Amigos Imaginários | Paramount Pictures
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Crítica | Amigos Imaginários desafia ‘crer para ver’ em sua fantasia

Uma fantasia sob a delirante Nova York. Vislumbre de nós pelo teor imaginativo do “ver para crer”, Amigos Imaginários, é visto sob a perspectiva de Bea (Cailey Fleming), de 12 anos, frenética pelo mundo que surge diante de seus olhos. A trama dirigida e roteirizada por John Krasinski (“Um Lugar Silencioso”) imprime na confluência do amadurecer a importância de histórias que resgatam um lugar especial em nossa memória. Sejam lembranças reais ou, até mesmo nesse caso, amigos irreais que habitam nela, o longa remonta com sensibilidade o papel destas construções não só para crianças, mas também para adultos.

É tocante logo no início. O uso de voice-over constrói o pano de fundo ideal para glorificar as rememorações de Bea ao espectador. Assim, mergulhamos em flashbacks da infância da jovem que se esvaíram pela imensa casa amadeirada de sua vó (Fiona Shaw); somos agraciados pelo esmero em planos-detalhe de lápis, caixas coloridas, brinquedos, e outros objetos que ilustram esta fase em uma imersão total da vida de Bea. Para isso, o trabalho com a câmera, que se comporta ora trêmula, desfocada, centralizada ou, por um jogo de enquadramento leva para dentro de uma pintura, evidencia todo o teor imaginativo que o diretor há de explorar.

Amigos Imagiários | Paramount Pictures
Amigos Imaginários | Paramount Pictures

A imaginação do autor

Em um filme que mistura live-action e animação, é imprescindível ressaltar o papel de formas geométricas e cores para induzir sensações ao espectador. Este trabalho reflete nos detalhes dos ambientes, nos vitrais… mas sobretudo nos “migs”. Estes são criaturas imaginadas pelas crianças e desenhados conforme as percepções que se quer provocar, a despeito, é claro, da criatividade infantil. A exemplo, conhecemos o sábio e conselheiro urso Lewis com sua feição anciã, um detetive caricatural e impulsivo, um escultor salteado por manchas de tinta, a bailarina Blossom que procura a sua criadora… até um personagem invisível que “aparece” nos atônitos convites à hilaridade.

Mas o deleite principal é com Blue – que, na verdade, é roxo – , responsável por gerar altas risadas com sua imponência fofa. Seu desajeito fica ainda mais evidente com seus estrondosos espirros em momentos inoportunos; sua marca registrada! Vale ressaltar que a feição e elaboração do personagem capta a essência de produções da Pixar, sendo facilmente atrelado ao Sulley (”Monstros S.A.”), ou até mesmo ao Bloo, (”A Mansão Foster Para Amigos Imaginários”), da Cartoon Network.

Outro personagem marcante da trama é Cal (Ryan Reynolds), vizinho de Bea que vive no sótão do sobrado. Seu papel é ajudar os migs a serem os amigos imaginários das crianças. A jovem, que é a única que consegue vê-los por meio de sua imaginação, gerencia esta operação em duas partes. Além do primeiro objetivo, o segundo é fazer com que as criaturas voltem aos seus respectivos criadores, que deixam de “vê-los” quando se tornam adultos. Para isso, o espectador participa de entrevistas de empregos divertidíssimas e aventuras para fazer com que os adultos se lembrem de seus migs por meio de algo que os remetam a sua infância.

Amigos Imagiários | Paramount Pictures
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Versatilidade

Conhecer cada mig é um show à parte. Os aplausos devem-se à versatilidade interpretativa do elenco glorioso que performa diante da tela e sonoriza os personagens. Krasinski é o principal exemplo desta conjuntura. Além de liderar a produção, o ator vive o pai de Bea e dá vida ao Marshmallow. Ademais, nomes como Steve Carell (Blue), Phoebe Waller-Bridge (Blossom), Matt Damon (Sunny), Emily Blunt (Unicórnio), Louis Gossett Jr. (Lewis) e George Clooney (Astronauta) no longa evidenciam o filme como uma megaprodução infantil.

Estas escolhas gabaritam o poder do filme. A brincadeira entre o lúdico e emoção é intimista a quem vê, no entanto, a trama teve que primar-se em criar uma narrativa pertinente de propósitos e sentidos que não ficasse a mercê apenas da linguagem cinematográfica. A forte relação de Bea com sua família e as perenes memórias norteiam a sua vida para desaguar na moral da trama: mais do que ouvir, é preciso escrever a sua própria história. Um toque imaginativo que nos sustenta à realidade para não se desprender da essência e tornar-se figuração na jornada.

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