Zé Manoel na capa do seu novo álbum 'Coral'.
Zé Manoel para o seu novo álbum, 'Coral'. Wendel Assis com direção artística de Gil Alves e design de Thaís Amorim.

Crítica | Zé Manoel celebra a ancestralidade e a cultura popular em ‘Coral’

Depois de apresentar um dos melhores álbuns de 2020, “Do Meu Coração Nu”, Zé Manoel está de volta com “Coral”. Em seu mais novo projeto o cantor e compositor pernambucano retoma o diálogo entre a ancestralidade africana com a musicalidade norte-americana, com a adição de referências a cultura popular nordestina.

Ao longo das 11 faixas que contam com a produção e direção musical de Bruno Morais, o projeto vai se revelando mais suave em relação ao anterior, mas não menos belo. Aqui, Zé Manoel parte para uma perspectiva mais otimista e esperançosa, mais focado em celebrar a cultura negra popular brasileira.

Legado e colaborações

Zé Manoel na capa do seu novo álbum 'Coral'.
Capa de ‘Coral’, novo álbum de Zé Manoel. Wendel Assis com direção artística de Gil Alves e design de Thaís Amorim.

O álbum inicia de uma maneira surpreendente. “Golden”, faixa de abertura, é toda interpretada por Gabriela Riley cantando em inglês e acompanhada pelo piano de Zé Manoel. A música já estabelece o clima jazzístico que vai permear todo o álbum e encanta pela delicadeza do arranjo e dos vocais.

O artista titular só aparece cantando na faixa seguinte, “Canção de Amor Para Johnny Alf”, tributo ao artista gay e negro que é peça fundamental no surgimento da boça nova, sendo considerado por muitos o verdadeiro pai do gênero, mas que acabou sendo negligenciado com o passar dos anos. A canção caminha na direção da soul music, mantendo uma brasilidade bastante presente.

“Iyá Mesan” começa a imersão pela musicalidade afro-brasileira mantendo a suavidade e a delicadeza, com a colaboração de Alessandra leão, tanto na composição, quanto na gravação. “Above the Sky” retoma o diálogo com o jazz e o soul em uma balada romântica que tem cara de trilha sonora de novela.

Luedji Luna, amiga e parceira de Zé Manoel desde “Não Negue Ternura”, aparece em “Coral” em dois momentos: no interlúdio “Lubi Prates” e em “Malaika” , um bonito dueto entre os dois artistas que deixa evidente a afinidade e cumplicidade existente entre eles. “Deságuo Para Emergir” é o momento mais introspectivo do álbum e que flerta com uma melancolia.

“Menina Preta de Cocar” traz o legado indígena para a obra mesclado com cultura popular popular pernambucana. A faixa-título é um dos momentos mais lindos do álbum e remete a Dorival Caymmi, o qual o autor viu em sonho cantando a música. “Siriri [Citação Siriri-Sirirá]” encerra o projeto com o justo resgate da canção do compositor pernambucano Onildo Almeida, interpretada originalmente por Marinês (1935 – 2007).

Em “Coral” Zé Manoel faz um belo diálogo entre raízes brasileiras e a contemporaneidade, permeado por uma leveza tanto temática quanto sonora. Um registro primoroso que conquista pela delicadeza e beleza tanto das interpretações quanto dos arranjos, além de reiterar o artista pernambucano como um dos grandes compositores da MPB hoje.

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