BaianaSystem
BaianaSystem. Foto: Bob Wolfenson / Divulgação.

Crítica | BaianaSystem desacelera para unir África e América Latina em ‘O Mundo Dá voltas’

Em 2019 o BaianaSystem lançava “O Futuro Não Demora”, álbum que trazia uma nova proposta para a sonoridade da banda baiana, mas que acabou sendo pouco explorado por conta do início da pandemia. Com as mudanças nos rumos do mundo, o grupo também fez um desvio de rota e lançou em 2021 “Oxeaxeexu”, disco mais experimental. Agora, com O Mundo da Voltas, eles retomam o caminho iniciado há 6 anos e o expande.

Ao longo de 13 faixas, a banda liderada por Russo Passapusso traz de volta a exploração pela música brasileira, guiados pela herança africana e a conexão com a américa latina. Porém, aqui a sonoridade do BaianaSystem ganha novos contornos. Eles desaceleram o ritmo para trazerem novas camadas de ritmos e elementos musicais.

Dizer que o som do grupo está mais lento não seria muito preciso, já que a temperatura das canções continua quente e em nenhum momento deixar de soar empolgante e interessante. Mas aqui, os soteropolitanos tiram um pouco o pé do freio, em comparação com a euforia que o público tá acostumado a sentir durante os shows da banda.

Na abertura com “Batukerê”, já fica nítida a nova atmosfera que foi construída em “O Mundo Dá Voltas”. A faixa composta em parceria com a dupla Antonio Carlos & Jocafi caminha na direção dos primórdios do axé e traz as raízes do ijexá, apoiadas pela guitarra característica do BaianaSystem.

Coletividade e pluralidade

O Mundo Dá Voltas - Baianasystem.
Capa de ‘O Mundo dá Voltas’, álbum do BaianaSystem. Foto: divulgação.

Outro grande pilar do álbum é a sua força no caráter coletivo; tanto nos nomes envolvidos nas composições, quanto nas participações que, ao mesmo tempo em que são bem variadas, em momento nenhum parecem gratuitas ou desconexas da proposta. Pelo contrário, todos os convidados vão surgindo nas canções de forma muito natural e vão se integrando com a banda de forma bem orgânica, fazendo muitas vezes parecer que todos formam um só grupo.

“A Laje” é um bom exemplo disso. A faixa une o rap de Emicida com a voz de Melly para falar sobre beleza em meio ao cenário urbano. Em “Praia do Futuro”, o Baianasystem se une a Seu Jorge e Antônio Carlos & Jocafi, dupla que é a autora da faixa, composta há mais de 40 anos e que aqui ganha novos contornos e significados.

“Porta-Retrato da Família Brasileira” conta com o artista português de ascendência cabo-verdiana, Dino D’Santiago e o músico angolano Kalaf Epalanga, para falar da herança africana na América Latina utilizando o termo Améfrica, uma referência a Améfrica Ladina, livro de escritos da antropóloga e ativista mineira Lélia Gonzalez (1935 – 1994). “Magnata” aborda o dinheiro e a ganância trazendo referências da região norte do Brasil.

“Pote D’Água” volta para a Bahia e traz a sensação de conforto e acolhimento, reforçada pela voz de Gilberto Gil. “Cobra Criada / Bicho Solto” é uma interessante releitura de duas músicas de Pitty lançadas no álbum “Matriz” (2019), sendo a primeira delas com colaboração do próprio Russo Passapusso.

“Balacobaco” é a faixa em que a banda mais retoma o seu som mais pesado e surpreende com as excelentes participações de Anitta e da atriz Alice Carvalho, parceira de longa data do Baiana. O álbum encerra com a sequência da faixa-título e “Ogun Nilé”, as duas evocam o lado mais espiritual e ancestral da obra.

Em O Mundo Dá Voltas, o BaianaSystem promove uma nova experiência musical, se desprendendo um pouco da sua sonoridade característica para absorver outros ritmos e expandir o seu alcance, com excelentes parcerias e pontes com a América Latina e a África. Aqui a banda se aprimora e apresenta um som cada vez mais encorpado e rico em significados e experiências.

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