Em um ano marcado por uma diversidade sonora que atravessa fronteiras e estilos, a redação do Conecta Geek selecionou os melhores discos de 2024, trazendo uma lista que mistura talentos emergentes e nomes consagrados da música, tanto no cenário brasileiro quanto internacional. De produções intimistas e autorais a grandes lançamentos de artistas globais, o nosso ranking é uma celebração das músicas que marcaram o ano, conectando culturas e ampliando horizontes. Confira:
Melhor disco nacional
Caju – Liniker | Rafael Lima
Em Caju, Liniker vai além do que a gente poderia esperar de um disco de pop brasileiro. Através de uma sonoridade plural, a cantora e compositora mergulha em uma mistura de ritmos que transita entre o soul, o samba, o R&B e até a música eletrônica, criando uma experiência sonora que é ao mesmo tempo refrescante e acolhedora. Cada faixa é uma declaração de autenticidade, onde a vulnerabilidade e o empoderamento se encontram, trazendo à tona a importância da identidade e da aceitação.
Mas não é só a diversidade que faz Caju um álbum tão significativo. Liniker consegue equilibrar a experimentação com um apelo pop que conquista, sem perder a essência que a consagrou como uma das vozes mais relevantes da música brasileira atual. As melodias pegajosas e as letras profundas fazem do disco uma obra acessível e sofisticada, capaz de conquistar desde os fãs mais exigentes até o grande público. O álbum é, sem dúvida, um marco na carreira da artista, reafirmando seu papel como uma das principais referências da música contemporânea.
- Leia a crítica completa: Crítica | Liniker faz pop brasileiro autêntico com excelência em ‘Caju’
Rosa – Samuel Rosa | Sherman Castelo
O cantor e compositor Samuel Rosa se descola da zona de conforto de sua trajetória com o Skank e mergulha em um projeto solo que reflete uma nova fase de sua carreira. O álbum carrega o peso do pop rock, com melodias envolventes e arranjos que lembram o melhor do gênero, mas também apresenta um toque de intimismo que revela um lado mais pessoal e introspectivo do cantor e compositor. Em cada faixa, é possível perceber a busca de Rosa por um som mais orgânico, menos dependente do universo de banda, mostrando uma vulnerabilidade que nunca foi tão exposta em sua trajetória.
Essa transição de uma carreira em grupo para uma experiência solo confere ao disco uma autenticidade única, onde a liberdade criativa se alia à reflexão sobre o tempo, a vida e as relações. Rosa é um disco que faz jus à maturidade de seu autor, ao mesmo tempo em que reconcilia o pop rock com a profundidade de um artista que, por décadas, esteve atrelado ao coletivo. Através de letras mais pessoais e uma sonoridade mais experimental, Samuel Rosa não apenas reafirma seu talento, mas também revela uma nova camada de sua arte.
SALVE-SE! – Bebé Salvego | Carlos Alberto Jr
Bebé Salvego apresenta uma ousadia sonora impressionante, mesmo tão jovem SALVE-SE!marca seu amadurecimento como artista e uma nova fase em sua carreira. O álbum é uma verdadeira exploração musical, que vai do experimental ao pop, com toques de eletrônico e batidas orgânicas. Ao longo das faixas, a cantora brinca com texturas e sons, criando atmosferas densas e imersivas, que surpreendem. A experimentação aqui não é apenas sonora, mas também lírica, com Bebé desafiando normas e abrindo novos caminhos para a música brasileira contemporânea.
Mais do que uma busca por inovação estética, SALVE-SE! é um disco que carrega um conceito profundo, que reflete sobre o processo de auto-descoberta, resistência e superação. Bebé demonstra um amadurecimento raro ao unir seu talento inato com uma visão artística clara e coesa. Ao lançar este álbum, ela não só reafirma sua identidade, mas também coloca seu nome entre as artistas mais promissoras da cena atual.
