Em março deste ano a Netflix apostou alto com a sua nova super produção. A série O Problema dos 3 Corpos, baseada na obra do engenheiro e escritor chinês, Liu Cixin, que é considerado um clássico moderno da ficção científica. Os produtores David Benioff e DB Weiss, a dupla de Game of Thrones, e Alexander Woo (“The Terror: Infamy”) garantiram mais uma série de sucesso adaptada à partir de obras literárias?
O Problema dos 3 Corpos, a série
Conforme a sinopse oficial da série, ela é composta por um grupo de cientistas que faz descobertas revolucionárias ao longo das décadas. Ao mesmo tempo, as leis da ciência começam a cair por terra. No trailer, vemos um conjunto de imagens que prometem um enredo de ficção científica que parece combinar tecnologia, atmosfera futurística e viagens espaciais.
O Problema dos 3 Corpos tem oito episódios. O primeiro deles é promissor. Ele começa com um cientista que faz uma descoberta que coloca em dúvida as leis da física, a morte de uma amiga dele, um misterioso capacete de realidade virtual que permite acessar um jogo, uma pesquisadora que passa a ver uma contagem regressiva sempre que olha para o céu e, por fim, uma noite em que as estrelas parecem desaparecer e ressurgir em instantes.
De antemão, como sempre, os roteiros adaptados tendem a alterar a ordem dos fatos originalmente escritos. Dito isso, em O Problema dos 3 Corpos, não foi diferente. A primeira temporada lançada este ano, conta com informações já dos dois primeiros volumes da trilogia. A existência dos Sófons, antes de A Floresta Sombria (2º volume), é prova dessa mescla.
A confusão de quem são os cinco amigos
A dupla David Benioff e DB Weiss, juntamente à Alexander Woo, fizeram um trabalho incrível. Digo isso, a partir do ponto de vista da dificuldade atrelada a escrita do roteiro desta super produção. Apesar de ser mérito do autor, Liu Cixin, as características icônicas de cada personagem, se deve ao bom trabalho da direção a escolha assertiva de personagens, bem como a maneira como estes são explorados.
Desde o início, as cicatrizes e medos dos cinco amigos os acompanham. Contudo, algumas informações sobre os personagens foram passadas de maneira muito superficial, impedindo sua total compreensão. Um exemplo é o papel de Jack Rooney (“Game of Thrones”) é um jovem que largou a faculdade, virou um multimilionário e manteve a amizade com os demais do grupo. Parte dessas informações aparece no primeiro episódio durante o enterro de uma amiga que faleceu. E, apesar de, tal fala mostrar bem o comportamento do personagem, essas informações passam quase que batido na cena.
Sob o mesmo ponto de vista, alguém altamente requisitado na série, e não é explicado exatamente o por que é Saul Durant (Jovan Adepo, participou do filme, Mãe). Apresentado como o mais inteligente, Saul, vive em um conflito interno, o que nos leva a crer que é alguém indeciso e confuso. Apesar disso, não se explica essa confusão. Juntamente a essa situação, é prejudicada a sua relação com a personagem Auggie Salazar (“Em Ritmo de Fuga”). Um mistério, não muito bem construído, sobre um possível relacionamento mais intimo paira entre os dois.
Os salvadores que se salvem
Por outro lado, os personagens Jin Cheng (“Os Mistérios de BrokenWood”) e Will Downing (“Os 7 de Chicago”), acabaram por ganhar muito mais tempo de tela, e seus problemas se chocaram ao objetivo central da série. Com isso, tiveram seus personagens muito melhor explorados, esclarecendo mais sobre suas questões presentes e seus passados. Tal situação acaba por gerar um desequilíbrio entre a importância de cada personagem, que não condizem com as falas e roteiro apresentados.
A resolução dos problemas mundiais tendem a voltar para Saul e Auggie. Todavia, ambos vivem suas crises e desaparecem de um episódio para o outro e reaparecem sem quase nenhuma explicação.
Ao infinito e além
Com o passar dos anos a Netflix melhorou bastante a qualidade do CGI e edição, na Netflix. O que em O Problema dos 3 Corpos, é nítido. Em especial nas cenas do lançamento de uma nave ao espaço e durante as sessões do “videogame” dos San-Ti. A a riqueza de detalhes apresentados nestes momentos cria uma tensão muito bem construída e envolvente.
De volta ao roteiro, este foi muito bem construído. Ao considerar a complexidade destas, a maneira como foram explicadas as teorias físicas, foi muito clara e concisa. Dito isso, de maneira didática as Teorias da relatividade, do caos e o próprio problema dos 3 corpos são apresentadas aos expectadores. Em dadas cenas, os próprios personagens reexplicam suas teorias, com explicações breves acompanhadas de desenhos.
