Severance 2x06 Attila
John Noble e John Turturro em Ruptura | Apple TV

Crítica | Ruptura  – 2×06: Átila é um jantar indigesto de segredos e ilusões

Mesmo já estando familiarizada com a maneira como Ruptura transmite pequenas mensagens através de suas cenas, ainda consigo me surpreender a cada episódio. “Átila”, o sexto episódio da 2ª temporada, trouxe um foco maior nas relações interpessoais, com diálogos ainda mais profundos e metafóricos, que exigiram uma atenção extra da minha parte. Dessa vez, a trama deixou um pouco de lado seu faro investigativo, mas sem perder a sede por respostas. Após uma introspecção, consegui compreender melhor os eventos de Átila.

O jantar dos enigmas

Este episódio teve um desenvolvimento mais sólido nos acontecimentos paralelos. Podemos começar pelo jantar peculiar do trio de ouro: Irving, Burt e Fields (John Noble). A ideia do jantar, à primeira vista, não parecia muito promissora, mas acabou rendendo alguns dos momentos mais icônicos do episódio.

Mesmo sendo seu outtie, Burt demonstrou o mesmo senso de humor mórbido de seu innie, o que levantou suspeitas. Sabemos que as personalidades do innie e do outtie costumam ser bem diferentes, já que o innie não carrega as mesmas experiências e emoções do outtie. Então, será que Burt nunca passou, de fato, pelo processo de Ruptura? E se toda a história da sua demissão fosse apenas uma grande farsa?

Além de ser uma desculpa para passar um tempo com Burt, Irving aproveitou o jantar para investigar um pouco mais sobre a vida dele. Quando questionado sobre como foi parar no setor de Ruptura, Burt conta que entrou na Lumon para que uma versão de si mesmo (no caso, o innie) pudesse “ir ao céu” com Fields. É curioso como essa história se conecta com o apelido pelo qual eles se chamam — e que também dá nome ao episódio: Átila. Pesquisando mais a fundo, descobri que Átila foi rei dos hunos em 434, um povo bárbaro da Ásia, e que ficou conhecido como o “flagelo de Deus”. E eles juravam que não eram religiosos…

Outro detalhe intrigante foi Fields mencionar, em um comentário ciumento sobre o envolvimento de Burt com outro funcionário da Lumon, que ele trabalhava lá há 20 anos (!). Até o próprio Irving ficou perplexo com essa informação, já que, supostamente, o primeiro escritório de Ruptura foi inaugurado apenas 12 anos atrás. Meus pensamentos já estavam em espiral antes mesmo do episódio acabar.

O amor entre duas versões

Por outro lado, temos o crescente romance de Gretchen com o innie de seu marido, Dylan. Essa relação tem levantado um debate interessante: seria traição se apaixonar por outra versão do próprio cônjuge?

O contentamento de Gretchen ao passar alguns minutos com o innie de Dylan está estampado em seu rosto. Muito disso se deve ao desgaste evidente de seu casamento no mundo externo e ao fato de Dylan parecer ser alguém que começa muitas coisas, mas nunca as conclui. A conexão com seu innie talvez seja a versão do marido que ela sempre quis, mas nunca teve.

Por fim, temos Milchick representando o típico supervisor que, após levar uma bronca da chefia, desconta sua frustração nos funcionários, tornando-se ainda mais autoritário. Seu comportamento beira o ridículo, principalmente no “treinamento” de colocar clipes em papéis, evidenciando as tarefas absurdas e sem propósito a que os funcionários são submetidos.

Ele não é um prisioneiro — ao menos, não literalmente —, mas, depois de tantos anos dedicados a uma empresa tóxica, os pensamentos intrusivos começam a surgir: O que farei da minha vida se sair daqui?

Os fios desconectados de Mark

Acho válido dedicar um espaço apenas para as relações de Mark neste episódio, pois há camadas interessantes a serem analisadas. A começar por seu relacionamento com Helly. A busca pela Srta. Casey foi temporariamente deixada de lado, dando espaço para uma enxurrada de pensamentos sobre a traição de Helena, tanto com Helly quanto com o próprio Mark. Helena roubou um momento íntimo dos dois apenas para inflar seu próprio ego, forçando Mark e Helly a refazerem suas próprias memórias.

Como se não bastasse desestabilizar os internos, Helena agora resolveu se aproximar do outtie de Mark, quase que por acaso. Depois de perder a paciência com as tentativas da Dra. Reghabi de continuar a reintegração, Mark, faminto, vai a um restaurante — onde encontra Helena. Fica evidente sua tentativa falha de imitar a personalidade de Helly para conquistá-lo. Isso desperta em Mark uma sensação de familiaridade, dando-lhe o impulso que faltava para completar a reintegração.

Os efeitos colaterais da reintegração estão cada vez mais brutais e visíveis. As cenas finais, carregadas de tensão e violência, deixam claro que o que nos espera a seguir será muito mais intenso do que imaginamos.

Reprodução AppleTV+

Um passo para trás antes do salto

Confesso que, ao final do episódio, achei tudo muito arrastado e até desnecessário. Desde o primeiro episódio, a temporada vinha em um ritmo frenético e, a essa altura, na temporada anterior, já estávamos com mais acontecimentos na balança. Admito que isso me deixou mal acostumada. Mas, como já mencionei nas críticas anteriores, Ruptura sabe como dosar a informação e entregar apenas o que considera necessário.

Comparado aos outros episódios desta temporada, Átila me pareceu morno. Apesar da quantidade de informações e do desenvolvimento apresentado, ele serviu mais como um episódio de transição — necessário para preparar terreno para o que vem a seguir, mas, ainda assim, morno.

Leia as críticas dos episódios anteriores: