Existem obras na cultura pop que todo mundo que já ouviu falar, mas de tão longevas, preferem passar longe. “One Piece”, “Grey’s Anatomy” e “Star Trek” – embora cada uma das séries sejam independentes – são alguns exemplos, mas talvez o “pior” dos casos seja de Doctor Who. Por isso, nós, do Conecta Geek, vamos dar uma ajudinha a vocês em como começar a assistir uma série com mais de 60 anos.
Doctor Who?
Mas antes das dicas, quero fazer uma pequena introdução para os novos tripulantes, explicando sobre os conceitos básicos de Doctor Who:
Criado em 1963, a série foi vendida como um show que um avó viajava com sua neta e dois professores em uma nave especial para diversos momentos históricos do passado da humanidade. A proposta era criar uma fantasia leve em que, ao mesmo tempo levava entretenimento para o público infantil, ela também ensinava história, geopolítica e relações humanas. No entanto, não demorou para que a série criasse uma própria mitologia. Embora ainda fizesse esse trabalho educacional, Doctor Who ficou muito mais popular quando se tornou uma aventura espaço temporal e admitiu que seu protagonista é, na verdade, um alienígena.
Alguns já devem ter visto que a máquina que viaja no espaço e no tempo é em formato de uma cabine policial inglesa dos anos 60. Ela se chama TARDIS – Time And Relative Dimension In Space. Tempo e relativa dimensão no espaço, em tradução livre –, e a ideia inicial sobre ela é que essa nave, na verdade, se camuflasse em formatos adequados de acordo com o lugar que ela estacionasse. No entanto, já no início da produção, notaram que isso seria inviável orçamentalmente, então deram a desculpa que esse sistema deu falha e a nave ficou presa nesse formato desde que estacionou na Inglaterra.
Outro fator importantíssimo da série também surgiu por uma necessidade. O ator que interpretou a primeira encarnação do Doutor, William Hartnell (“A Cruz do Meu Destino”), passou a ter dificuldades em decorar os textos e começando também a tumultuar a produção. A substituição do ator era algo fora de cogitação. Foi então que surgiu a ideia de criar uma maneira que essa mudança de intérprete fosse feita de forma coerente com a história: toda vez que um time lord – título que o Doutor tem em seu planeta natal – sofrer um ataque mortal ou estiver prestes morrer, seu corpo passa por uma mudança, chamada regeneração. Assim, o personagem não muda apenas de aparência, mas também pode mudar de sexo, etnia e ganhar uma nova personalidade, mantendo apenas a memória, afinal, ainda é o mesmo indivíduo.
Essa decisão foi fundamental para que a série se tornasse tão longeva e que sempre passasse por grandes mudanças ao decorrer dos anos. Assim, os novos atores criam sua própria versão do Doutor, não ficando preso a uma emulação do passado. Somado isso a tramas que podem acontecer em qualquer lugar no espaço e no tempo, dão ingredientes para que Doctor Who seja uma fonte inesgotável de novas histórias.
A temporada que está por vir
Nada é mais adequado ao falar sobre uma série envolvendo viagem no espaço-tempo, do que falar sobre o futuro. Ok, embora possa ser uma piadinha, começar a partir da próxima temporada faz todo sentido porque, conforme o atual showrunner – é cara conhecida dentro do Universo Who – da série, Russel T. Davies, a contagem de temporadas será reiniciada. A ideia é criar, de fato, uma nova porta de entrada para possíveis novos fãs. Com Ncuti Gatwa (“Sex Education”) como Doctor e Millie Gibson, como Ruby Sunday e companheira na TARDIS, um novo elenco fixo será criado a partir dessa nova temporada.
É importante ressaltar que a distribuição internacional da série britânica, a partir de agora, será feita pela Disney. Por isso, há um apelo para a criação de um novo elenco fixo, e que, mesmo que existem milhares de anos – na série – de aventuras pra trás, os novos telespectadores não se percam cronologicamente. Na verdade, saber fragmentos dessas aventuras passadas, passou a se tornar um fator de curiosidade por parte de novos fãs, fazendo-os, naturalmente, ir atrás das temporadas anteriores.
Diferente de outras portas de entradas, que citarei abaixo, neste momento da série já existe um investimento maior em cenários, efeitos visuais e pós-produção.
1ª temporada da ‘série moderna’
A porta de entrada de muitos – inclusive de quem vos escreve – aconteceu no ano de 2005, após um longo hiato da série, que a partir desse momento passou a ser dividido em “série clássica” e “série moderna”. Neste ponto, acompanhamos a nona encarnação do Doutor, já deixando claro, que essa é uma continuação direta da série clássica.