Dessa forma, a ambientação histórica, bem como as explicações físicas, foi criada de maneira clara. De tempos em tempos, a série pula da época da Revolução Cultural Chinesa, em 1960 para a atualidade, acompanhando os feitos da personagem, Ye Wenjie (“Star Treck: Nova Geração”). E apesar dessa mescla da datas, a ambientação artística e técnica, feita por meio dos tons quentes e frios, figurinos e objetos cenográficos, facilitam a compreensão.
Ataque iminente, alerta de spoilers
Definitivamente, algo que pode vir a gerar dúvidas nos expectadores é o final da temporada. A principio, o plano mirabolante de Jin, conta com o envio de uma nave ao espaço. Nave esta que contém o cérebro de Will, a fim de garantir uma tentativa de contato com os invasores em potencial. Sob esse ponto de vista, a interceptação da nave era algo óbvio, mas esta não aconteceu. Mesmo com a terra envolta pelo Sófon, a decolagem e chegada da nave ao espaço aconteceu. Porém, nem mesmo comentada essa possibilidade foi na série. Dito isso, não ter sido apresentado o cálculo de tal risco, em uma série que presa a ciência e a realidade, confirma um grande furo no roteiro.
A trilogia de O Problema dos 3 Corpos, nos livros
1º Livro- O Problema dos 3 Corpos:
O primogênito da saga se ambienta em meio a Revolução Cultural Chinesa, em 1960. Contudo, em meio à confusão, um grupo seleto de astrofísicos, militares e engenheiros trabalha secretamente em um projeto que envolve ondas sonoras e tentativas de contato com possíveis formas de vida, existentes para além do nosso planeta. E foi nesse cenário, que uma decisão tomada por um dos envolvidos, unicamente alterou e condenou o destino da humanidade de forma permanente. Seja como for, cinquenta anos mais tarde essa decisão traz a tona o seu custo. Uma raça alienígena chamada San-Ti, tinha como destino o nosso planeta, e não seria apenas para passar férias…
2º Livro- A Floresta Sombria:
Do mesmo modo que no primeiro livro, A Floresta Sombria, da continuação aos efeitos do anuncio da invasão extraterrestre à sociedade. Todavia, a tecnologia avançada dos futuros visitantes, ameaça os planos dos seres humanos, para a contenção dos mesmos. Os chamados Sófons, são partículas subatômicas que são capazes de se entender ao redor da Terra, se tornando uma fonte onisciente e onipresente na civilização humana. Por outro lado, o chamado Projeto Barreiras é desenvolvido, mesmo ao estarem impedidos de agir e falar sem que os Trissolarianos os percebam.
Nesse sentido, um grupo seleto de terráqueos têm que desenvolver um plano inteiramente dentro de suas mentes, sem qualquer tipo de comunicação para que os San-Ti não possam desvendar os planos terráqueos. Mas seria isso o suficiente para deter essa ameaça?
3º Livro- O Fim da Morte
No terceiro, e último, volume da saga O Problema dos 3 Corpos, 50 anos após a chamada Batalha do Fim do Mundo, a Terra alcançou um momento de paz por meio de um acordo feito com o San-Ti. Porém, quem assegura este acordo é o chamado Portador da Espada, que, no dado momento, está muito velho e não terá mais muito tempo em seu cargo de pacificador. Em outras palavras, a paz estava novamente ameaçada, mas em meio à possobilidade de uma nova futura era de caos, após anos em estado de hibernação, uma das engenheiras que foi pioneira dos planos de proteção terrestre (no primeiro livro), desperta. Apesar da necessidade de adaptação ao futuro, o destino da humanidade é entregue à ela.
O Futuro de O Problema dos 3 Corpos
Por fim, O Problema dos 3 Corpos, é uma série com grande potencial. Apresenta um grande estudo acerca da história de nossa sociedade ao redor do globo, e todas as descobertas científicas já feitas pela raça humana. Contudo, esta beira muito alguns deslizes por conta do volume de detalhes apresentados. A atenção à estes detalhes, assim como o compromisso com o a apresentação dos personagens exige uma maior atenção em uma futura temporada.
A Netflix ainda não se pronunciou sobre a continuação de sua super produção, porém, os seus criadores David Benioff e DB Weiss e Alexander Woo, já deixaram claro em inúmeras entrevistas que têm planos já concretos para a continuação, prevendo até mesmo uma quarta possível temporada, comentada em uma entrevista ao Collider.
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