Love, Death & Robots Vol. 4 | Episódios 1 a 5
Reprodução/Netflix | Colagem: Conecta Geek

Love, Death & Robots Vol. 4 | Episódios 1 a 5

Dentro todas as produções originais da Netflix, Love, Death & Robots sempre foi uma das que mais me chama atenção. Na última semana, a antologia animada retornou com seu 4º volume, mas a experiência é mais esquecível do que impactante. Os quatro primeiros episódios passam como um borrão: uma apresentação de banda, aliens se vingando de humanos, uma mulher em luto em busca de vingança e sobreviventes de uma guerra de gangues enfrentando bebês gigantes

A série, assim como “Nível Secreto”, da Prime Video, (ambas ligadas a Tim Miller), ostenta o rótulo de “animação adulta”, mas frequentemente se resume a violência gratuita e gore pra agradar adolescente. Cada episódio é produzido por um estúdio diferente: Blur Studio (Can’t Stop), Buck (Minicontatos imediatos), AGBO (A outra coisa grande), Luma Pictures ( Gólgota), entre outros. A série funciona como uma vitrine para essas equipes, exibindo estilos variados na esperança de atrair olhares da indústria. É como um portfólio animado, onde cada curta é um pitch criativo. No entanto, a maioria falha em engajar.

Claro, nem tudo é perdido, há pelo menos três boas histórias por aqui. Mas, nesse texto, vou seguir na ordem cronológica.

Can’t Stop

Reprodução/Netflix

Basicamente uma versão animada de uma apresentação ao vivo de “Can’t Stop” do Red Hot Chili Peppers. Dirigido por David Fincher, esse primeiro curta dá o tom desse novo volume da série. Usando maionetes, vemos bunecos tanto emulando os músicos, quanto o público. O vídeo tem um grande apelo popular, afinal, essa é uma das canções mais queridas da banda e a base para a animação é da clássica apresentação do grupo no Slane Castle, em 2003, que aliás, assisti muito, seja apresentações de música que viraram videoclipes na MTV, como, posteriormente, num DVD que tinha na coleção do meu pai.

Usar as cordas das maionetes pode até fazer um paralelo de controle, seja dos artistas para o público ou o inverso, ou talvez como uma banda ainda ativo, como o Red Hot Chili Peppers, está presa pelas cordas a indústria a tocar insessantemente hits antigos como Can’t Stop, mas, sinceramente, isso seria uma interpretação bastante esforçada por tão pouco que é entregue enquanto narrativa. E, particularmente, acho um problema. Se fosse um videoclipe da banda, eu até acharia divertido, agora, como uma curta de uma série antológica, parece deslocado.

O principal interesse nesse curta é o trabalho árduo da montagem e o timming do rítmico, mas nada além do técnico. Quando digo que esse curta dá o tom do novo volume de Love, Death & Robots é que ele, muito mais que os anteriores, tem muito mais forte esse tom de apresentação de portólio, algo que sempre permeou a série, evidentemente, mas aqui, as ideias

Minicontatos Imediatos

Reprodução/Netflix

Uma espécie de continuação não oficial do curta, também do estudio Buck, “A Noite dos Mini Mortos”, do terceiro volume da série. Minicontatos imediatos enquanto uma mostra da execução da técnica de tilt-shift, com aceleração, ela é eficiente, bem como seu trabalho anterior. No entanto, ele tem o tom cómico menos eficiente e narrativo. São duas formas de fim do mundo, mas apenas uma parece mais interessante. Se for assistir um seguido do outro dá a péssima sensação de “mais do mesmo”. Não é ruim, definitivamente, mas bate uma sensação de que se podia ter feito muito mais.

Até mesmo a parte da sátira/homenagem ao cinema, sinto esse humor menos afiado. O anterior usou como base os filmes de zumbi de George Romero, agora a vez são os filmes de ficção científica da década de 50, principalmente “A Guerra dos Mundos” (1953). Ainda é o mesmo estilo de humor, mas ele é menos perspicaz — na verdade, só mais idiota mesmo — e isso fez sentido quando vemos nos créditos que ele foi dirigido pelo Tim Miller, que dirigiu o primeiro filme do Deadpool.