Melhor disco internacional
Brat – Charli xcx | Rafael Lima
Com Brat, Charli xcx leva seu som a novos limites, consolidando-se como uma das artistas mais audaciosas e autênticas do pop contemporâneo. Inspirado pelas raves de sua adolescência, o álbum mistura eletrônica underground com pop, criando faixas que são instantaneamente dançáveis e cheias de energia. A produção é frenética e visceral, com múscas convidando o ouvinte a perder-se nas batidas aceleradas e nos sintetizadores distorcidos. No entanto, o álbum também dá espaço para momentos de introspecção, que traz a melancolia de Charli de volta, mas sem perder o espírito de liberdade que marca o trabalho.
O que realmente distingue Brat é sua honestidade brutal. A artista britânica abandona metáforas e lirismos elaborados para cantar sobre temas reais, de maternidade a experiências na noite, sem medo de expor suas contradições. Com uma abordagem descomplicada e longe das expectativas da indústria pop, Charli xcx cria um espaço único, onde não há lugar para o conforto. O álbum não é revolucionário, mas é um reflexo de uma artista que se recusa a seguir regras, optando por ser genuína em sua expressão.
From Zero – Linkin Park | Sherman Castelo
O retorno do Linkin Park com gerou uma mistura de empolgação e controvérsia. Após sete anos desde a morte de Chester Bennington, a banda anunciou Emily Armstrong, vocalista da Dead Sara, como nova integrante. A decisão de substituir Chester foi recebida com ceticismo por muitos. No entanto, Armstrong se revelou mais como uma adição do que uma substituta, trazendo uma energia única ao grupo. A ousadia sonora também se reflete em músicas que desafiam as expectativas do estilo nu-metal que a banda ajudou a consolidar, mantendo, ainda assim, a essência que a tornou tão especial: a interação entre Mike Shinoda com vocais guturais rasgados e os elementos eletrônicos de DJ Mr. Hahn.
From Zero é, sem dúvida, uma reinvenção cautelosa. Embora a formação tenha mudado, com Colin Brittain assumindo o posto de Rob Bourdon nas baquetas e o guitarrista Alex Feder substituindo Brad Delson nos shows, a sonoridade do Linkin Park permanece facilmente reconhecível. A fusão de rap, rock e eletrônica, características da banda, continuam a ser o diferencial dentro do casa vez menor cenário de banas de rock que lotam estádios.
A novidade de Armstrong, que oferece um contraste interessante entre o suave e o agressivo, pode agradar tanto aos fãs de longa data quanto aos novatos, fazendo com que From Zero seja uma reformulação bem-sucedida, sem cair na tentação de se transformar em um simples “cover de si mesma”. O álbum, assim, funciona não apenas como uma homenagem ao legado de Chester, mas também como um passo ousado em direção ao futuro da banda.
- Leia a crítica completa: Crítica | Linkin Park pega o peso do passado e traz uma voz para o futuro em From Zero
The New Sound – Geordie Greep | Carlos Alberto Jr
Geordie Greep, pouco tempo depois de anunciar o hiato do Black Midi, banda na qual era vocalista e guitarrista, deu o pontapé inicial em sua carreira solo de forma audaciosa e criativa. The New Sound mantém algumas semelhanças com o trabalho da banda, revela um Greep mais solto, explorando novas sonoridades e experimentando com sua música de maneira ainda mais descomplicada. As influências vão além do rock progressivo e alcançam a MPB, o jazz e até o pop barroco. A instrumentação, que inclui músicos brasileiros, traz uma cadência rica e rítmica, que mistura samba e tropicália com o experimentalismo que marca o trabalho de Greep.
Liricamente, o álbum apresenta uma abordagem mais íntima e vulnerável, com personagens quebrados e histórias de fracasso, desespero e autoengano. Greep mergulha em narrativas minuciosas e teatrais, explorando a fragilidade e o narcisismo de figuras masculinas de forma mordaz. Musicalmente, ele se afasta do caos total do Black Midi para explorar uma fluidez maior, com momentos de puro experimentalismo. The New Sound é um álbum multifacetado e rico, que se desvia das convenções para criar algo profundamente pessoal e deslumbrante.
