Review | The Alters é um exemplo de criatividade no gênero de sobrevivência

The Alters é um jogo desenvolvido pela 11 Bit Studios – famosa por jogos como “Frostpunk”, “Children of Morta” e responsável também por publicar jogos como o indie “Indika”, que é outro jogo com temática interessantíssima.

Lançado em 13 de julho, e assim como esses outros títulos citados, The Alters é extremamente inteligente com ideias incríveis, que também pode ser um pouco confuso e brutal no gerenciamento do que ocorre durante o jogo.

É sem dúvidas uma das maiores surpresas que eu tive esse ano. O jogo passou despercebido completamente pelo meu radar, o que é uma pena pois eu aprecio muito Frostpunk e aprecio muito as ideias que a 11 Bit colocou na mesa de games nesse mundo. The Alters é outro desses casos, um jogo com uma produção digna de peitar os grandes desse ano, extremamente criativo e repleto de ideias bem executadas de formas incríveis.

Uma complexa expedição

Nós controlamos Jan – um sobrevivente de um acidente estranho que aconteceu em sua base móvel, que agora se encontra desamparado e sozinho nesse planeta estranho e hostil. A sua expedição tem como objetivo minerar um recurso chamado de Rapidium, que além de causar um efeito estranho no planeta, também tem efeitos interessantes no próprio Jan.

The Alters no núcleo é apenas um jogo de sobrevivência, onde precisamos minerar recursos de um planeta para escaparmos com esses Rapidiuns, temos então que minerar recursos naturais do mesmo; criar ferramentas e itens; customizar e melhorar a nossa base móvel; e ter uma boa relação com a nossa equipe, e é com a equipe que entra o que faz The Alters ser um destaque nesse tipo de gênero, pois o Rapidium permite a Jan criar clones seus em base possibilidades em sua vida.

Esses “clones” então são feitos em base de pontos chaves da vida de Jan, onde ele tem a possibilidade de tomar uma vocação diferente em cada uma delas, e todas essas suas vidas pararam no mesmo ponto (a expedição espacial), e eles então precisam trabalhar juntos para sobreviverem, e não é nada fácil lidar com uma possibilidade sua, ainda mais quando ele sabe que a sua existência é algo possivelmente tão insignificante.

Aprenda a lidar consigo mesmo

É com os Alters que as coisas começam a ficar complexas, a cada progresso que Jan faz ele se encontra em uma situação mais perigosa que a outra. Obstáculos (alguns comuns e outros nem tanto) vão aparecendo em seu caminho e ele precisa criar uma versão sua que saiba lidar com esses tais problemas melhor que ele. Então temos que ter cautela nesses momentos, e além disso, precisamos lidar com a nova personalidade criada dessa nova linha do tempo, e a maioria deles não lida muito bem com a situação que eles se encontram.

Além da comunicação com eles, temos a comunicação com a Ally Corp – eles que foram responsáveis pela expedição, e o objetivo deles é bem claro. Eles não ligam muito para o Jan, mas o Rapidium é muito importante, e você é a única chance deles para traze-lo até a terra.

The Alters lida com várias questões complexas sobre a vida e a sua existência, os personagens são bem interessantes e é genial o conceito que eles utilizaram aqui pois você não está lidando com uma equipe inteira de pessoas, você está lidando com você mesmo – você mesmo em outras possibilidades, mas ainda é você goste você ou não.

Então podemos ter várias conversas sobre o passado com os Alters, e a vida deles até a missão acontecer, e sabendo conversar e compreender cada um de suas personalidades é a chave para manter a consistência e como eles lidam com eles mesmos, além de claro, se preocupar com o bem-estar de cada um, pois eles são gente como a gente, e ignora-los pode ser estopim de um game over, pois se você não atender as suas demandas, eles podem se rebelar contra Jan.

Ver filmes, jogar jogos e outros tipos de coisas são essenciais para manter uma boa relação com a equipe de Jans, além de claro, ouvir o que cada um tem a dizer e as sugestões que eles têm para melhorar a qualidade de vida da expedição e da nossa equipe.

As atividades e as conversas com os Alters é o ponto alto do jogo, além de poder evoluir o nosso Jan como pessoa ao descobrir os feitos que eles fizeram em outras possibilidades.

Progressão que prende e vicia

Majora’s Mask fazendo escola

O gameplay do jogo é um tanto simples: A ação acontece com Jan explorando o planeta em um tempo limitado de umas 14 horas, e tomando cuidado com a radiação e as anomalias que vão aparecendo nessa jornada, e claro, gerenciando o que acontece no decorrer da expedição, usando itens que ajudam na missão e melhorando a qualidade de vida dele e dos Alters.

