crítica the last of us temporada 2 episodio 6

Crítica | The Last of Us – 2×6: Uma reflexão sobre a paternidade e o perdão

No último domingo (19), foi disponibilizado o sexto e penúltimo episódio da segunda temporada de The Last of Us. “O Preço” é o capítulo de maior emoção e reflexão dessa etapa da série da HBO, mostrando que nunca é tarde para bons flashbacks.

The Last of Us volta no tempo para fortalecer sua narrativa

Assim como no jogo, na série da HBO retornamos ao período entre os acontecimentos da primeira e da segunda temporada para entendermos melhor a motivação de Ellie (Bella Ramsey) e seus sentimentos por Joel (Pedro Pascal) antes da morte de seu pai. E aqui, deixo de mencionar essa relação com aspas ou até mesmo de relacionar Joel como pai adotivo de Ellie. “O Preço” tira qualquer dúvida de que os protagonistas se viam em uma relação de pai e filha independente de como se chamavam ou o que sentiam. Joel foi um pai para Ellie e ponto final; fim de um questionamento que talvez a série tenha levantado propositalmente nos últimos episódios.

Como pai, Joel errou e acertou e uma ideia de Craig Mazin que inicialmente me pareceu apelativa e desnecessária se mostrou genial no decorrer do episódio. Logo no início somos levados ao passado, na adolescência de Joel (aqui Andrew Diaz) e infância de Tommy (então David Miranda) para entender como foi a relação do protagonista com seu pai. Assim, podemos ver como aflorou-se em Joel o senso de “defensor”, já que precisava – ou ao menos tentava – acobertar o irmãozinho para evitar as surras do pai policial que, apesar de violento, era presente na medida do possível e tentava ser o melhor para os filhos, mesmo que o que ele pudesse oferecer fosse longe do ideal.

E quando menos esperávamos fomos banhados pela bela atuação de Tony Dalton como Javier Miller, num take de tanta sensibilidade, em que seu personagem despe suas emoções frente a seu filho ao ser confrontado, protagonizando um momento que seria repetido mais tarde de forma emocionalmente brilhante por Pedro Pascal, antecipando assim uma frase carregada de sentimentos e que viria a ditar o ritmo do episódio…

“Espero que você seja melhor do que eu”

E foi essa frase que ecoou na mente de Joel até o momento em que ele se torna-se pai. No pouco que vimos dele com Sarah no primeiro episódio da série da HBO, sabemos que a forma como tratava a adolescente era bem distante da que recebeu em sua adolescência e no fim da primeira temporada – quando seu lado paterno já estava mais do que aflorado novamente – vimos que o mesmo ocorreu com Ellie, principalmente durante o período relatado no episódio dessa semana.

Agora em um mundo banhado por dor e repleto de adversidades, em Jackson Joel viu a oportunidade de dar a Ellie tudo o que uma adolescente precisa, desde comemorações de aniversários à compreensão em uma fase tão conturbada, algo que muito provavelmente ele não recebeu de seu pai e por isso sabe o tamanho da importância. Isso se evidencia em um dos momentos de interação mais magníficos entre os dois, onde ele prepara um museu abandonado por meses para uma surpresa de aniversário, proporcionando à filha uma experiência única, entendo assim suas necessidades e respeitando sua curiosidade.

Abro aqui um parágrafo para revelar o quanto esse episódio bateu em mim de forma emocional e assim, muito provavelmente tenha me colocado dentro de seu público alvo – o que também explica o porque de, pelo menos até então, ser meu preferido, mesmo repetindo erros já irritantes da obra. Ainda bem, estou longe de saber o que é viver sem uma presença paterna ou de sofrer qualquer tipo de violência durante minha infância mas acabei privado de sonhar e viver experiências que seriam importantes como ser incentivado a gostar de dinossauros e do espaço, visitar locais incríveis como museus e outras coisas que cabem aos pais – e aqui estendo a reflexão para figuras paternas e maternas – proporcionarem a seus filhos ainda na infância. Ao liberar o perdão, me reaproximei e entendi que meus pais me deram o melhor que acreditavam ser possível e hoje sonho em ser pai um dia justamente para proporcionar esse tipo de experiências ao meu filho. Foi lindo ver em tela exatamente esse sentimento em Joel e assisti-lo entregar tudo isso à Ellie meio em um mundo pós-apocalíptico, onde isso seria inicialmente inimaginável; o esforço de um pai para proporcionar à filha algo que, muito provavelmente, não pôde vivenciar em sua infância.

