Crítica | disco de estreia de Rod Melim é inimaginávelmente ruim
Rod Melim/Divulgação

Crítica | Disco de estreia de Rod Melim é inimaginavelmente ruim

Rod Melim, ex-integrante do famoso grupo Melim, decidiu seguir carreira solo após anos de sucesso ao lado de seus irmãos. A expectativa era alta: afinal, o Melim conquistou fãs com canções românticas, arranjos delicados e uma identidade musical que, embora não revolucionária, tinha seu charme. No entanto, seu primeiro trabalho solo, Inimaginável, lançado no fim de janeiro, é uma decepção que beira o constrangedor. O disco soa como um amálgama de clichês, tentativas desesperadas de viralizar e uma produção que prioriza o comercial em detrimento de alguma autenticidade. O resultado é um álbum que não só falha em se destacar, mas também nos faz questionar se Rod Melim realmente tinha algo a dizer fora do contexto familiar.

Ecos de um passado melhor

Logo na primeira faixa, “Inimaginável”, título do disco, já percebemos o tom do que está por vir. A letra é um amontoado de frases genéricas que tentam soar profundas, mas caem no lugar-comum. Sendo justo, é o que temos de menos pior e apesar de ser um tanto irritante, seu refrão pode agradar seu público-alvo. Seus versos soam como algo que poderia ser encontrados no caderno de poemas de adolescente. Parece que Rod está tentando recriar o sucesso de músicas como “Eu Feat. Você”, do Melim, mas sem a mesma conexão emocional que fazia aquelas canções funcionarem para seu público.

Crítica | disco de estreia de Rod Melim é inimaginávelmente ruim
Divulgação

Em “Mina Sereia”, a situação não melhora. A música tenta ser envolvente com uma batida suave e um refrão que se repete incessantemente, mas a letra é tão superficial que chega a ser irritante. “É muita areia pra você, essa mina sereia. Você não fez por merecer, agora esqueça, esqueça” é um refrão chato que tenta ser poético, mas acaba soando como uma tentativa fracassada de criar uma metáfora romântica/flerte. A produção, repleta de efeitos eletrônicos, só piora a situação, sufocando a voz de Rod e transformando o que poderia ser uma balada agradável em uma experiência cansativa.

Já em Cupido, a tentativa de criar um hit pop é evidente, mas o resultado é desastroso. A prova disso é o verso: “Acerta essa flecha, cupido. Aposto contigo que vai chover arroz”. Mas talvez o que mais grita produção genérica é o seu beat, que parece ter saído de um banco de dados gratuito. É chato, sem impacto e totalmente esquecível. O pior é que essas batidas eletrônicas, mesmo as mais discretas, pouco combinam com o estilo de vocal e composição de Rod.

Um dos pontos mais irritantes de Inimaginável é a sensação de que cada música foi meticulosamente planejada para viralizar nas redes sociais. O trio de abertura exemplificam bem isso, com seus refrões é repetidos ad nauseam, com uma batida que parece ter sido criada exclusivamente para desafios do TikTok. As músicas não fluem naturalmente; parece uma sequência de partes coladas, cada uma tentando ser o próximo hit das plataformas digitais. O resultado são canções que soam artificiais e descartáveis.

Um respiro acústico

As coisas melhoram na sequência “Aloha”, “Se o amor tivesse espelho” e “Vida Simples”. Embora eu, definitivamente, não seja o público-alvo desse MPB acústico café com açúcar, sinto que aqui as coisas parecem fluir melhor. Além disso, uma produção mais enxuta valoriza o estilo de canto de Rod.

Mas “Desinteressante”, como o título sugere, nos lembra que esse disco é um produto feito pra viralizar. Não sou um dos maiores adeptos do Reggae, mas essa talvez tenha sido um dos piores que já ouvi.

A produção do disco é, talvez, o maior problema. Em vez de destacar a voz de Rod Melim, que sempre foi um dos pontos fortes do Melim, as faixas são inundadas com camadas de sintetizadores, beats eletrônicos e efeitos vocais que mais atrapalham do que ajudam. O que poderia ser um disco honesco, dividido em uma base acústica e baladas mais encorpadas, acaba se tornando uma experiência cansativa, com arranjos que parecem ter sido feitos por alguém que nunca ouviu a música antes.

Em um momento em que a música brasileira está passando por uma fase de renovação, com artistas experimentando novos sons e abordagens, Inimaginável soa como um passo atrás. Rod Melim parece estar preso em um passado que não existe mais, tentando recriar o sucesso do Melim sem entender o que fez aquele grupo funcionar. O resultado é um disco que não só falha em se destacar, mas também nos faz questionar se Rod tem futuro como artista solo.

Inimaginável, de fato, é ver o sucesso disso.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.