Review | System Shock: SHODAN retorna com melhorias em remake do clássico

Review | System Shock: SHODAN retorna com melhorias em remake do clássico

Lançado em 2023 para os PCs e em 30 de maio desse ano para os consoles de mesa, System Shock é um remake de um clássico jogo de FPS desenvolvido pela Looking Glass Technologies na década de 90, muito parecido com Doom e outros jogos em vários aspectos, mas que sabia ser criativo e único e não se escorava nos vários clones de Doom.

Com sua temática cyberpunk e o seu método de exploração totalmente livre, System Shock acabou virando uma grande referência pra futuros jogos, virou influencia no genero Immersive Sim, e principalmente para jogos como Bioshock (que é praticamente um sucessor espiritual da franquia), ambos têm uma estrutura parecidíssima em como a progressão do jogo funciona, com uma ampla exploração labiríntica e muitas influências de gameplay, Bioshock na época foi praticamente um “revival” de System Shock, e agora o próprio retorna com um remake bem decente.

Desenvolvido pela Nightdive Studios, estudio famoso por Remasters de vários clássicos de PCs como o jogo original de “Blade Runner” de 1997, “Shadow Man”, “Doom 64”, um próprio remaster do System Shock clássico. Nightdive tem um bom currículo e seus remasters em maioria são bem decentes, elogiados, e são bem cuidadosos com a experiencia em geral, o remake de System Shock é um dos poucos jogos originais deles já que eles são bem focados em remasters.

A análise segue em base a versão de PS5, e agradecemos de coração a PLAION por ter cedido o código para nós.

A luta pela sobrevivência contra SHODAN:

Review | System Shock: SHODAN retorna com melhorias em remake do clássico

Ambientado em  um futuro diatópico como todo bom Cyberpunk, System Shock se passa no distante ano de 2072 (e diferente de muitas histórias Cyberpunks esse é realmente num futuro distante), onde corporações dominam o mundo, aqui acompanhamos um Hacker sem nome que foi capturado pela corporação TriOptimum enquanto tentava hackear uma estação espacial deles chamada de Citadel.

Nesse processo, conhecemos o executivo Edward Diego da própria TriOptimum, que faz uma proposta confidencial para o Hacker de invadir e remover as permissões éticas da inteligência artificial que controla a estação chamada de SHODAN, para roubar um vírus mutagênico que está sendo testado na estação e vende-lo para o mercado negro, em troca disso o Hacker ganha um implante neural militar que o deixa em coma por seis meses.

Review | System Shock: SHODAN retorna com melhorias em remake do clássico

Então acordamos de um coma de meses e tudo está pegando fogo, temos a informação dada por Rebecca Lansing – uma consultora antiterrorismo da TriOptimum, de que SHODAN quer destruir a terra e precisamos de alguma forma detê-la, e aí começa a nossa exploração na Citadela que é um verdadeiro labirinto futurista cheio de camadas, e durante a nossa exploração ainda precisamos lidar com SHODAN que nos provoca (e mete um medo disgramado) em horas que lhe convém.

Já quero deixar bem claro que SHODAN é uma das minhas vilãs favoritas de videogame. O jeito que ela se comunica com você é bem perturbador, em sua voz ouvimos essa falta de emoção típica de inteligências artificiais e vários glitches ocasionais no meio de suas falas, a dubladora Terri Brosius ARREBENTA como SHODAN, seu trabalho é excelente e merece todo o reconhecimento do mundo.

LLLook at you, Ha–aa-cker.

Além do mais, ponto positivo pra dublagem! E assim como no original todos os arquivos de voz são dublados, apesar de algumas diferenças nos tons de voz (eu mesmo prefiro algumas dublagens do original) a galera do remake mandou muito bem.

O Visual Refeito da Citadela:

Este remake é uma nova versão de um jogo que usava misto de 3D com sprites, e bem, agora a Nightdive remodelou tudo para ser totalmente 3D porém querendo ainda manter aquele visual clássico retrô, então muita parte do cenário tem um certo “pixelado” de propósito (e eu podia jurar que era um erro da Unreal Engine), isso dá um grande charme para os cenários, tudo é um pouco “uncanny” demais por ser esse misto de realismo e pixelado.

Porém apesar do visual ser bem pensado artisticamente, ele sofre dos defeitos da Unreal Engine 4 principalmente pela iluminação e alguns dos clássicos visuais “plastificados” que o Bloom da engine proporciona, e isso por muitas vezes tira o impacto visual, mas nada que incomode a experiencia geral.

A Cabeça de um Hacker precisa funcionar:

Como eu já citei, esse é um Immersive Sim, ou seja, temos um labirinto para explorar (e um muito bem estruturado), uma variedade de inimigos bem grande, e bastante liberdade de manuseio pela Citadela, então o jogo gosta quando você pensa fora da sua caixinha quando convém.

Aqui nós temos um sistema parecido com a câmara de restauração de Bioshock em que você irá “respawnar” dentro de uma delas em pontos específicos do mapa, que pode ser um tanto longe do ultimo lugar que você estava, ou não, então se prepare pois o jogo é desafiador até mesmo na dificuldade normal (que foi a que eu joguei), e não se puna se morrer, qualquer coisa tambem você pode salvar e dar loading a hora que quiser, e isso no começo é bom, pois evita que você veja a sinistra cutscene de morte enquanto não acha uma câmara.

