Crítica | Feios não é somente o nome do filme como também a descrição perfeita

Feios (Uglies), nova adaptação da Netflix, chegou tarde demais para a festa. As distopias já não tem mais força, então será que Feios vale a pena?

Já se passaram alguns anos desde que Hollywood parecia obcecada por franquias distópicas voltadas ao público jovem, como Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner. E, nesse cenário, Feios (Uglies), nova adaptação da Netflix do livro de Scott Westerfeld, lançado em 2005, parece chegar tarde demais para a festa.

Tentando emplacar mais uma trilogia, o filme já soa fora de época, repleto de clichês e com uma trama previsível que faz parecer só mais uma cópia dos grandes sucessos do gênero.

Uma distopia genérica

No mundo de Feios, todos que completam 16 anos passam por uma cirurgia obrigatória para se tornarem “bonitos”. Enquanto isso, até o grande dia, os jovens são chamados de “feios” e ficam em uma espécie de internato.

Tally, interpretada por Joey King, está a poucos meses de seu aniversário e não vê a hora de se submeter à transformação, especialmente depois que seu amigo, Peris (Chase Stokes), a trata com desprezo após sua cirurgia.

Feios, 2024
Feios, 2024

Com tantos exemplos anteriores da fórmula distópica fica fácil prever o desenrolar da trama de Feios bem antes do grande “segredo” ser revelado. Claro, o filme tenta entregar um ar de mistério sobre as cirurgias de beleza, mas é óbvio desde o começo que a motivação não é o bem da sociedade, e sim algo muito mais sinistro.

A mensagem sobre a importância da “beleza interior” é tão batida que se torna cômica. Quando Tally finalmente aprende sua lição, solta a frase: “Eu não sabia que o preço de ser bonita era a sua mente”. O problema é que a fala, além de forçada, subestima a inteligência do público. O filme tenta entregar uma crítica social ao estilo “seja você mesmo”, mas falha miseravelmente por ser superficial e sem propósito.

A história se desenrola cheia de conveniências. Um exemplo gritante é quando Tally escapa de uma área teoricamente superprotegida apenas girando um anel e atravessando uma ponte sem esforço. E isso sem mencionar as “coincidências” forçadas, como Shay, uma personagem que surge na hora certa para salvar Tally. Tudo isso contribui para o filme parecer uma colcha de retalhos mal costurada, onde nada se encaixa direito.

Feios, 2024
Feios, 2024

Sobre as atuações, não há muito o que elogiar. Os atores até podem ser competentes, mas com um roteiro tão fraco como esse, não há muito para onde correr. O pouco destaque fica por conta dos atores mais experientes, que conseguem trazer um pouco mais de peso e credibilidade para os acontecimentos.

Joey King, por outro lado, é tão sem graça e insossa que fica difícil torcer por ela. Suas expressões exageradas e falas não convencem, e muitas vezes ela soa extremamente artificial. O filme todo me peguei desejando que Shay ou David assumissem o protagonismo, só para ver se me despertava algum interesse.

Os verdadeiros “Feios”: CGI e montagem

Outro problema evidente são os cortes estranhos e a edição apressada. O filme não dá tempo para respirar, correndo de uma cena de ação para uma explicação forçada e depois jogando o espectador de volta em outro momento frenético.

Não há espaço para explorar o mundo distópico que o diretor McG tenta criar. O resultado é um universo que parece improvisado e mal planejado, com cenas inseridas apenas para preparar futuras continuações, mas que ficam completamente deslocadas.

Visualmente, Feios também decepciona. O filme tenta nos transportar para um futuro distante usando efeitos visuais exagerados e artificiais. Desde o CGI até os cenários futuristas, tudo parece falso, com aquele visual genérico típico de algumas produções da Netflix: iluminação exagerada, cores chamativas e um design sem profundidade. Lembra até filmes infantis dos anos 2000, como Sharkboy e Lavagirl.

Feios, 2024
Feios, 2024

No fim das contas, Feios é uma tentativa frustrada de revitalizar o gênero distópico juvenil. Embora tenha uma mensagem clara sobre superficialidade, o filme falha em ir além da superfície.

Com uma trama previsível, personagens mal desenvolvidos e uma execução visual decepcionante, ele parece uma oportunidade desperdiçada de explorar temas importantes de forma inovadora. Ao invés disso, acaba sendo só mais uma cópia de filmes que já vimos antes – e que fizeram muito melhor.

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