Na noite do último domingo (25), foi ao ar o aguardado sétimo e último episódio da segunda temporada de The Last of Us. A segunda parte da história contada por Neil Druckman e Craig Mazin por meio da HBO se encerra bem longe de atingir o ápice esperado pelo público, mas deixa esperança de um futuro melhor em sua continuação.
Ellie despertou, mas segue mal aproveitada na série
Após o empolgante final do quinto episódio, um alerta ressoou em minha mente ao saber do que trataria o sexto – o flashback de Ellie (Bella Ramsey) e Joel (Pedro Pascal): “legal, eu queria isso, mas será mesmo esse o melhor momento?”; meu medo era de que a série voltasse a cair no recorrente e irritante erro de abaixar demais o ritmo logo após um episódio de ação e desenrolar da trama. Isso de fato ocorreu.
No entanto, o episódio seis foi uma verdadeira obra de arte dentro do que se propôs a fazer e, caso servisse como um bom plano de fundo para um fim de temporada frenético e épico isso não seria um problema. Realmente os acontecimentos do flashback foram importantes para justificar atitudes de Ellie no sétimo episódio, mas as consequências não foram as que eu esperava. Ellie enfim despertou seu desejo de vingança, o que ficou bem claro no interessante diálogo com Jessie (Young Mazino) e na decisão de seguir até o local onde talvez encontrasse Abby (Kaitlyn Dever), mas a Ellie de agora segue menos interessante até mesmo do que suas versões do flashback no últimos episódio.

Isso, porém, está longe de ser um problema de interpretação de Bella Ramsey, que merecia uma Ellie muito mais feroz e inteligente e que, quando permitido, mostra em cena o ódio que queremos ver e transparece no olhar os sentimentos necessários para nos manter próximos de sua personagem. Porém, as mentes responsáveis pela série parecem perdidas em um limbo de fazer algo totalmente diferente do material original com a protagonista ou manter algo mais próximo do jogo em suas ações, falhando em qualquer um dos dois cenários.
Infelizmente, tudo isso apenas atrapalha o trabalho da atriz e temo até mesmo que afete suas chances em premiações futuras. Definitivamente, Bella Ramsey brilhou nesta temporada, mas não teve oportunidade de demonstrar todo o seu talento na pele de Ellie.

Muita confusão, nenhum infectado
Em meio a altos e baixos – bem mais baixos do que altos – o episódio final da segunda temporada de The Last of Us se desenrola de maneira confusa, parecendo correr contra o tempo até mesmo em seus momentos de pausa, visando assim fechar este ciclo na cena desejada.
Enquanto aguardávamos ação, vimos uma tentativa desnecessária de aprofundar um personagem que morreria ainda no fim do episódio de maneira tão banal e conveniente para o desenrolar da trama, tudo isso enquanto Ellie segue se envolvendo em situações de risco sem passar qualquer tipo de confiança de que pode lidar com elas, mesmo após matar no quinto episódio um dos integrantes do grupo que tanto procurava. Até mesmo quando encontra mais dois de seus alvos e tem a chance de demonstrar todo o ódio e frieza que adquiriu, vemos uma Ellie emocionalmente quebrada de forma até convincente, mas o desfecho da cena causa apenas frustração e sequer atinge o grau de reflexão que se propõe. No fim, Ellie novamente precisa receber o suporte de terceiros, no caso a chegada de Tommy (Gabriel Luna) e Jessie, ou ficaria estagnada no chão até alguém chegar no local e mata-la.
Vale destacar ainda que, se já não bastasse tantos eventos se desenrolando de forma acelerada e vazia, os produtores decidem inserir um momento que pensaram inicialmente para o jogo, mas que foi cortado até mesmo dele – e por algum motivo acharam fazer sentido trazê-lo para adaptação de TV, onde o tempo é ainda mais curto. Nele, Ellie é jogada no mar e já conta inicialmente com a sorte para chegar viva em terra firme, bem ao lado de seu barco. Ela dá de cara com os Serafitas, que a prendem para execução e, novamente pelo acaso, ela se salva da morte e volta para o barco, sem qualquer tipo de mérito próprio e sequer reflete sobre seguir ou não em frente, já que poderia ter passado dessa para uma melhor. Mais um momento que apenas enfraquece Ellie na adaptação e nos faz perder o interesse na mesma, uma cena que só “enche linguiça” e sequer cumpre seu papel de tensão, servindo apenas para ligar os pontos do conflito entre os Lobos e os Serafitas – que também foi inserido na série de forma que pouco me interessou até então, devo confessar; mais um ponto da trama que possuía muito potencial, mas que foi mal aproveitado nesta temporada.

Tudo isso sem a aparição de um infectado sequer. Eu entendo que o objetivo da série é mostrar que eles não são o maior perigo e sim os humanos, porém é extremamente frustrante ter dois episódios seguidos sem confrontos com infectados em um mundo pós-apocalíptico causado por um “fungo zumbi”, principalmente quando se trata de uma adaptação de um jogo repleto deles. Desabafando aqui: já está me cansando reclamar disso e me entristece ver que os infectados muito provavelmente seguirão escanteados, mesmo que os momentos de suas aparições sejam os mais interessantes da série. Esse é, sem dúvidas, o motivo de maior decepção pessoal minha com a participação de Neil Druckman na série de TV, visto que ele deveria ser o responsável por presar pela aparição das criaturas que criou em seu material original.
Abby deve roubar o protagonismo, mas não gera a expectativa esperada
Por fim, o melhor momento do episódio final é justamente o último, que nos traz um pouco de esperança – ao menos a quem conhece um pouco ou já mergulhou no material original. Após os acontecimentos no teatro, somos levados para o passado de Abby, justamente no primeiro dia da chegada de Ellie a Seattle; vemos o antológico estádio presente no game, além de a câmera por trás da personagem de Kaitlyn Dever nos remeter diretamente aos momentos no controle de Abby no jogo. Chegou o momento da antagonista se tornar protagonista e teremos outro olhar importante para a trama.
No entanto, me pergunto se isso realmente gerará a expectativa que os produtores esperam, visto que quem passou pelo material original não anda muito mais empolgado com a adaptação em sua maioria e quem não teve qualquer envolvimento anterior não possui apreço por Abby – muito pelo contrário – e pode sentir até mesmo revolta pela decisão, querendo ver mais de Ellie e o que acontecerá com a mesma e não flashbacks protagonizados pela responsável pela morte de Joel. Bem, como a HBO e os envolvidos com a obra lidarão e tirarão proveito disso apenas o tempo dirá.

Ainda não há uma data oficial de retorno, mas não devemos ter a terceira temporada de The Last of Us antes de 2027. Até lá, espero que os produtores se atentem aos feedbacks e tragam mais ação, emoção e não cometam com Abby e principalmente com Kaitlyn Dever os mesmos erros que cometeram com Ellie e Bella Ramsey até aqui.
Leia as outras críticas da temporada:
- The Last of Us 2×1: Dias Futuros é monótono, mas cumpre o seu papel
- The Last of Us – 2×2: O peso da morte e do caos
- The Last of Us – 2×3: O luto é palpável – até demais
- The Last of Us – 2×4: A religião, as milícias e a arte sobrevivem a qualquer apocalipse
- The Last of Us – 2×5: Enfim o despertar de Ellie
- The Last of Us – 2×6: Uma reflexão sobre a paternidade e o perdão
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