Eu vi isso mais vezes do que eu queria.

É muito importante descobrir formas de lidar com os inimigos, seja derrotando-os, ou fugindo deles completamente, o jogo não te incentiva a peitar eles necessariamente, você é livre para tomar essa decisão, já que recursos como munição e cura são bem importantes por aqui e muitas vezes são bem escassos.

Mas para dar um help nisso, o jogo tem sistemas de compras onde você pode trocar créditos por itens específicos (armas, upgrade de armas, munição e etc) em lojas por valores X, Tri-Credits – a moeda do jogo que são adquiridas ou explorando, ou aleatoriamente de inimigos, ou trocando reciclagem por créditos em máquinas especificas, aqui você pode pegar vários itens aleatórios que são apenas “Junks” no nosso inventário (que sim, tem espaço limitado) e reciclá-los para aí então trocar por créditos.

Já que eu falei em inventário é importante tambem tomar cuidado com ele, assim como em “Resident Evil 4”, nós temos uma maleta e armas e outros itens maiores ocupam um espaço considerável, então é importante o jogador reconhecer o cenário em que ele se encontra e saber guardar e usar armas especificas, não ter medo de deixar coisas de lado e vice versa, também temos uma espécie de caixa para guardar itens e ela aparece em diferentes layers do mapa, mas tambem é necessário fazer um certo “backtraking” se não conseguir carregar itens e quiser pega-los eventualmente, a cabeça do jogador precisar funcionar bem para recordar onde está as coisas nos cenários, o mapa ajuda bastante com markers e coisas do tipo.

Boa sorte com isso, Hacker.

Além de se preocupar com isso tudo que é um quebra-cabeça por si só, aqui também temos vários Puzzles, e eles são bem desafiadores mas bem divertidos de se completarem, no começo eu achei confuso demais, mas depois de aprender como eles funcionam a dificuldade diminuiu consideravelmente, eles são bem diversos com um bom design.

E por último temos uma espécie de minigame em sessões de “Hacking” onde hackeamos o sistema para abrir portas ou desativar coisas no mapa, aqui entramos em uma dimensão com aquele visual sensacional poligonal de desenho dos anos 90/ começo dos anos 2000 tipo Reboot, e aqui controlamos uma espécie de navinha num estilo de rail shooter 3D, onde aparecem inimigos poligonais para nos derrotar.

Apesar do visual sensacional, esse minigame é de longe a pior parte do remake, o controle é bem confuso e ele é bem desafiador por conta disso, e apesar de alguns serem opcionais, ele é bem importante no geral.

Efeitos Sonoros dignos de um Sci-Fi retrô:

O som das armas é espetacular, armas físicas tem aquele clunk excelente, armas de fogo tem um bom peso no manuseio e um bom som de acerto, mas o especial é as armas de plasma, as armas de plasma têm um som espetacular, que te da prazer de utilizá-las.

Um dos pontos fortes aqui é a variedade de inimigos como eu disse acima, e o jogo sempre busca fazer o jogador reconhecê-los, não só por seus movimentos e aparências, mas também pelo som que eles emitem, cada inimigo tem um tipo diferente de som que pode te deixar esperto em como se preparar para o que estar por vir, essa parte do design ta de parabéns.

A trilha sonora também é bem boa, mas na minha opinião a do clássico é insuperável, era uma trilha sonora muito legal e infelizmente não temos uma opção de trocar a nova por ela, mas não é um ponto negativo em si, a trilha ainda continua sendo boa.

Considerações Finais:

Nightdive fez um bom trabalho com o remake desse jogo, deixou os controles acessíveis e fez uma boa melhoria em várias partes dele para deixar o jogo mais amplo, sem perder o que fazia o original ser especial, além de que vale citar que o port para os consoles funciona muito bem, só precisa de um tempinho pequeno para se adaptar aos controles, mas nada demais.

Diferente de remakes como o mais recente do “Alone in the Dark”, “Final Fantasy VII: Remake/Rebirth”, e os da franquia “Resident Evil”, que buscam mudar drasticamente a experiencia do original e praticamente criar um jogo novo, o de System Shock se encaixa naqueles remakes que querem modernizar os visuais e buscar melhorar onde é possível, apesar dele em si mudar drasticamente a forma que o player joga e enxerga o jogo, é uma mudança de sprite para remodelagem total em 3D, e mesmo assim ele ainda continua com bastante do que fez o clássico ser importante, influente, e especial para muita gente.

Vale a pena? Se você busca um jogo em primeira pessoa (ou Immersive Sim) com um bom design de fases, bons puzzles e que te dá liberdade e criatividade para lidar com as situações que ele te apresenta, então sim, vale muito a pena, não é como um FPS moderno e apesar de Bioshock ser um tipo de sucessor espiritual dele, também não é tão tranquilo de se jogar como ele, mas com certeza vale a pena se você tem falta desse tipo de game atualmente.

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Escritor Freelancer, tenho como paixão primária em videogames e principalmente em JRPGs, apesar de amar cultura pop em geral.