Crítica | Star Trek: Seção 31 é um filme que tenta ser tudo e não é nada
Paramount+/Divulgação

Crítica | Star Trek: Seção 31 é um filme que tenta ser tudo e não é nada

Confesso que, como fã de longa data da franquia, cheguei a Star Trek: Seção 31 com um misto de expectativa e ceticismo. A franquia, que já me levou a mundos distantes e a reflexões profundas sobre a humanidade, parecia ter perdido um pouco de seu brilho nos últimos anos.

Não acompanhei as séries mais recentes, como “Discovery” ou “Picard”, mas a promessa de um filme focado na Seção 31, aquela organização sombria e misteriosa introduzida em “Deep Space Nine”, me fez dar uma chance.

Afinal, um filme é um filme, certo? Errado. Seção 31 não só falha em capturar a essência de Star Trek, como também se perde em uma narrativa confusa, personagens rasos e uma direção que parece mais um experimento amador do que um trabalho profissional.

Uma boa ideia, mas a execução…

A ideia de explorar a Seção 31 em um filme é, em tese, fascinante. A organização, que opera nas sombras da Federação, sempre representou uma contradição interessante no universo de Star Trek: uma entidade disposta a sacrificar a moralidade em nome da segurança.

Era uma oportunidade perfeita para mergulhar em temas complexos, como ética, poder e os limites da utopia. No entanto, o que temos em Seção 31 é uma história superficial e previsível, que reduz esses conceitos a clichês de ação e piadas forçadas.

O filme começa com um prólogo que narra a origem da imperatriz Philippa Georgiou (Michelle Yeoh), mostrando como ela se tornou a líder implacável que conhecemos em Discovery. A cena, embora visualmente interessante, já revela um dos maiores problemas do longa: a falta de profundidade. Em vez de explorar as nuances do personagem, o roteiro opta por uma abordagem simplista, transformando Georgiou em uma caricatura de vilã com um passado trágico.

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Yeoh, uma atriz de talento inegável, parece perdida em meio ao caos narrativo. Sua personagem, que poderia ser uma figura complexa e multifacetada, acaba sendo reduzido a uma série de poses dramáticas e frases de efeito. A trama a coloca no centro de uma missão para recuperar um dispositivo misterioso, mas a jornada é tão genérica que é difícil se importar com o resultado.

Os demais personagens são ainda mais esquecíveis. Omari Hardwick interpreta Alok, o líder da equipe da Seção 31, mas sua atuação é tão plana quanto o roteiro que ele recebeu. Os outros membros do grupo são arquétipos descartáveis: o hacker rebelde, o cientista nerd, o soldado durão. Nenhum deles ganha desenvolvimento ou motivações convincentes, o que torna impossível criar qualquer conexão emocional com o público.

Tenta demais, acerta pouco

Olatunde Osunsanmi, que dirigiu alguns dos melhores episódios de Discovery, parece ter perdido completamente o rumo em Seção 31. Sua direção é uma sucessão de escolhas estranhas e desnecessárias, como zoom-ins dramáticos e movimentos de câmera que mais causam náusea do que tensão. Em vez de criar uma atmosfera coesa, ele opta por uma estética caótica que mais atrapalha do que ajuda.

Os efeitos visuais, que poderiam ser um ponto forte em uma produção de Star Trek, também decepcionam. As cenas de ação são mal coreografadas e cheias de cortes rápidos, dificultando a compreensão do que está acontecendo. As naves espaciais, que costumavam ser um símbolo de grandiosidade na franquia, aqui parecem modelos de brinquedo mal renderizados.

Crítica | Star Trek: Seção 31 é um filme que tenta ser tudo e não é nada
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Mas se há algo que afunda Seção 31 de vez, é o roteiro de Craig Sweeny. A história é uma colagem de clichês de filmes de espionagem e ficção científica, sem qualquer originalidade ou profundidade. Os diálogos são especialmente dolorosos, com piadas que não funcionam e tentativas de drama que soam artificiais justamente por não existir nenhuma coesão entre os momentos leves e a tentativa de momentos densos.

O filme tenta equilibrar humor e ação, mas falha miseravelmente em ambos. As cenas cômicas são forçadas e sem graça, enquanto as sequências de ação carecem de emoção e impacto. Em um momento, temos uma criança cometendo um ato horrível; no seguinte, uma cena de humor pastelão. A falta de consistência tonal é tão gritante que chega a ser difícil acreditar que o mesmo diretor e roteirista estiveram envolvidos do início ao fim.

Onde está o coração de Star Trek?

O maior pecado de Seção 31 não é ser um filme ruim — é ser um filme ruim de Star Trek. A franquia sempre foi conhecida por sua capacidade de misturar aventura espacial com reflexões sobre a condição humana. Aqui, não há nada disso. A mensagem de esperança e união que define Star Trek é substituída por um cinismo vazio e uma narrativa que não tem nada a dizer.

Até mesmo a estética do filme parece desconectada do universo de Star Trek. Os figurinos, embora bem-feitos, são excessivamente extravagantes e não combinam com o tom supostamente sombrio da história. A trilha sonora, que poderia ser um ponto alto, é genérica e esquecível.

Crítica | Star Trek: Seção 31 é um filme que tenta ser tudo e não é nada
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Uma oportunidade perdida

O que mais dói em Seção 31 é o desperdício de potencial. A ideia de um filme focado na Seção 31, com Michelle Yeoh no papel principal, poderia ter sido uma adição interessante ao universo. Em vez disso, temos uma produção que parece mais um piloto rejeitado de uma série do que um filme digno da franquia.

O filme também representa uma oportunidade perdida de atrair novos fãs. Com Yeoh, uma estrela de Hollywood de primeira grandeza, Seção 31 poderia ter sido uma porta de entrada para o universo. No entanto, é difícil imaginar alguém assistindo a isso e querendo explorar mais.

No início desta análise, eu mencionei minha relação de amor e desilusão com Star Trek. O filme é, infelizmente, um exemplo perfeito de como a franquia pode perder seu rumo. O filme não só falha em capturar a essência de Star Trek, como também parece desinteressado em tentar.

Espero que isso seja apenas um deslize em uma jornada que já nos deu tantas obras memoráveis. Mas, por enquanto, Seção 31 serve como um lembrete doloroso de que nem tudo que brilha no universo de Star Trek é ouro. E, às vezes, é melhor deixar algumas portas fechadas — ou, no caso, algumas seções secretas no esquecimento.

Star Trek: Seção 31 está disponível no Paramount+.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.