Crítica - Mussum, o filmis e a estacular vida do sambista trapalhão
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Crítica | Mussum, O Filmis e a espetacular vida do sambista trapalhão

No Morro da Cachoeirinha, Rio de Janeiro, há pouco mais de 80 anos, nascia Antônio Carlos Bernardes Gomes, conhecido como Mussum, dono de um humor simples, irreverência e raciocínio veloz, que abriram portas e fizeram com que transitasse por espaços pouco ocupados por gente preta e de origem humilde. Sua cinebiografia “Mussum, o Filmis”, nasceu com a responsabilidade de transpor em tela o legado que Mussum deu à cultura brasileira.

O longa, que estreiou na últiuma quinta-feira (2), o dirigido por Sílvio Guindane (“Central de Bicos”) é bastante irregularidades, convencional e não explora suficientes facetas da persona icônica do biografado, mas sua força reside na celebração do poder de entreter que ele possuía, junto com a força de seu intérprete, Ailton Graça (“M8 – Quando a morte socorre a vida”).

Inspirado no livro “Mussum – Uma História de Humor e Samba”, de Juliano Barreto, o roteiro é dividido em três etapas: Sua infância pobre ao lado de sua mãe, Dona Malvina (Cacau Protásio), passando pelo seu trabalho com o grupo “Originais do Samba” até seu apogeu num dos maiores sucessos da história da televisão: “Os Trapalhões”.

O recorte ruim

Uma das maiores discussões da crítica sobre cinebiografias é o retorte. Afinal, é muito difícil resumir a vida interneira de um personagem em um filme duas horas, por exemplo. Então, roteiro, direção e edição devem trabalhar juntos para extrair o melhor desse personagem.

Infelizmente, no caso de Mussum, o Filmis, o trabalho é bastante irregular. O projeto tenta abraçar todas as frentes da vida do protagonista, o que tira peso e tempo de tela sobre determinados momentos. Estruturalmente o trabalho não ousa, na verdade, ele “jogou no seguro”. Não comprometendo, mas, sem dúvidas, sem conseguir explorar o máximo de um personagem tão rico.

Mussum, o sambista

Após uma breve apresentação do personagem, ainda criança, interpretado por Thawan Lucas Bandeira, chegamos no recorte do início da fase adulta de Antônio Carlos, dessa vez interpretado pelo ator e humorista Yuri Marçal. Nesse período, o jovem precisa se dividir entre um emprego no exército e seu grupo, “Os Sete Modernos do Samba”.

Mas é no terceiro recorte que chegamos ao que realmente interessa, quando Aílton Graça chama o filme para si. Nesse ponto, o longa se aprofunda na relação do personagem-tíítulo com o samba, para ser mais exato, com “Os Originais do Samba”.

Nesse ponto, já estabelecido em sua carreira musical com o seu grupo, seus talentos para a atuação e a comédia são descobertos por acaso, e assim ele vai rapidamente ganhando espaço nesse novo cenário artístico.

Mussum, o humorista

Com isso, o filme toma liberdade para recriar cenas de “Escolinha do Professor Raimundo” e “Os Trapalhões”. É válido destacar o elenco escolhido para viver as figuras de Chico Anysio, Dedé Santana, Zacarias e Renato Aragão, o Didi. Os atores chocam pela semelhança em suas caracterizações e trazem humor e nostalgia para o filme em uma homenagem divertida às obras originais.

Dividido entre suas obrigações com Os Originais do Samba e a televisão, o artista enfrenta novos dilemas nessa fase, como a decisão de se mudar para São Paulo e acabar com seu casamento e seus problemas com o álcool. Nesse momento também somos impactados com a atuação emocionante de Neuza Borges, que vive a Dona Malvina já mais velha.

Ainda desacostumada com os luxos proporcionados pelo sucesso do filho, a mãe é um lembrete constante de suas raízes a todo momento no filme. Dessa forma, as cenas sentimentais da relação entre mãe e filho trazem o balanço ideal para os – muitos – momentos humorísticos da história.

A obra ainda explora a relação do artista com a Mangueira, sua escola de samba do coração. O discurso final do protagonista demonstra como a arte pode desempenhar um papel fundamental na vida de crianças da periferia – assim como foi para Carlinhos.

A música

Por se tratar de uma história que tem música – e a arte – como um de seus temas centrais, a trilha sonora atua quase como um personagem no filme, com muitas cenas musicais necessárias para entender a relação de Antônio Carlos com o samba.

Enquanto isso, a fotografia é o que ajuda a definir o tom e a “estética” do filme, mantendo o espectador imerso e envolvido nessa atmosfera. Dessa forma, a composição visual, já bastante conhecida no cinema nacional, explora muitos elementos de brasilidade, desde as cenas iniciais de Carlinhos na periferia do Rio de Janeiro passando por seus momentos nas rodas de samba até as apresentações em casas de show.

Mas um dos destaque técnico fica para a recriação das esquetes. Primeiro porque a fotografia trabalha junto com a direção de arte para recriar cenários e os filtros, com cores lavadas de “televisão antiga”. O que, por muita competência, sobretudo de Graça, essas se tornaram mais cenas meramente ilustrativas, mas uma forma de conectar um público mais jovem que não teve contato com Mussum.

Irregular, mas com o coração na direção certa

Mussum, O Filmis é uma obra bastante irregular, que se apoia muito nos intérpretes do personagem-título, sobretudo no recorte a partir do momento em que Ailton Graça passa a comandar o longa em tela. O trabalho de reconstituição de perídos históricos diferentes, contexto social e cultural é bem transportado, mas é justamente esse excesso que não faz desse um longa marcante.

Quem viveu essa época volta no tempo, mas quem não tambpem consegue dimenssionar que Mussum foi e ainda é um dos personagens mais marcantes da cultura pop. Seja pelos seus bordões – que virou até marca de cerveja – como pelo legado artístico no samba.

De forma sensível e emocionante, Mussum, o Filmis afirma que o direito de sonhar é para qualquer um, inclusive para pessoas discriminadas. A mensagem do longa é que a gente pode tudo. E a sensação ao sair do cinema é que realmente podemos.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.