No entanto, o showrunner da época, Russel T. Davies – sim, ele mesmo! – criou um novo grande evento envolvendo a vida do Doutor, seu planeta natal e seus maiores inimigos, algo que foi alimentado por sete temporadas e finalizado no filme especial de 50 anos da série.
Mesmo enfrentando problemas orçamentários – eu diria que era uma constante desde a série clássica – com direito a aliens visualmente toscos e efeitos visuais realmente sofríveis, a série se sustenta por ótimos textos e grandes momentos de atuação, sobretudo do personagem-título, interpretado por Christopher Eccleston (“True Detective”).
Minha recomendação é que, se você preferir esse caminho, por favor, tenha paciência, o início é difícil, mas em poucos episódios você será recompensado.
5ª temporada da ‘série moderna’
Em 2010 Doctor Who passou por uma grande revolução. Russel T. Davies acabara de sair do cargo de showrunner após quatro temporadas e alguns especiais. Steven Moffat (“Sherlock”), responsável por roteirizar alguns dos episódios mais queridos entre os fãs nas temporadas anteriores, agora comandaria a série rumo a uma proposta distante da ficção científica e indo em direção a algo mais próximo de uma fantasia. Esse momento também foi marcado de uma aproximação maior do público estadunidense, incluindo um arco inteiro da 6ª temporada se passar nos Estados Unidos (EUA).
Além de um novo showrunner, o protagonista ganhou um novo rosto, interpretado por um até então desconhecido Matt Smith (“A Casa do Dragão”) – na época, o ator mais jovem a interpretar o personagem-título. Essa guinada para a fantasia, próxima de um conto de fadas, é imediata, desde o primeiro episódio da 5ª temporada isso fica nítido. Embora tenha seus momentos de tensos e episódios mais voltados para o terror, essa fase é marcada por contar com alguns dos episódios mais bonitos de toda série, como uma aventura com o Van Gogh e uma reinterpretação alienígena de Um Conto de Natal, de Charles Dickens.
Por fim, outra mudança significativa na série a partir da 5ª temporada se dá pelo sucesso global, e, consequentemente, um maior orçamento para a produção de Doctor Who. Sabemos que a “tosquice” visual das temporadas anteriores pode ser um impeditivo para muita gente embarcar na série, então, a partir daqui, tanto em efeitos visuais, como maquiagem e direção de arte, existe um salto gigantesco. Aliás, essa foi a primeira temporada completa transmitida em HD.
8ª temporada da ‘série moderna’
Começo fazendo essa indicação com a ressalva que, embora dê para começar por aqui, as opções acima são mais acessíveis. Eu explico já.
Assim como na 5ª temporada existe uma mudança de ator principal na série, no entanto, na 8ª ainda há resquícios das três últimas temporadas. Elementos, personagens, além de manter o mesmo showrunner da fase anterior. Então, se você começar por aqui, pode ser que seja mais difícil por ver o Doutor interagindo com personagens que já conhece e que não serão apresentados para o novo público. No entanto, eu reforço que exista motivo para você começar a série por aqui: Peter Capaldi (“A Hora do Diabo”).
Essa é uma opinião pessoal, mas não é lá tão impopular assim. Acho, até com uma certa vantagem, que Capaldi foi o melhor ator que interpretou o Doutor em todos esses anos. Com uma versão completamente diferente do que estávamos acostumados com o personagem na era moderna, Capaldi vai do sombrio ao sensível com extrema facilidade, assim como consegue utilizar até mesmo de seu olhar e das marcas de um rosto envelhecido para entregar um personagem complexo, poderoso, e, por vezes, frágil.
Além disso, alguns dos grandes momentos da série são protagonizados por ele, incluindo um discurso antiguerra e um episódio inteiro do Doutor sozinho, costurando um grande monólogo com mais de 45 minutos.
Dica extra: assista episódios específicos antes de começar a acompanhar a série
Por fim, minha dica extra é que você assista um ou mais episódios esporádicos antes de iniciar por um dos caminhos acima citados. Você pode fazer isso por meio de listas – não é difícil encontrar na internet – ou por meio de amigos que sejam fãs da série. Se você tem um gênero ou tipo de história preferida, pode ter certeza que existe um episódio assim em Doctor Who.
Jamais comece pelo começo!
Por mais irônico que seja, o pior jeito de começar a assistir Doctor Who é pelo começo da série. Por ser uma série de 1963, ela conta com o formato, ritmo e orçamento – que já era baixo para a época – da TV dos anos 60. Não é péssimo, longe disso, existe até muita inventividade na série clássica. No entanto, esse é um tipo de produto que só funciona para já iniciados. Se você não for fã da série e sequer nutri carinho pelo personagem-título, JAMAIS comece pelo começo.
E aí, essa lista ajudou você? Se é um fã, diga nos comentários por qual caminho começou a assistir a série!
1 Comentário