The Alters tem uma progressão narrativa parecida com “capitulos” onde acontece algo bloqueando nossa passagem, e precisamos dar um jeito de passar desse obstáculo para seguirmos até o ponto de resgate.

Temos um certo tipo de “gameplay de tiro” com as anomalias, em que precisamos mirar e segurar o dispositivo de luz para que a anomalia “morra” e vire recurso para nós, elas podem se aproximar de você ou podem apenas mexer o núcleo delas, o desafio é manter a mira no lugar.

Além disso cada “fase” do planeta tem uma novidade para ser descoberta nos mapas, e cada um deles também tem um aspecto único um do outro, o bioma desse planeta é muito curioso e muito bem feito, parece uma versão maluca da terra com aleatóriedades no bioma, a exploração apesar de ser limitada pelo tempo, também é muito boa e recompensa bem o jogador se ele tiver o hábito de explorar.

Uma das recompensas é achar uma anomalia diferente das outras, onde ao ilumar ela, ela nos guia até um recurso especial do planeta, que nos permite fazer pesquisas e melhorar os nossos equipamentos, melhorando a nossa qualidade de vida.

Mas a ação mesmo acontece dentro da base, aqui temos um gerenciamento de salas e lugares ao redor dela, podemos editar a nossa vontade como a maleta de Resident Evil 4.

Além disso, temos que gerenciar a construção dos itens e da base e temos que construir os lugares de acordo com a necessidade da equipe – como por exemplo, uma área médica para que a equipe não sofra com os empecilhos que aparecem no caminho, temos que concertar as partes da base construindo ferramentas, e temos também que gerenciar o espaço da base e aguentar chuvas magnéticas que podem danificar várias de nossos equipamentos, e ainda aumentar o nível de radiação.

O jogo me prendeu totalmente na forma como o gerenciamento de tudo funciona, as vezes é tão complexo que você não consegue dar conta de tudo, mas é um tremendo exercício para a mente, e que pode ajudar até na vida real!

Um bom mérito técnico

Graficamente e tecnicamente é um jogo bem-feito e bem bonito, mas que também tem algumas quedas de framerate e alguns efeitos mal encaixados nos gráficos, bugs com física também acontecem, mas nada que prejudique a experiencia geral.

O aspecto visual da base é muito bom, tudo tem um estilo de high tech, mas também é tudo muito feito as coxas, então temos salas bagunçadas e fios jogados para todos os lados.

O design sonoro também é muito bom, e o dublador de Jan manda muito bem como diferentes Jans, cada um fala de uma forma específica, e todos tem uma personalidade única, apesar de serem em essência a mesma pessoa.

Além disso temos ótimas músicas cantadas pelo próprio dublador do Jan, e os filmes que nós achamos no decorrer do jogo são ótimos e ótimas paródias de clássicos, como Alien.

Considerações finais

The Alters é uma outra grande surpresa que eu tive nesse ano, que está sendo um ano de descobertas para mim.

Um design de jogo absurdamente criativo e inteligente, repleto de opções e possibilidades diferentes em cada jogatina,todos eles são bem implementados aqui.

A 11 Bit mostra excelência em seu trabalho, não que isso fosse só de agora, Frostpunk também é um grande RTS de sobrevivência, mas The Alters é algo a mais, é um tipo de ideia que eu não esperava ver em nenhum lugar além de videogames.

O estilo de sci-fi do jogo é algo que me fascina também, eu amo jogo com essas pegadas espaciais, apesar de ser raro deles me agradarem, e The Alters é um exemplo excepecional. Uma mistura de Perdido em Marte com Mickey 7 (ou Mickey 17 para quem só viu o filme!) que deu muito certo e explora o melhor desses gêneros de ficção cientifica com sobrevivência espacial.

É um jogo que eu recomendo ao menos testar e experimentar, pode ser que muita gente não seja fã do gênero de sobrevivência, ainda mais levando em conta que não podemos voltar as nossas ações a hora que desejamos, precisamos sempre voltar um save de um dia anterior, e nos virar com o que temos, até enfim conseguirmos progredir.

Eu mesmo não sou um grande entusiasta de jogos de sobrevivência nesse estilo, mas a ideia e o design criativo de The Alters me prenderam e me cativou até o último momento, e é um jogo que eu pretendo jogar várias vezes fazendo várias coisas diferentes.

Um agradecimento a 11 Bit Studios por ter disponibilizado a key para essa review! The Alters foi lançado no dia 13 de junho, e está disponível para PlayStation 5, Xbox Series/Gamepass e no PC.

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Escritor Freelancer, tenho como paixão primária em videogames e principalmente em JRPGs, apesar de amar cultura pop em geral.