Spider Rose

Love, Death & Robots Vol. 4 | Episódios 1 a 5

Já Spider Rose temos uma proposta mais introspectiva e com muitos signos interessantes. Unindo a arte hiper realista da Blur com uma narrativa metafórica sobre o luto. Esse episódio é outra continuação, dessa vez, de “Enxame” do volume 3. Nele acompanhamos Lydia, agora chamada Spider Rose, que está em processo de luto após perder o amor de sua vida. Ela vive isolada em sua estação especial, que funciona como uma representação de um casulo.

Rose acredita que a única forma de continuar viva é se vingando de quem tirou tudo dela. Mas no meio d uma proce um processo de troca comercial, justamente para comprar uma arma, que Nosey, um bicho alienígena, aparece na sua vida.

É por meio desse episódio que reforço as críticas aos dois episódios anteriores. Em Spider Rose fica evidente que é possível — eu diria que, até mesmo, fundamental — unir execusão técnica e narrativa. O cenário cyberpunk especial e a meio humana e meio máquina da protagonista é muito mais que apenas estilo. Rose, ao ter contato com um ser 100% orgânico começa, inicialmente sem perceber, a se reconctar com a vontade de viver.

Nosey funciona como um objeto transicional para Rose, que na psicologia infantil, funciona como um artifício para a superação de um trauma ou luto. Brinquedos, ursos de pelúcia ou animais de estimação costumam funcionan como essa ponto entre o mundo interno e externo.

Além disso, Nosey também atribui uma outra função simbólica. Ele absorve suas características físicas de quem devora, o que liga justamente com o desfecho do episódio, que é finalizado com Rose finalmente tendo sua vingança, mas o resultado da batalha comprometeu sua estação especial, deixando ela e o seu novo amigo à devira no espaço.

Sem suprimentos, Rose permite ser devorada pelo Nosey. Mais que ter sua vingança, o bichinho a permitiu se sentir viva movamente. Nada mais justo que prolongar a vida do animal que lhe deu sentido ao resto de vida, que ela mesma não estava vivendo.

Os Caras do 400

Love, Death & Robots Vol. 4 | Episódios 1 a 5
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Num um mundo — literalmente — em chamas, acompanhamos os sobreviventes da Última Guerra. A história é simples, mas carrega uma ideia bem interessante, os chamados caras do 400 são representados por bebês gigantes. Pode parecer bobo, mas essa representação tola indica que o mundo está desse jeito porque alguns poucos, mimados e barulhentos, são muito mais poderosos que a grande maioria da população. Um detalhe importante, todos os bebeês são caucasianos.

A resistência, formada por gangues, são todas compostas por pessoas marginalizadas. Latinos, negros e asiáticos. Com traços estilizados, que lembram o excelente “Zima Blue” do primeiro ano dessa antologia — aliás, ambos são do mesmo estúdio —  Os Caras do 400 certamente é o meu episódio preferido do 4º volume da série. Ele é direto, bonito e simbólico. Afinal, quem mais poderia derrotar a tirania desses poucos mimados que controlam o mundo o mundo do jeito que quiser do que as pessoas que eles constantemente vivem em pisar?

A Outra Coisa Grande

Love, Death & Robots Vol. 4 | Episódios 1 a 5
Reprodução/Netflix

No último episódio desse especial — e metade da volume 4 — é mais um episódio que aposta no humor para fazer comentários debochados sobre a humanidade. Ao mesmo tempo que a escrita critica o apego e a acomodação que a tecnologia causa a parte da humanidade, ela não é tão sutil quanto imagina ser.

Narrado pelo gato a ideia é bem divertida de mostrar que ele detesta a humanidade e trata seus donos, na verdade, como seus servos. Seus planos de dominação mundial parece mais um delírio do que algo palpável até um robô chegar na casa de “seus humanos”. Até aqui, tudo bem, mas talvez o maior problema desse episódio se dá pelo mau gosto na representação desses humanos: pessoas gordas, esquerosas, quase animalesca e que se comunicam de forma patética.

Evidentemente existem pessoas assim, mas curiosamente, pelo que foi apresentado no episódio, não temos sequer motivos para que o protagonista nutra tanto ódio por eles. Embora existe uma direção interessante, sobretudo na montagem, para mostrar esses diferentes ponto de vistas, falta substância principalmente em como acontece essa revolução e a conexão de seres que, supostamente, são subjulgados por humanos.

Todos os episódios da série estão disponíveis na Netflix.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.