Thainá Duarte em preparação para Geni e o Zepelim.
Reprodução/Instagram.

Geni e o Zepelim | Escalação de Thainá Duarte para interpretar personagem trans é criticada

O anúncio de Thainá Duarte para interpretar a protagonista de Geni e o Zepelim, adaptação para o cinema da canção de Chico Buarque que está sendo dirigida por Anna Muylaert, foi alvo de críticas nas redes sociais e questionamentos da comunidade LGBTQIA+ por conta da escalação de uma atriz cis para o papel de uma mulher trans.

A música foi composta por Chico para o espetáculo “Ópera do Malandro”, em 1978 e, apesar de ter tido versos censurados, ainda traz indícios de que Geni era uma pessoa trans. Na peça, não há duvidas quanto a identidade de gênero da personagem, tanto que o primeiro ator a dar vida à travesti do Rio de Janeiro que se prostitui para sobreviver e sofre com a transfobia, foi Emiliano Queiroz. No primeiro filme que retratava a trama do musical, de 1985, J.C. Violla encarnou Geni.

Nas redes sociais, várias pessoas da comunidade trans e LGBTQIA+ se manifestaram sobre a escolha de Thainá para o papel. “Triste em saber que no novo filme “Geni e o Zepelim” de Anna Muylaert e a Migdal Filmes escalaram uma atriz cisgênero para interpretar a personagem travesti Geni (uma das personagens trans mais emblemáticas do teatro e da música brasileira). Precisamos continuar atentos e vigilantes com a prática do transfake nas produções artísticas ainda em 2025, mesmo que a equipe esteja cheia de artistas “progressistas” a transfobia velada e estrutural está presente.”, disse a atriz Renata Carvalho, em post no Instagram.

“Eu acho que no Brasil que a gente vive hoje, o debate ser aberto como votação se é certo ter uma pessoa trans ou cis nesse papel ou não, já nos expõe grandemente. O Brasil não é um país acolhedor aos nossos corpos e trajetórias, principalmente se tratando de um protagonismo numa produção audiovisual. Todo respeito ao trabalho de Tainá Duarte, mas quando trazemos a reflexão em nossos textos desde que saiu essa matéria e nos posicionamos pelo apagamento, é por espaço e oportunidade que nos colocamos, por termos atrizes trans que poderiam sim dar vida a essa personagem tão icônica e já retratada tantas vezes como uma pessoa trans em montagens pelo Brasil”, disse a cantora e atriz Liniker.

“Você pode fazer o filme que quiser, mas pondero que essa interpretação serve sim ao apagamento doloroso de mulheres trans. São poucos personagens com esse protagonismo. É uma escolha que fere.”, disse a atriz Camila Pitanga.

Após a repercussão negativa a diretora Anna Muylaert postou um vídeo em seu Instagram no qual afirma que pode repensar a escalação para Geni.

“No processo de criação do filme, entendemos que a letra do Chico e o conto de Guy de Maupassant, ‘Bola de Sebo’ (1880), no qual Chico diz ter se inspirado, poderia ter várias leituras. Poderia ser uma mulher trans, uma mãe solteira, uma carroceira da favela do Moinho, uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade, poderia ser uma floresta atacada diariamente por oportunistas”, falou a diretora. “Por uma questão de lugar de fala, escolhemos fazer uma prostituta cis na Amazônia”, iniciou a atriz que ainda negou que a escalação se tratasse de um transfake: “Não é transfake, a ideia era fazer uma personagem cis mesmo.”

“Diante da reação da comunidade trans, eu quero vir aqui abrir o debate e jogar a pergunta: essa letra do Chico, o mito Geni hoje em 2025 só pode ser interpretada como uma mulher trans? Se toda a sociedade, não apenas a comunidade trans, mas todos os fãs da música, se a gente computar que realmente só podemos interpretar a Geni como trans, a gente vai repensar o filme” completa a cineasta.

Leia também