Herege
Foto: reprodução/Portal Perifacn

Crítica |  Herege – um horror reflexivo e surpreendente

Qual é a religião certa, e por que é a sua?

Discutir religião no cinema, ainda mais no gênero de terror, pode ser um desafio, mas Herege consegue elevar essa premissa com uma trama que surpreende e instiga. A produção da aclamada A24, dirigida pela talentosa dupla Scott Beck e Bryan Woods (roteiristas de “Um Lugar Silencioso”), não apenas provoca o espectador a refletir sobre fé e crenças, mas também surpreende com escolhas ousadas de direção e roteiro.

A história segue as “irmãs” Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East), missionárias convictas que dedicam suas vidas a levar a palavra de Deus para quem estiver disposto a ouvir e, claro, se converter. Quando decidem fazer uma última visita a um desconhecido antes do fim do dia, elas encontram Mr. Reed, interpretado por um Hugh Grant completamente fora de sua zona de conforto, no melhor sentido possível.

Ele surge como um senhor carismático e receptivo, que as convence a entrar com a promessa de uma torta de blueberry. O que parecia um simples convite, contudo, rapidamente toma um rumo sombrio e aterrorizante.

Irmãs paradas em frente à porta aberta, e um homem as está atendendo, segurando um papel.
Foto: reprodução/Papel Pop

Atuação de primeira

Grant brilha no papel de Reed, mostrando um lado perverso e encantador que raramente associamos ao ator — que fez sua carreira com diversas comédias românticas —, mas que ele interpreta com maestria. Seus monólogos carregados de intensidade adicionam profundidade e nuances ao vilão da história, tornando a experiência ainda mais envolvente. Esse foi, sem dúvida, um dos melhores papéis de sua carreira!

Ao lado de Grant, Sophie Thatcher (Yellowjackets, 2021) e Chloe East (Os Fabelmans, 2022) trazem atuações igualmente impactantes. Thatcher está, como sempre, impecável, mas é East quem realmente rouba a cena, demonstrando uma intensidade que cativa e amplia a tensão do filme. E bota tensão nisso.

Fotografia

A construção visual de Herege também merece destaque. Beck e Woods optaram por uma paleta de cores sombria e uma direção de fotografia que intensifica o sentimento de isolamento e claustrofobia.

Os enquadramentos cuidadosamente escolhidos refletem o confinamento não só físico, mas também mental das personagens, presas em suas próprias convicções e diante de um antagonista que coloca tudo em xeque. Esse trabalho estético é um dos fatores que eleva a atmosfera do filme, mantendo o público em um constante estado de alerta.

Trilha sonora

Além disso, a trilha sonora é um elemento-chave na narrativa. Composta por uma melodia sutil e perturbadora, ela se intensifica em momentos críticos, amplificando a sensação de suspense sem nunca se tornar invasiva. Esse equilíbrio entre o visual e o som é essencial para manter a imersão do espectador, permitindo que cada cena seja absorvida por completo. É um filme que compreende bem o valor do silêncio e da pausa, explorando-os para construir um ambiente de tensão constante e, ao mesmo tempo, de introspecção.

O horror como abordagem crítica em Herege

Por trás do horror, Herege faz uma crítica social contundente sobre o fanatismo e o autoritarismo religioso. Sem tomar partido ou vilanizar uma crença específica, o filme se concentra nos perigos da fé cega, onde a convicção absoluta pode facilmente ser manipulada para o mal. Esse subtexto é trabalhado com sutileza, mas se torna inegável à medida que as protagonistas se confrontam com dilemas morais e espirituais.

As duas irmãs, sentadas em um sofá, conversando com o homem, sentado em outra poutrona. Eles estão reunidos em uma sala com ambientação amarelada, em votla de uma mesinha de centro, com copos cheios e uma bíblia no centro,
Foto: reprodução/Planeta Diário

O grande mérito de Herege é abordar como a fé e a religião podem ser exploradas de maneiras inesperadas, levando o público a refletir sobre a espiritualidade de uma forma quase filosófica. Com diálogos afiados e uma atmosfera carregada de suspense, o filme constrói uma narrativa envolvente e angustiante, que prende o espectador desde o início. A jornada das missionárias passa rapidamente de uma simples pregação a uma batalha por sobrevivência, testando os limites de suas crenças em um cenário de horror psicológico.

Embora o terceiro ato traga uma conclusão ousada e inesperada que nem todos os espectadores podem amar, o impacto da narrativa e a construção impecável de tensão fazem a jornada valer a pena. Herege entrega exatamente o que se propõe: uma experiência intensa que mexe com a mente e o coração, reafirmando o talento da A24 em inovar dentro do terror psicológico.

Herege estreia dia 20 de novembro nos cinemas. Assista ao trailer:

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