Tássia Reis sorrindo em foto de divulgação.
Tássia Reis lança seu quinto álbum, "Topo da Minha Cabeça". José de Holanda/Divulgação.

Crítica | Tássia Reis esbanja versatilidade e criatividade em ‘Topo da Minha Cabeça’

Muita coisa se passou desde que Tássia Reis lançou “Próspera” (2019). De lá pra cá ela colaborou com uma diversidade de artistas, lançou um remix do álbum igualmente elogiado e homenageou Alcione em apresentação para o programa “Versões”, do canal BIS. Todas essas experiências acabam refletindo em “Topo da Minha Cabeça”, seu mais novo álbum.

A cantora e compositora de 35 anos começou sua trajetória artística em 2014, ainda identificada primordialmente com o hip-hop. Com o passar dos anos Tássia foi ampliando cada vez mais esse espectro, incorporando para sua musicalidade a Soul Music, o jazz, o r&b e agora, o samba entra de vez na equação.

“Topo da Minha Cabeça” traz a artista paulistana em uma sonoridade madura que se destaca pela versatilidade e a transição entre gêneros feita de maneira bem fluida, mantendo a obra muito coesa e sempre apresentando caminhos interessantes e fora do óbvio.

Ao longo das 10 faixas com produção musical de Barba Negra, EVEHIVE, Felipe Pizzu, Fejuca e Kiko Dinucci, Tássia Reis vai destrinchando reflexões sobre si mesma, suas vivências e celebra suas raízes negras tendo o samba como base para se conectar com uma sonoridade afrofuturista.

Versatilidade e experimentação

Tássia Reis em um fundo azul na capa de "Topo d Minha Cabeça".
Capa de “Topo da Minha Cabeça”, de Tássia Reis. Divulgação.

A faixa-título abre a obra com um clima jazzsistíco em que a cantora versa sobre se conhecer e se entender do topo da cabeça até o pé. Em seguida vem “Brecha”, um samba introspectivo que fala sobre a luta das mulheres negras e periféricas para serem reconhecidas e ouvidas. “Asfalto Selvagem” segue como um relato bastante honesto sobre a realidade negra nas periferias.

“Nós Vestimos Branco” mistura samba com funk para celebrar as religiões de matriz africana e ao mesmo tempo fazer um manifesto pelo respeito a liberdade de crença. “Tão Crazy” e “Só Um Tempo” são excelentes colaborações respectivamente com Theodoro Nagô e Criolo.

“Sol Maior” é a faixa que mais se aproxima da tradição do samba e ainda evoca Djavan. “Previsível” é uma das músicas mais surpreendentes do álbum, um indie pop psicodélico que mostra Tássia desenvolta em um outro contexto.

Em “Rude” ela volta para as origens no rap para afirmar sua própria personalidade e com colaboração do DJ e produtor carioca EveHive. “Oficio de Cantante” encerra o álbum como um resumo de todo a proposta apresentada e uma reflexão da artista sobre sua relação com a profissão e a arte.

Tássia Reis apresenta um trabalho maduro e altamente criativo em “Topo da Minha Cabeça”. Dialogando com vários gêneros e ritmos com habilidade, tendo o samba como uma espinha dorsal, a artista segue como um dos nomes mais interessantes e instigantes da música brasileira, se mantendo muito autêntica.

Leia também