O Cara da Piscina

Crítica | O Cara da Piscina nada em águas rasas

Chris Pine (“Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”) é um bom ator. Ele também parece ser um cara legal. Aliás, notei que em suas redes sociais, recentemente ele vem fazendo escolhas de guarda-roupa que representam cada bairro de Los Angeles (LA), dependendo do dia. Pode ser por isso que, quando ator se colocou atrás das câmeras, ele criou, talvez, o filme mais LA de todos os tempos.

Ou melhor, ele fez um filme que incorpora tudo o que as pessoas não gostam na cidade. Sua estreia na direção, como a cidade, é extensa, desconexa, barulhenta, confusa, hipócrita, pseudo-intelectual, narcisista, apenas intermitentemente atraente e muitas vezes muito irritante. O problema é que, ao contrário de LA, O Cara da Piscina carece dos muitos encantos que contrabalançam o que é ruim.

O Cara da Piscina

No filme seguimos Darren Barrenman (Chris Pine), um limpador de piscinas que vive  em um complexo de apartamentos decadente de LA. Ele passa seus dias meditando na piscina, ignorando sua namorada Susan (Jennifer Jason Leigh), atormentando os vereadores dia após dia por causa de seus projetos favoritos, como a instalação de sistemas de bonde na cidade, e escrevendo cartas resumindo seus delírios de grandeza sobre seus esforços para salvar a cidade a Erin Brockovich, uma amiga por correspondência que nunca o responde.

Como todo mundo em LA, Darren está envolvido no cinema (ou tentando estar). Seus vizinhos (interpretados por Danny DeVito Annette Bening) acompanham sua arrogância quixotesca dia após dia diante do conselho municipal, na esperança de um dia criar um documentário sobre uma improvável aprovação de um projeto idealizado por ele.

O Cara da Piscina
Foto: Reprodução/Vertical Entertainment

As coisas começam a mudar quando em um dos discursos de Barrenman ao conselho municipal ele acaba preso por desacato e atrai a atenção de June (DeWanda Wise), uma funcionária do conselho municipal que informa limpador de piscinas que o lugar é corrupto e o contrata para investigar um membro (interpretado por Stephen Tobolowsky) que ela acredita estar envolvido em negócios duvidosos envolvendo imóveis e direitos de água em LA.

Se a premissa do filme soa como “Chinatown”, é porque essa é a intenção. Barrenman assiste ao clássico de Jack Nicholson no início do filme e se imagina como Jake Gittes pelo resto do filme, investindo em uma conspiração que tem nomes como Ray Wise e Clancy Brown em papéis no estilo John Huston.

A mortalmente séria Chinatown, com seu famoso mistério e detetive cínico, sem dúvida fornece material para uma paródia. O problema é que os irmãos Coen e Paul Thomas Anderson, entre outros, já o fizeram e fizeram muito melhor.

Quando o problema é o protagonista…

Chris Pine claramente quer que seu Darren Barrenman seja o próximo cara esquisitamente maneiro de “O Grande Lebowski”, ou Doc Sportello de “Vício Inerente”, um detetive drogado cabeça-dura que tropeça em seu caminho para a resposta a um mistério. Em vez disso, ele lembra constantemente ao público que você poderia assistir a qualquer um desses três filmes muito melhores.

Qualquer um que tenha visto “A Última Cartada” sabe que Pine, apesar de sua beleza de galã, pode interpretar um esquisito anti-social eficaz. O problema é que Pine interpreta esquisitões que são coadjuvantes e eles são efetivos cumprindo essa função. Porque, como protagonista, ele se mostra insuportável.

O Cara da Piscina
Foto: Reprodução/Vertical Entertainment

Darren Barrenman poderia ter trabalhado como personagem coadjuvante ou protagonista de uma esquete do “Saturday Night Live”. Mas como protagonista de um longa-metragem, na tela em todas as cenas por quarenta minutos, seu volume, seus tiques e a personificação de todos os piores clichês de um preguiçoso de LA são irritantes. Além disso, em filmes como “Lebowski” e “Vício Inerente”, o protagonista às vezes acaba sendo pelo menos marginalmente competente. Barrenman realmente nunca é. Lebowski e Sportello eram preguiçosos e desajeitados, mas não completamente estúpidos. Barrenman é claramente muito burro.

Um personagem até observa que “não está jogando com um baralho completo de cartas”. Ele faz muito pouca ‘solução’ de mistério, e o roteiro parece saber disso porque o mistério corre de forma chocante para sua revelação e conclusão. O personagem tropeça e as pessoas simplesmente… contam coisas a ele. Quando Barrenman se encontra em maus lençóis no terceiro ato, o filme passa rapidamente, criando qualquer sensação de suspense ou riscos e proporcionando saídas fáceis. E mais, o mistério não é intrigante, pelo contrário, ele é extremamente entediante.

O filme quer ter seu bolo e comê-lo também, recriando exatamente o mesmo esquema de Chinatown, mas também tentando algo no estilo “Chumbo Grosso”, mas o resultado não é emocionante nem particularmente engraçado. Os personagens coadjuvantes são todos amplos, escritos (e interpretados) como caricaturas. O único personagem com algum tipo de profundidade é o vereador de Tobolowsky.

Talvez percebendo que o filme falhou como comédia ou como mistério, Pine busca uma mensagem açucarada sobre como encontrar seu povo no final e resolver traumas de infância e medos de abandono. Mas parece imposto e imerecido e é indicativo de um filme que quer ser muitas coisas e não se contenta com nada.

Isso não quer dizer que não haja risadas esporádicas. Pine conhece bem LA e acerta algumas piadas em O Cara da Piscina. Por exemplo, há uma situação em que cada personagem do filme tinha ambições de estar na indústria cinematográfica em algum momento. Além disso, Pine às vezes é divertido por causa de seu carisma natural. Ok, podemos dizer que é engraçado a fixação do protagonista (e todos os outros personagens do filme) em manter a “terapia em dia”. Mas muitas vezes, essas piadas de LA estão se esforçando demais. Sobretudo as referências ao trânsito terrível e ao narcotráfico.

Nem todo ator é natural atrás das câmeras. Na verdade, muitos não são. Alguns melhoram com o tempo. John Krasinski (“The Office”) se divertiu com sua primeira atuação como diretor, “Família Hollar”, antes de se encontrar com “Um Lugar Silencioso”. Pine merece crédito por escolher fazer sua estreia na direção algo que claramente não era um projeto de vaidade. Infelizmente, isso é tudo de bom que pode ser dito sobre O Cara da Piscina.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.