Porém, por mais que possamos nos esforçar para sermos o nosso melhor, ainda assim cometeremos erros iguais ou diferentes de nossos pais e Joel magoou Ellie profundamente por meio da mentira. Acima do peso de saber que pessoas morreram para que ela permanecesse viva e que talvez fosse a última esperança de uma cura para a humanidade, Ellie precisa lidar com a decepção. Em um momento brilhante de Bella Ramsey, conseguimos sentir quando ela descobre, por meio da repetição do comportamento de Joel ao matar Eugene em uma falsa promessa, que ele mentiu para ela no passado e a confiança se rompe, algo extremamente difícil de se reconstruir e que só pode renascer por meio do perdão.

Isso culmina poucos meses depois na tão marcante conversa após o ano novo, uma cena que não só fez jus ao legado do material original como também trouxe uma emoção a mais que apenas uma obra em live action pode proporcionar. Em mais um banho de emoção, vemos agora Joel com quase a mesma fisionomia que seu pai no início do episódio, porém carregada de sentimentos ainda mais profundos, como a culpa e o desespero de ver uma mentira que acreditava ser importante desmoronar, junto do alívio de enfim poder falar a verdade, seguido ainda de um alívio ainda maior e inesperado pelo próprio ao ouvir de Ellie que tentaria perdoa-lo, por mais difícil que isso possa ser. Essa é a última lembrança que Ellie tem com Joel e deixar que seja também a nossa é importante para que possamos entender os sentimentos da protagonista e suas motivações para o decorrer da trama.

Um adeus digno para Pedro Pascal, em sintonia perfeita com Bella Ramsey

Não posso me alongar muito mais, porém preciso abrir um tópico para elogiar as formidáveis e sensíveis atuações de Pedro Pascal, em sua despedida de The Last of Us, e Bella Ramsey, ao receber o bastão de principal nome da obra a partir de então, muito bem liderados por Neil Druckman e cia.

Tudo o que destaquei até aqui neste texto, cada sentimento e reflexão só foram possíveis graças ao papel desempenhado pela dupla em cada cena, principalmente a conversa na varanda de casa, revivendo um momento marcante do jogo original de forma fidedigna e emocionante. Ambos possuem o dom de passar os sentimentos de seus personagens apenas pelo olhar, sem precisar de diálogos, algo do qual a segunda temporada abusa positivamente em takes e cenas geniais.

Um espetáculo visual no mundo pós-apocalíptico

Por fim, também não posso deixar de elogiar a ambientação da série, principalmente no tom florestal que a mesma traz ao seu mundo pós-apocalíptico, sem deixar que isso afete a beleza de cada cenário proposto. O dinossauro perfeitamente montado no cenário ambiente e o museu com a capsula de Apollo 13 são mágicos, antecipando um momento muito bonito de Ellie se imaginando decolando ao espaço ao ouvir uma fita com a gravação do lançamento da Apollo 11, a missão que levou o homem à Lua, proporcionando a reflexão que, mesmo em cenários de tamanha adversidade, podemos aproveitar a vida e alçar voos que parecem impossíveis.

The Last of Us retorna no próximo domingo (25) para o aguardado último episódio de sua segunda temporada que, em meio a altos e baixos, promete se encerrar com muita emoção, colocando Ellie no olho do furacão em sua busca por vingança, deixando muito provavelmente um gancho direto para a já confirmada terceira temporada da obra.

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Colaborador do Conecta Geek desde 2024, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minhas maiores paixões à minha vocação através da produção de conteúdo. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o o universo geek, o automobilismo e os esportes em geral, principalmente o futebol. Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Editor-chefe nos portais R7 Lorena e iG In Magazine e fui Colaborador do portal esportivo Torcedores.