo tem uma temática meio pós-apocalíptica/futurista, o que é um pouco decepcionante em comparação ao CvS – que trazia muitos cenários clássicos refeitos, mas tinha uma identidade visual caprichadíssima e mais pé no chão que SVC.
A sprites dos personagens, entretanto, não são decepcionantes assim, apesar da SNK reutilizar bastante sprites de seus outros títulos. Na verdade, temos bastante carinho em geral, trazendo uma visão mais “SNK” para os personagens da Capcom – e destaque gigante para a sprite novíssima do Demitri de Darkstalkers, que é a única vez que vemos uma sprite nova do personagem fora da sua série principal e que não é reutilizada pela Capcom, como ela teve a cara de pau de fazer com a Morrigan no CvS.
Então, temos vários personagens icônicos com uma pegada diferente no visual, o que é muito legal de se ver. Isso, sem dúvidas, é o maior ponto positivo do jogo ao meu ver.
Trilha Sonora mediana
Na trilha sonora o jogo pecou bastante. Temos uma trilha sonora bem esquisita e esse caso é bem triste, porque a SNK geralmente arrebenta em suas trilhas sonoras. Basta ver o currículo de KoF em comparação: ela tá bem mais a par da OST do KoF 2002 que, como sabem, não foi feito pela SNK em si. Então, a trilha sonora era bem esquisita no geral, e continua esquisita por aqui.
Os efeitos sonoros são bem mais ou menos também. As escolhas são péssimas mas, ainda assim, temos uma boa dublagem, apesar de ter uma mixagem de som esquisita e um narrador para lá de exagerado. Os dubladores em geral são os clássicos desses personagens, então eles mandam muito bem. Um dos meus favoritos aqui é o Violent Ken, e ver ele usando os ataques clássicos do Ken, mas com esse tom de voz mais sério e ameaçador, é muito bom.
Novas adições do relançamento
Começando pelo suporte on-line do jogo, aqui temos o Rollback Netcode implementado, que significa que em geral você terá uma boa experiencia com partidas online, seja com amigos ou com pessoas aleatórias.
O Online Play dele, entretanto, é bem simples. Aqui podemos achar ou criar salas, além de definir opções de sala, como deixar privado, permitir todos os personagens do jogo – o que dá acesso até aos personagens mais quebrados do jogo, como Geese e Zero, além de todos os outros bosses do jogo.
Você pode até mesmo customizar os personagens que deseja ter na sala. Por exemplo: é possível criar uma sala apenas com o Violent Ken e o Demitri como selecionáveis, sem os outros miseráveis. Além disso, também podemos fazer tipos de Lobby com salas normais ou torneios de eliminatórias, o que é muito bem-vindo. Outro detalhe interessante: temos um replay das 10 últimas partidas.
Gráficos e arte
Se você conhece esse tipo de relançamento, então sabe que não temos muitas opções para melhorar o visual, apenas formas de deixar ele mais aceitável, já que, originalmente, temos um jogo pensado para telas CRT.
Dessa forma, não temos a mesma qualidade gráfica da época, apenas formas de tentar melhorar o aspecto visual dele com scanlines que variam de 0 pra 50/100 – que eu particularmente não uso, pois, muitas vezes, deixa o jogo mais escuro do que deveria. Contudo, não fica terrível nesse em particular, visto que o visual dele já é meio “lavado” e escuro.
Temos o efeito smooth que tenta deixar o aspecto visual mais “pesado” para TVs modernas, mas apenas atrapalha a beleza dos pixels em geral. Além disso, temos opções de display que variam entre Normal, Large, e Strech. Eu jogo no Large, porque preenche a tela, deixando só uma janela sem esticar muito para não doer a vista, mas também sem deixar a tela muito pequena. Por fim, há um filtro Flicker, além de lindas Frame Arts para deixar as bordas bonitinhas com artes do jogo.
Modos e rank
De novidade, é basicamente isso. O que temos agora é o básico desses ports: um modo local em que você pode jogar com a galera localmente ou no modo arcade; temos o Pratice Mode para treinar; uma lista com os movimentos dos personagens para ficar fácil de se guiar; e um bônus muito maneiro. Nesse port tem uma opção para deixar as hitboxes ativadas para melhor visualização dos frames e dos ataques. Assim, quem quiser treinar pra ficar bom de verdade no jogo, esse port é uma boa escolha.
Por último temos um Ranking pra ver as estatísticas do online play, troféus e uma galeria com as artes do jogo – com artes de lendários artistas, como: Falcoon, Shinkiro e o Nona (que é o responsável pelo char design em geral do jogo).
Vale a pena?
Se você for vibrado em jogo de luta, sem dúvidas é uma compra que vai agregar a biblioteca dos Fighting Games. Mas, para o restante, eu diria que é uma boa esperar aquela promoção básica que esses relançamentos sempre têm, só pra dar aquela divertida com a galera.
Apesar de tudo, é um jogo de luta antigo, mas é sempre bom saber que estão buscando adicionar esses clássicos para consoles mais modernos. É ótimo ter uma opção a mais para jogar que não seja emulando o jogo, e eu espero que mais jogos dessa época sejam relançados.
A Capcom, enfim, vai relançar uma coleção VS que terá todos os seus jogos com a Marvel – até mesmo o Marvel vs Capcom 2, que estava num limbo total. Então, é bem capaz que ela relance uma coleção VS com a SNK e, se um dia acontecer, eu dou 3 piruetas, porque eu sonho com um relançamento bom de Capcom VS SNK há anos nessa vida, mas isso só o tempo dirá.
No mais, eu pessoalmente prefiro SNK VS CAPCOM do NEO GEO Pocket a SvC Chaos, mas aí a escolha e preferência é de vocês.
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