Melhor disco de estreia
Pique – Dora Morelenbaum | Rafael Lima
Pique, o aguardado álbum solo de Dora Morelenbaum, é uma obra que se revela aos poucos, com a sofisticação e a delicadeza que marcam sua trajetória. Após sua passagem pelo Bala Desejo, a cantora e compositora carioca entrega um disco de arranjos refinados, com influências do jazz e da música brasileira das décadas de 1970 e 1980, sem pressa, saboreando cada verso e nota. A produção traz uma sonoridade suave e bem delineada mostrando sua habilidade em navegar por temas como o amor e os relacionamentos, sempre com uma abordagem sutil e introspectiva.
Em Pique, Morelenbaum segue sua busca por identidade própria, solidificando sua carreira solo com uma produção que prioriza a beleza dos detalhes e a construção cuidadosa de cada canção. Apesar de algumas escolhas previsíveis, o álbum exibe uma maturidade artística impressionante, com um repertório que, mesmo sutil, é capaz de cativar e emocionar, deixando claro que a cantora está pronta para trilhar seu próprio caminho na música brasileira contemporânea.
- Leia a crítica completa: Crítica | Dora Morelenbaum faz excelente estreia solo com ‘Pique’
Evil War Machine – Crossbone Skully | Sherman Castelo
Evil War Machine, o álbum de estreia de Crossbone Skully, se propõe a ser uma verdadeira viagem intergalática, repleta de influências do rock clássico e uma narrativa épica. Criado por uma equipe de veteranos, o disco combina o espírito do glam rock com o peso de AC/DC e Iron Maiden, além de um toque de irreverência punk. A história gira em torno de Crossbone Skully, um herói de rock e motociclista cósmico, que busca salvar o mundo e se reconectar com seu amor perdido, Piper, e com seu filho desconhecido, Kid. Com participações de lendas como Alice Cooper, Joe Perry e Nikki Sixx, o álbum é uma montanha-russa sonora, passando por hinos de estádio, baladas poderosas e faixas de puro rock ‘n’ roll.
O disco mistura riffs pesados, vocais ardentes e arranjos quadrados, sem vergonha alguma de ser saudosista, capturando a essência do rock clássico. O disco oferece uma experiência única, tanto sonora quanto visual, que promete conquistar os fãs que preferem o clássico à fórmulas e misturas propostas por bandas de rock contemporâneo.
Queda Livre – Caxtrinho | Carlos Alberto Jr
Caxtrinho, nome artístico de Paulo Vitor Castro, traz um olhar afiado e crítico sobre as desigualdades sociais do Rio de Janeiro. O álbum de estreia do artista fluminense mistura crônicas do cotidiano com uma sonoridade que brinca com o samba, o rock psicodélico e elementos do jazz, criando um arranjo experimental e estranhamente agradável. Através de suas letras, ele narra histórias do subúrbio, das dinâmicas caóticas da cidade e das contradições da sociedade carioca. O disco aborda temas como a violência, a luta diária da periferia e uma crítica ácida à branquitude e ao privilégio, sempre com ironia e sagacidade.
O álbum, gravado entre 2021 e 2022 e com colaborações de nomes como Romulo Fróes e Ana Frango Elétrico, é uma verdadeira obra de autor, marcada pela experimentação e pela liberdade criativa. Caxtrinho, que desde cedo se envolveu com a música e se influenciou pelos festivais de pagode da Baixada Fluminense, exibe uma maturidade impressionante em seu trabalho. Com uma produção de vanguarda, Queda Livre mantém o compromisso com o samba e com a crônica social, entregando um disco contemporâneo, de pensamento rápido e crítica afiada, que reflete a natureza inquieta e questionadora do artista.
Leia mais listas de melhores de 2024:
Deixe uma resposta